terça-feira, 30 de junho de 2009

A Busca do Divino no Homem Ocidental ! Parte 4

Nas sociedades tradicionais , encontramos sempre a presença de uma narrativa das origens , que tanto atribui um lugar e uma explicação à experiência histórica e contingente como dita a sua forma de organização . São estes mitos fundadores que asseguram às mudanças coerência e inteligibilidade .
Nas sociedades ocidentais , as narrativas das origens que desde sempre serviram de quadro à estruturação de percepção do cosmos e da vida coletiva são os mitos judaico-cristãos da criação .
As versões bíblicas da criação do mundo , assim como as versões eclécticas dos mitos indo-europeus que nos chegam através dos mitólogos gregos , nomeadamente Homero , Hesíodo , e os autores pré-socráticos , formam a herança mitológica que estrutura o nosso imaginário .
A partir do século XVII , o contacto dos povos europes com outras culturas , nomeadamente asiáticas , africana e ameríndias , reforçou o processo de desencantamento característico da nossa modernidade . A Antrolopologia e a Etnologia têm posto em relevo que para além da natureza multifacetada do mosaico das culturas e da relativa convergência da lógica que preside às suas representações míticas , todas as culturas estabelecem um princípio demiúrgico ou divino a partir do qual um quadro estável preside ao desenrolar histórico da experiência contingente da vida humana com as suas múltiplas dimensões e os seus diversos domínios .
A consciência da diversidade dos mitos das origens , das teogonias , é em grande parte responsável pela relativização moderna do fundamento religioso da experiência .
O desencantamento é o processo através do qual a razão humana procura indagar os mistérios do mundo da experiência , tanto individual como coletiva , e aspira a um questionamento autónomo em relação às razões que o quadro mítico lhe oferece , instituindo-se , assim a razão humana em sujeito de saber e de fazer independente do Númen da Palavra mágica originária .
E este processo de desencantamento que fundamenta a secularização observada como atitude nas mais diversas formas de sociedade . Traduz-se , nomeadamente , na emergência de uma nova modalidade de racionalidade , a razão iluminista , enquanto princípio imanente do conhecimento , da acção e da linguagem . A constratar com a lógica religiosa , a lógica da secularização moderna fundamentada na indagação autónoma da razão humana - , esvazia os ritos sociais da sua referência transcendente de legitimação e da consequente estabilidade das normas , para em seu lugar instaurar a experimentação , a observação e o cálculo como modalidade legitimadoras do saber , da acção e da linguagem . A própria necessidade de legitimar é fonte de instabilidade .
A razão humana está , por isso , reservada doravante já não apenas a escuta e a interpretação de uma Palavra transcendente , do Verbo bíblico ao Logos Grego , como processo fundador da legitimidade , mas o recorte de um lugar particular a partir do qual se possa instaurar como sujeito autónomo . É a identidade deste sujeito autónomo que se torna problemática , instável , processo de realização nunca acabado definitivamente na modernidade .
E neste quadro moderno que se assiste à promoção de categoria de sujeito , autonomizado em relação a uma identidade fixa e institucionalmente marcada de maneira definitiva e indiscutível .
Mas no próprio processo da sua produção , o sujeito esvazia-se de qualquer conteúdo substantivo e concreto , relegando-o para um destino movediço e flutuante , nómada , o de um duplo sem modelo fixo . Nasce assim o problema da Identidade . Quem sou eu , agora que já não tenho um " deus " que me diga quem devo ser ?

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