terça-feira, 30 de junho de 2009

A Busca do Divino no Homem Ocidental ! Parte 1

O Homem moderno vive um drama : Matou um Deus que lhe faz falta .
" O ocultismo experimenta actualmente um renacismento sem precedentes , quase obscurecendo a luz do espírito ocidental . Não penso em nossas academias e seus representantes . Sou médico e lido com pessoas simples . Sei , por isso , que as universidades não são mais fonte de conhecimento . As pessoas estão cansadas de especialização científica e do intelectualismo racional. Eles querem ouvir a verdade que não limite , mas amplie ; que não obscureça , mas ilumine ; que não escorra como água , mas que penetre até aos ossos . " C . G . Jung
A tese central deste texto é a reiteração de uma idéia históricamente recente , mas já mil vezes formulada , por mil agentes diferentes , em milhares de contextos diferentes , servindo interesses diferentes e muitas vezes contraditórios : o homem das sociedades ocidentais modernas perdeu a conexão com o sagrado e precisa de novas referências espirituais . Precisa de novos valores .
Precisa de um novo Verbo que funde ontologicamente o seu lugar no mundo . Precisa de redescobrir os porquê , os como , os para quê ; precisa de redescobrir (ou relembrar ) as respostas às eternas perguntas que ao longo da história têm servido de ponto de partida , e fundamento , a toda a interrogação metafísica : Quem sou eu ? De onde venho ? Para onde vou ? O que posso esperar ? O que devo fazer ? Qual é o sentido da vida ? - porque , afinal , essas são inquietações comuns a todos os homens sem excepção , de todos os tempos e lugares . Dir-se-ia mesmo que correspondem , mais do que a uma inquietação , a uma necessidade profunda e intrinsecamente humana . Daí a sua intemporalidade - e a sua recuperação - numa época histórica em que valores , consciências e visões do mundo estão em crise profunda .
Esta necessidade assumiu , nas sociedades tradicionais , a forma de uma modalidade religiosa da existência humana . A história das religiões , desde a mais primitiva até a mais elaborada , é composta por diversas manifestações de realidades sagradas , aquilo que Mircea Eliade denomina de " hierofanias " ; manifestações de algo de " ordem diferente " - de uma realidade que não pertence ao nosso mundo - em objectos que fazem parte integrante do nosso mundo " natural " , " profano " .
Para o homem religioso das sociedades tradicionais , toda a Natureza é susceptível de se revelar como sacralidade cósmica . O cosmo na sua totalidade se pode tornar uma hierofania . O homem das sociedades arcaicas tem a tendência para viver o mais possível no sagrado ou muito perto dos objectos consagrados , " em contacto " com o sagrado , num estado de eterno " encantamento " que pauta a sua relação com o mundo à sua volta e consigo próprio .
Para os " primitivos " , o sagrado equivale ao poder , e portanto à realidade por excelência . O sagrado está saturado de ser , pois significa ao mesmo tempo realidade , perenidade e eficácia . O sagrado funda ontologicamente o real : atribui um lugar e uma explicação à experiência humana histórica e contingente , e dita a sua forma de organização . E é a esta luz que são lidas as próprias mudanças que ocorrem no desenrolar factual dos acontecimentos , assegurando-lhes , assim , coerência e inteligibilidade .
O homem moderno vive , em contrapartida , num mundo dessacralizado , e sente por isso uma dificuldade cada vez maior em reencontrar as dimensões existenciais do homem religioso das sociedades arcaicas . O homem moderno não tem como fundar e ligitimar o seu lugar no mundo , um topos a partir do qual as suas acções possam ser legítimas , significativas , eficazes - numa palavra , reais .
O homem moderno precisa de fundar a sua experiência em algo que a legitime , a oriente e lhe confira sentido . Se não se reconhecem valores transcendentes , que sirvam de instância fundadora à existência humana na sua múltipla e complexa variedade de níveis , domínios e actividades , torna-se impossível qualquer estrutura axiológica e cai-se no relativismo de valores : se não há uma direcção " certa " para a acção ( i.e.,que seja ditada por uma instância superior ao subjectivismo do homem ) , qualquer direcção é boa ou , pelo menos , qualquer direcção " serve " . Se não há um lugar atribuído ao homem por uma instância transcendente , que lugar vai ele ocupar ?
Tentar resolver este dualismo pelo intelecto e pelo uso da razão ( e é essa a principal razão da crise de valores do homem moderno ) não conduz a lado nenhum . Não existe tal coisa como um homem puramente racional ; o que existe , quando muito , é a parte racional de um homem que é também o seu instinto e o seu inconsciente , a parte de si que ainda não veio à consciência e que por isso permanece " enterrada " nas suas profundezas , sem ter como integrar a parte racional do homem , - influenciando-a , no entanto , sem se deixar revelar .


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