terça-feira, 30 de junho de 2009

A Busca do Divino no Homem Ocidental ! Parte 7

A religiosidade do homem não-religioso e as novas formas de " religare " a Deus .
Será o homem moderno realmente não-religioso ?
O homem religioso assume um modo de existência específica no mundo , e apesar da diversidade formas histórico-religiosas , este modo específico é sempre reconhecível . Em qualquer contexto histórico , o homo religiosus crê sempre que existe uma realidade absoluta , o sagrado , que transcende este mundo mas que se manifesta neste mundo , e , por este fato , o santifica e o torna real . Crê , além disso , que a vida tem uma origem sagrada e que a existência humana atualiza todas as suas potencialidades na medida em que é religiosa , i.e . , na medida em que participa da realidade .
O homem moderno a-religioso assume uma nova situação existencial : reconhece-se unicamente sujeito agente da história , e recusa todo o apelo à transcendência . Dito por outras palavras , não aceita nenhum modelo de humanidade fora da condição humana , tal qual ela se deixa decifrar nas diversas situações históricas . O Homem faz-se a si próprio , e não consegue fazer-se completamente senão na medida em que se dessacraliza e dessacraliza o mundo . O sagrado é o obstáculo por excelência diante da sua liberdade . O homem só se tornará ele próprio no momento em que tiver matado o seu último Deus .
No entanto , o homem moderno descende do homo religiosus , e queira-o ou não , é também um resultado das situações assumidas pelos antepassados . Assim como a Natureza é o produto de uma secularização progressiva do Cosmos obra de Deus , assim o homem profano é o resultado de uma dessacralização da existência humana . Mas isto quer dizer que o homem a-religioso se constitui por oposição ao seu predecessor , esforçando-se por se " esvaziar " de toda a religiosidade e de toda a significação trans-humana . Reconhece-se a si próprio na medida em que se liberta e se purifica das " superstições " dos seus antepassados .
Por outras palavras , o homem profano , queira-o ou não , conserva ainda os vestígios do comportamento do homem religioso , mas esvaziado das significações religiosas . Faça o que fizer , é um herdeiro . Não pode abolir definitivamente o seu passado , porque ele próprio é o produto desse passado .
Para dispor de um mundo para si , dessacralizou o mundo em que os seus antepassados viviam mas para chegar aí , foi obrigado a tomar o inverso de um comportamento que o precedia , e este comportamento sente-o ele sempre , sob uma forma ou outra , prestes a reatualizar-se no mais profundo do seu ser .
A maioria dos homens modernos ainda se comporta religiosamente , se bem que não esteja consciente desse fato . Não se trata somente da massa das " superstições " ou dos " tabus " do homem moderno , que têm todos uma estrutura e uma origem mágico-religiosas .
O homem moderno que se pretende não-religioso dipõe ainda de toda uma mitologia camuflada e de numerosos ritualismos degradados ( festejos de ano novo , inauguração de uma casa , se bem que laicizados , têm a estrutura de um ritual de renovação ; festas e alegrias que acompanham um casamento ou o nascimento de uma criança , a obtenção de um novo emprego ou de uma subida na escala social , etc . )
Os mitos do homem moderno estão camuflados nos espetáculos que ele prefere , nos livros que ele lê . Até a leitura comporta uma função mitológica , ao permitir a " saída do tempo " comparável à efetuada pelos mitos , projetando-o fora do seu tempo pessoal e integrando-o noutros ritmos , fazendo-o viver uma outra " história " .
A grande maioria dos " homens sem religião " não está , em rigor , liberta dos comportamentos religiosos , das teologias e das mitologias . Por exemplo , o nudismo ou os movimentos a favor da liberdade sexual absoluta , são ideologias onde é possível decifrar os vestígios da " nostalgia do paraíso " , o desejo de reintegrar o estado edénico de antes da queda onde o pecado não existia e não havia ruptura entre as beatitudes da carne e a consciência .
Persistem ainda diversas encenações iniciáticas em numerosas ações e gestos do homem não-religioso dos nossos dias . Mesmo técnicas especificamente modernas , como a psicanálise , mantêm ainda o padrão iniciático . O paciente é convidado a descer muito profundamente em si mesmo , a fazer reviver o seu passado , a afrontar de novo os seus traumatismos e - , do ponto de vista formal , esta operação perigosa assemelha-se às descidas iniciáticas aos " infernos " , entre os espectros , e aos combates com os " monstros " . Assim como o iniciado devia " morrer " e " resuscitar " para poder aceder a uma existência plenamente responsável e aberta aos valores espirituais - a análise dos nossos dias deve afrontar o seu próprio " inconsciente " , assediado de espectros e de monstros , para encontrar nisso a saúde e a integridade psíquicas , e por consequência , o mundo de valores culturais .

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