segunda-feira, 2 de novembro de 2015

" OS UPANISHADS "

Sopro Vital do Eterno 

ISHA 
A Vida no mundo e a vida no espírito não são incompatíveis . O trabalho , ou a ação , não é contrário ao conhecimento de Deus , porém , na verdade , se realizado sem apego , é um instrumento para ele . Por outro lado , a renúncia significa renúncia do ego , do egoísmo - não da vida . A finalidade , tanto do trabalho como da renúncia , é conhecer o Eu interiormente e Brahman exteriormente , e perceber sua identidade . O Eu é Brahman , e Brahman é tudo .


ISHA
Preenchidas totalmente com Brahman estão as coisas que vemos,
Preenchidas totalmente com Brahman estão as coisas que não vemos ,
De Brahman flui tudo o que existe :
De Brahman , tudo - todavia , ele ainda é o mesmo ,
OM . . . Paz -paz -paz .

NO CORAÇÃO de todas as coisas , de tudo o que existe no Universo , habita Deus . Somente ele é realidade . Portanto , renunciando às vãs aparências , rejubilai-vos nele . Não cobiceis a riqueza de ninguém .
Bem pode ficar satisfeito de viver cem anos aquele que age sem apego - que realiza seu trabalho com zelo , porém sem desejo , não ansiando por seus frutos - ele , e somente ele.
Existem mundos sem sóis , cobertos pela escuridão . Para esses mundos vão depois da morte os ignorantes , assassinos do Eu .
O Eu é um só . Sendo imóvel , ele se move mais rápido do que o pensamento . Os sentidos não o alcançam , pois ele sempre vai primeiro .
Permanecendo imóvel , ultrapassa tudo o que corre . Sem o Eu , não há vida .
Para o ignorante , o Eu parece mover-se - embora ele não se move .
Ele está muito distante do ignorante - embora esteja próximo . Ele está dentro de tudo e está fora de tudo .
Aquele que vê todos os seres no Eu , e o Eu em todos os seres , não odeia ninguém .
Para a alma iluminada , o Eu é tudo . Para aquele que vê harmonia em todos os lugares , como pode haver ilusão ou pesar ?
O Eu está em todos os lugares . Ele é brilhante , imaterial , sem mácula de imperfeição , sem osso , sem carne , puro , intocado pelo mal . Aquele que vê , Aquele que pensa , Aquele que está acima de tudo , o Auto-Existente - ele é aquele que estabeleceu a ordem perfeita entre objetos e seres desde o tempo que não tem princípio .
À escuridão estão destinados os que se dedicam apenas à vida no mundo , e a uma escuridão ainda maior os que entregam apenas à meditação .
Viver somente no mundo leva a um resultado , meditar apenas leva a outro . Assim falaram os sábios .
Aqueles que se dedicam tanto à vida no mundo como à meditação superam a morte através da vida no mundo e atingem a imortalidade através da meditação .
À escuridão estão destinados os que cultuam somente o corpo , e a uma escuridão ainda maior os que veneram apenas o espírito .
Cultuar somente o corpo leva a um resultado , venerar apenas o espírito leva a outro . Assim falaram os sábios .
Os que veneram tanto o corpo como o espírito , pelo corpo vencem a morte , e pelo espírito atingem a imortalidade .
A face da verdade está oculta por vosso orbe dourado , ó Sol . Removei-o para que Eu ,  que sou dedicado à verdade , possa contemplar a sua glória .
Ó vós que alimentais , o único que vê , o que tudo controla - Ó Sol que ilumina , fonte de vida para todas as criaturas - retende a vossa luz , reuni os vossos raios . Possa Eu contemplar através da vossa graça a vossa forma mais abençoada . O Ser que aí habita - mesmo esse Ser sou Eu .
Permiti que minha vida agora se una à vida que tudo permeia .
As cinzas são o fim do meu corpo . OM . . . Ó mente , lembrai-vos de Brahman . Ó mente , lembrai-vos das vossas ações passadas . Lembrai-vos de Brahman . Lembrai-vos das vossas ações passadas .

1. Em sâncrito , este verso e os cinco precedentes são extremamente obscuros . Os comentaristas os explicam de diversas maneiras , e não muito claramente .
2. Neste verso , o Sol simboliza o Eu , ou Brahman , como é comum nos Vedas .
O orbe dourado , bem como os raios e a luz , do verso seguinte , é Maya , o mundo da aparência .
Ó deus Agni , levai-nos à felicidade . Vós conheceis nossas ações .
Preservai-nos da ilusória atração do pecado . A vós oferecemos nossas saudações , uma e outra vez 
{ Este verso e o precedente constituem uma oração que é pronunciada no momento da morte . Ainda hoje são empregados pelos hindus nos seus rituais fúnebres . A mente é aconselhada a se lembrar de suas ações passadas porque são essas ações que acompanham a alma que parte e determinam a natureza da encarnação seguinte . Como a cremação envolve o fogo , é natural que seja dirigida pelo deus do fogo , Agni . O deus é invocado aqui na sua própria personalidade e também como um símbolo de Brahman . }

Kena 
O poder que está por trás de todas as atividades 
da Natureza e do homem é o poder de Brahman .
Perceber essa verdade é tornar-se imortal .  

Kena 
Que a quietude desça sobre meus membros ,
Minha fala , meu fôlego , meus olhos , meus ouvidos ;
Que todos os meus sentidos se tornem claros e fortes .
Que Brahman se mostre a mim .
Que eu jamais negue Brahman , e nem Brahman a mim .
Eu com ele e ele comigo - possamos morar sempre juntos .

Que seja velada a mim , 
Que sou dedicado a Brahamn ,
A sagrada verdade dos Upanishads .
OM . . . Paz - paz - paz .

QUEM COMANDA a mente para que ela pense ? Quem ordena que o corpo viva ? Quem faz a língua falar ? Quem é o Ser radiante que conduz o olho à forma e à cor , e o ouvido ao som ?
O Eu é o ouvido do ouvido , a mente da mente , a fala da fala .
Ele também é o alento do alento , o olho do olho . Ao abandonarem a falsa identificação do Eu com os sentidos e com a mente , e ao saberem que o Eu é Brahman , os sábios , ao deixarem este mundo , tornam-se imortais .
O olho não o vê , nem a língua o exprime , nem a mente o alcança .
Não o conhecemos e nem podemos ensiná-lo . Ele é diferente do conhecido , e diferente do desconhecido . Foi o que ouvimos dos sábios .
Aquilo que não pode ser expresso em palavras mas pelo qual a língua fala - sabei que é Brahman não é o ser que é adorado pelos homens .
Aquilo que não é compreendido pela mente , mas pelo qual a mente compreende - sabei que é Brahman . Brahman não é o ser que é adorado pelos homens .
Aquilo que não é visto pelo olho , mas pelo qual o olho vê - sabei que é Brahman . Brahman não é o ser que é adorado pelos homens .
Aquilo que não é ouvido pelo ouvido , mas pelo qual o ouvido ouve - sabei que é Brahman . Brahman não é o ser que é adorado pelos homens .
Aquilo que não é trazido pelo sopro vital , mas pelo qual o sopro vital é trazido , sabei que é Brahman . Brahman não é o ser que é adorado pelos homens .


Se pensais que conheceis bem a verdade de Brahman , sabei que conheceis pouco . O que pensais ser Brahman no vosso Eu , ou o que pensais ser Brahman nos deuses - não é Brahman . Deveis , portanto , aprender o que é realmente a verdade de Brahman .
Não posso dizer que conheço Brahman totalmente . Nem posso dizer que não o conheço . Aquele dentre nós que melhor o conhece é quem entende o espírito das palavras : " Eu nem sei que não o conheço " .
Aquele que verdadeiramente conhece Brahman é quem sabe que ele está além do conhecimento ; aquele que pensa que sabe , não sabe .
O ignorante pensa que Brahman é conhecido , porém os sábios sabem que ele está além do conhecimento .
Aquele que percebe a existência de Brahman por trás de todas as atividades do seu ser - seja sensação , percepção ou pensamento - somente ele obtém a imortalidade . Através do conhecimento de Brahman , vem o poder . Através do conhecimento de Brahman , revela-se a vitória sobre a morte .
Abençoado o homem que enquanto ainda vive percebe Brahman .
O homem que não o percebe sofre sua maior perda . Quando deixam esta vida , os sábios , que perceberam Brahman como o Eu em todos os seres , tornam-se imortais .

Em determinada ocasião , os deuses obtiveram uma vitória sobre os demônios e , apesar de o terem feito apenas através do poder de Brahman , ficaram extremamente vaidosos . Eles disseram a si próprios : " Fomos nós que derrotamos os nossos inimigos , e a glória é nossa . "
Brahman percebeu a vaidade deles e apareceu diante deles . Porém eles não o reconheceram .
Os outros deuses então disseram ao deus do fogo : " Fogo , descobri para nós quem é esse misterioso espírito . "
" Sim " , disse o deus do fogo , e aproximou-se do espírito . O espírito lhe disse :
" Quem sois vós ? " 
" Sou o deus do fogo . Aliás , sou muito conhecido . "
" E que poder exerceis ? "
" Posso queimar qualquer coisa que exista sobre a Terra . "
" Queimai isto " , disse o espírito , colocando palha à sua frente .
O deus do fogo caiu em cima da palha com toda a sua força , mas não pôde consumi-la . Então voltou rapidamente para junto dos outros deuses e disse : 
" Não posso descobrir quem é esse misterioso espírito . "
Os outros deuses disseram então ao deus do vento : " Vento , descobri para nós quem é ele . "
" Sim " , disse o deus do vento , e aproximou-se do espírito . O espírito lhe disse :
" Quem sois vós ? "
" Sou o deus do vento . Aliás , sou muito conhecido . Vôo velozmente através dos céus . "
" E que poder exerceis ? "
" Posso soprar para longe qualquer coisa que se encontre sobre a Terra . "
" Soprai isto para longe " , disse o espírito , colocando palha diante dele .
O deus do vento caiu em cima da palha com toda a sua força , porém foi incapaz de movê-la . Então , voltou rapidamente para junto dos outros deuses e disse :
" Não posso descobrir quem é esse misterioso espírito . "
Os outros deuses disseram então a Indra , o maior deles todos : " Ó respeitável , descobri para nós , nós vos suplicamos , quem é ele . "
" Sim " , disse Indra , e aproximou-se do espírito . Porém o espírito desapareceu , e em seu lugar surgiu Uma , a Deusa Mãe , bem-adomada e de uma beleza extraordinária . Contemplando-a , Indra perguntou : 
" Quem era o espírito que apareceu para nós ? "
" Aquele " , respondeu Uma , " era Brahman . Foi através dele , e não de vós mesmos , que obtivestes a vitória e a glória . "
Desse modo , Indra , o deus do fogo e o deus do vento , reconheceram Brahman .
O deus do fogo , o deus do vento e Indra - eles superaram os outros deuses , pois chegaram mais perto de Brahman , e foram os primeiros a reconhecê-lo .
Porém , dentre todos os deuses , Indra é supremo , pois ele foi dos três o que chegou mais perto de Brahman , e foi o primeiro deles a reconhecê-lo .
Essa é a verdade de Brahman com relação à Natureza : seja no clarão do relâmpago , ou no piscar dos olhos , o poder que aparece é o poder de Brahman .
Essa é a verdade de Brahman com relação ao homem : nos movimentos da mente , o poder que aparece é o poder de Brahman . Por esse motivo , um homem deveria meditar sobre Brahman de dia e de noite .
Brahman é o adorável ser em todos os seres . Meditai sobre ele assim .
Aquele que medita desse modo sobre ele é respeitado por todos os outros seres .


Um Discípulo   
Senhor , ensinai-me mais sobre o conhecimento de Brahman ( Deus ) .

O Mestre 
Já vos revelei o conhecimento secreto . Austeridade , autocontrole , execução das tarefas sem apego - esse é o corpo daquele conhecimento .
Os Vedas são os membros . A verdade é a sua verdadeira alma .
Aquele que alcança o conhecimento de Brahaman , livrando-se de todo o mal , encontra o Eterno , o Supremo .

OM . . . Paz  - paz - paz .  


KATHA 
O segredo da imortalidade é encontrado na purificação do coração , na meditação , na realização da identidade do Eu interiormente  de Brahman exteriormente . Pois a imortalidade é simplesmente a união com Deus 

KATHA 
Om  . . .
Que Braman nos proteja ,
Que ele nos guie ,
Que nos dê força e entendimento correto .
Que o amor e a harmonia estejam com todos nós .
Om . . . Paz  - paz - paz .  

EM DETERMINADA OCASIÃO , Vajasrabasa , esperando obter um favor divino , executou um ritual que exigia que ele se desfizesse de todos os seus bens . Ele teve o cuidado , porém , de sacrificar somente o seu gado e , ele , somente os animais inúteis - os velhos , os estéreis , os cegos e os aleijados . Ao observar essa avareza , Nachiketa , seu filho mais novo , cujo coração havia recebido a verdade ensinada nas escrituras , disse para si mesmo : " Certamente , um devoto que ousa levar presentes tão inúteis está destinado à total escuridão ! " Refletindo assim , dirigiu-se ao pai e falou : 
" Pai , eu também vos pertenço : para quem me dareis ? "
Seu pai não respondeu ; porém , quando Nachiketa repetiu a pergunta uma outra vez , ele replicou impacientemente :
" Eu vos darei à Morte ! "
Nachiketa disse então para si mesmo : " Sou de fato o melhor dentre os filhos e discípulos de meu pai , ou estou , pelo menos , na categoria intermediária , não na pior ; porém , de que valor serei para o Rei da Morte ? " Estando , porém , determinado a seguir a palavra do pai , disse :
" Pai , não vos arrependais da vossa promessa ! Considerai como tem acontecido com aqueles que partiram antes , e como será com aqueles que vivem agora . Como o milho , um homem amadurece e cai ao solo ; como o milho , ele brota novamente na estação propícia . "
Após falar assim , o rapaz viajou para a casa da Morte .
Porém o deus não estava em casa , e Nachiketa esperou durante três noites . Quando finalmente o Rei da Morte voltou , seus servos lhe disseram :
" Um Brahmin , parecido com uma chama de fogo , chegou à vossa casa como hóspede , e vós não estáveis aqui . Desse modo , uma oblação deverá ser feita a ele . Ó Rei , devereis receber vosso hóspede com todos os rituais costumeiros , pois se o chefe de uma casa não mostrar a devida hospitalidade a um Brahmin , perderá o que mais preza - os méritos das suas boas ações , sua integridade , seus filhos e seu gado . "
O Rei da Morte , então , aproximou-se de Nachiketa e deu-lhe as boas-vindas com palavras polidas .
" Ó Brahmin " , disse ele , " Eu vos saúdo . Vós sois de fato um hóspede digno de todo respeito . Permiti , eu vos imploro , que nenhum mal caia sobre mim ! Passastes três noites em minha casa e não recebestes minha hospitalidade ; pedi , portanto , três dádivas - uma para cada noite . " 
" Ó Morte " , replicou Nachiketa , " que assim seja . E como primeira dessas dádivas peço que meu pai não fique ansioso a meu respeito , que sua ira se acalme , e que , quando me mandardes de volta , ele me reconheça e me dê as boas-vindas . "
" Pela minha vontade " , declarou a Morte , " vosso pai vos reconhecerá e vos amará como antes ; e ao ver-vos vivo novamente , ficará com a mente tranquila , e dormirá em paz . "
Nachiketa então disse : " No céu não há medo de modo algum . Vós , Ó Morte , não estais lá , nem naquele lugar onde o pensamento de ficar velho faz com que a pessoa estremeça . Lá , livres da fome e da sede , e longe do alcance da dor , todos rejubilam e são felizes . Vós conheceis , Ó Rei , o sacrifício do fogo que leva ao céu . Ensinai-me esse sacrifício , pois estou cheio de fé . Esse é o meu segundo desejo . "
Consentindo , então , a Morte ensinou ao rapaz o sacrifício do fogo , e todos os rituais e cerimônias que o acompanhavam . Nachiketa replicou tudo o que havia aprendido , e a Morte , satisfeita com ele disse :
" Vou conceder-vos uma dádiva adicional . A partir de hoje esse sacrifício será denominado Sacrifício Nachiketa , em vossa homenagem .
Escolhei agora vossa terceira dádiva . " 
Nachiketa , então , pensou consigo mesmo , e disse :
Quando um homem morre , há está dúvida : Alguns dizem que ele existe : outros dizem que ele não existe . Se vós me ensinásseis , eu conheceria a verdade . Esse é o meu terceiro desejo . "
" Não " , replicou a Morte , " mesmo os deuses certa vez ficaram intrigados com esse mistério . A verdade com relação a isso é realmente sutil , não é fácil de ser compreendida . Escolhei alguma outra dádiva , Ó Nachiketa . "
Porém , Nachiketa não quis aceitar a recusa .
" Vós dizeis . Ó Morte , que mesmo os deuses certa vez estiveram intrigados com esse mistério , e que ele não é fácil de ser compreendido .
Certamente , não há melhor mestre para explicá-lo do que vós - e não existe outra dádiva igual a essa . "
O deus replicou , mais uma vez tentando Nachiketa :
" Pedi filhos e netos que viverão cem anos . Pedi gado , elefantes , cavalos , ouro . Escolhei para vós um poderoso reino . Ou , se não puderdes imaginar algo melhor , pedi isto : não apenas doces prazeres , mas também o poder , além de qualquer pensamento , para experimentar sua doçura .
Sim , verdadeiramente , farei de vós o supremo desfrutador de todas as coisas boas . Donzelas celestiais , de beleza excepcional , que não foram destinadas a mortais - mesmo essas , com suas carruagens e seus instrumentos musicais , eu vos darei , para vos servirem . Não me peçais , porém , Ó Nachiketa , o mistério da morte ! "
Nachiketa , contudo , manteve-se firme e disse : " Essas coisas durarão somente até o dia seguinte , Ó Destruidor da Vida , e os prazeres que elas conferem desgastam os sentidos . Ficai , portanto , com os cavalos e as carruagens , com a dança e a música , para vós mesmo ! Como poderá desejar a riqueza , Ó Morte , aquele que uma vez já viu a vossa face ? Não , apenas a dádiva que escolhi - somente isso eu peço . Tendo descoberto a companhia do imperecível e do imortal , como quando vos conheci , como poderei eu , sujeito à decadência e à morte , e conhecendo bem a vaidade da carne - como poderei desejar vida longa ?
" Contai-me , Ó Rei , o supremo segredo com relação ao qual os homens mantêm dúvidas . Não solicitarei qualquer outra dádiva . "
Como o que , o Rei da Morte , bem satisfeito em seu coração , começou a ensinar a Nachiketa o segredo da imortalidade .


O Rei da Morte    

O bem é uma coisa ; o prazer é outra . Esses dois , diferindo em seus propósitos , iniciam à ação . Abençoados são aqueles que escolhem o bem ; aqueles que escolhem o prazer não atingem o objetivo .
Tanto o bem como o prazer se apresentam ao homem . Os sábios , após examinarem ambos , distinguem um do outro . Os sábios preferem o bem ao prazer ; os tolos , levados por desejos carnais , preferem o prazer ao bem .
Vós , Ó Nachiketa , após haverdes observado os desejos carnais , agradáveis aos sentidos , renunciastes a todos eles . Vós vos desviastes do caminho lamacento no qual muitos homens se atolam .
Distantes um do outro , e levando a diferentes desígnios , encontram-se a ignorância e o conhecimento . Eu vos considero , Ó Nachiketa , como alguém que anseia pelo conhecimento , pois uma infinidade de objetos agradáveis foram incapazes de tentar-vos .
Vivendo no abismo da ignorância , embora julgando-se sábios , tolos iludidos dão voltas e voltas , cegos levados por cegos .
Ao jovem irrefletido , enganado pela vaidade das posses terrenas , não é mostrado o caminho que leva à morada eterna . Somente este mundo é real : não existe depois - pensando assim , ele cai uma outra vez , nascimento após nascimento , dentro das minhas mandíbulas .
A muitos não é concedido ouvir sobre o Eu . Muitos , embora ouçam a respeito dele , não o compreendem . Maravilhoso é aquele que fala a respeito do Eu . Inteligente é aquele que aprende a respeito do Eu . Abençoado é aquele que , tendo aprendido com um bom mestre , é capaz de compreendê-lo .
A verdade do Eu não pode ser completamente compreendida quando ensinada por um homem ignorante , pois as opiniões a respeito dele , não fundamentadas no conhecimento , variam de um para outro . Mais sutil do que o mais sutil é esse Eu , e além de toda lógica . Ensinado por um mestre que saiba que o Eu e Brahman são um só , um homem deixa para trás a vã teoria e atinge a verdade .
O despertar que conhecestes não vem do intelecto , e sim , totalmente , dos lábios dos sábios . Bem-amado Nachiketa , abençoado , abençoado sois vós , porque o Eterno . Quisera eu ter mais discípulos como vós !
Bem sei que os tesouros terrestres duram pouco . Pois não fiz eu mesmo , desejando ser o Deus da Morte , o sacrifício com o fogo ? O sacrifício , foi uma coisa efêmera , realizada com objetos fugazes , e pequena é minha recompensa , considerando que meu reino só durará por um momento .
A finalidade do desejo mundano , os objetos fulgurantes que todos os homens almejam , os prazeres celestiais que esperam obter através de rituais religiosos - tudo isso esteve ao vosso alcance . Porém , a tudo isso renunciastes , com firme resolução .
O antigo , fulgurante ser , o Espírito que habita interiormente , sutil , profundamente oculto no lótus do coração , é difícil de ser conhecido .
Porém , o homem sábio , que segue o caminho da meditação , conhece-o , e se torna liberto tanto do prazer como da dor .
O homem que aprendeu que o Eu está separado do corpo , dos sentidos e da mente , e que o conheceu por completo , a alma da verdade , o princípio sutil - tal homem verdadeiramente o alcança , e se torna extremamente satisfeito , pois encontrou a fonte e o local onde habita toda a felicidade . Verdadeiramente acredito , Ó Nachiketa , que as portas da felicidade estão abertas para vós .


Nachiketa 

Ensina-me , Ó Rei , eu vos suplico , o que sabeis estar além do certo e do errado , além da causa e do efeito , além do passado , do presente e do futuro .

O Rei da Morte 

Do objetivo que todos os Vedas proclamam , o qual está implícito em todas as penitências , e em busca do qual homens levam vidas de continência e de serviço , dele falarei sucintamente .
Ele é - OM .
Esta sílaba é Brahman . Esta sílaba é de fato suprema . Aquele que a conhece realiza o seu desejo .
Ela é o apoio mais forte . É o símbolo mais elevado . Aquele que a conhece é reverenciado como um conhecedor de Brahman .
O Eu , cujo símbolo é OM , é Deus onisciente . Ele não nasce . Ele não morre . Ele não é nem causa nem efeito . Esse Ser Antigo não nasceu , é eterno , imperecível ; embora o corpo seja destruído , ele não é aniquilado .
Se o assassino pensa que ele mata , se o assassino crê que ele é morto , nenhum dos dois conhece a verdade . O Eu não mata nem é morto .
Menor do que o menor , maior do que o maior , esse Eu habita para sempre dentro dos corações de todos . Quando um homem está livre de desejos , com sua mente e seus sentidos purificados , ele contempla a glória do Eu e está sem sofrimento .
Apesar de sentado , ele viaja para longe ; embora descansando , ele move todas as coisas . Quem , a não ser o mais puro dos puros , pode perceber esse Ser Fulgurante , que é a felicidade e que está além da felicidade ?
Ele não possui forma , embora habite a forma . No meio do transitório , ele permanece perene . O Eu é supremo e tudo permeia . O homem sábio , conhecendo-o em sua verdadeira natureza , transcende toda dor , O Eu não é conhecido através do estudo das escrituras , nem através da sutileza do intelecto , nem através de muito aprendizado . Mas é conhecido por aquele que anseia por ele . O Eu revela verdadeiramente a ele o seu genuíno ser .
Um homem não poderá conhecê-lo através do aprendizado , se não desistir do mal , se não controlar seus sentidos , se não acalmar sua mente , e se não praticar a meditação .
Para ele os Brahmis e os Kshatriyas são apenas alimento , e a morte é em si um condimento .
Tanto o eu individual como o Eu Universal penetraram na caverna do coração , o domicílio do Mais Alto , porém os conhecedores de Brahman e os chefes de família que realizam os sacrifícios do fogo enxergam a diferença entre eles como entre a luz do Sol e a sombra .
Possamos realizar o Sacrifício Nachiketa , que transpõe o mundo do sofrimento . Possamos conhecer o imperecível Brahman , que nada teme , e que é o objetivo e o refúgio daqueles que procuram a libertação .
Sabei que o Eu é o cavaleiro , e que o corpo é a carruagem ; que o intelecto é o cocheiro , e que a mente são as rédeas .
Os sentidos , dizem os sábios , são os cavalos ; as estradas por onde passam são os labirintos do desejo . Os sábios consideram o Eu como aquele que se deleita quando está unido ao corpo , aos sentidos e à mente .
Quando um homem não possui discernimento e sua mente está desgovernada , seus sentidos são incontroláveis , como os cavalos rebeldes de um cocheiro . Porém , quando um homem possui discernimento e sua mente está controlada , seus sentidos , como os cavalos bem-domados de um cocheiro , obedecem alegremente às rédeas .
Aquele que não possui discernimento , cuja mente está instável e cujo coração está impuro , nunca alcança o objetivo , e nasce sempre de novo . Mas aquele que possui discernimento , cuja mente está firme e cujo coração é puro , atinge a meta e , após tê-la alcançado , não nasce nunca mais .
O homem que possui um entendimento sólido como cocheiro , uma mente controlada como rédeas - ele é que atinge o final da jornada , a morada suprema de Vishnu , o que tudo permeia .
Os sentidos originam-se dos objetos físicos , os objetos físicos , da mente ; a mente , do intelecto ; o intelecto , do ego ; o ego , da semente não-manifestada ; e a semente não-manifestada , de Brahman - a Causa sem Causa .
Brahman é o fim da jornada . Brahman é a mente suprema .
Esse Brahman , esse Eu , profundamente oculto em todos os seres , não é revelado a todos ; ma àqueles que vêem , puros de coração , de mente concentrada - a eles é revelado .
Os sentidos do homem sábio obedecem à sua mente ; sua mente obedece ao seu intelecto ; seu intelecto obedece ao seu ego ; e seu ego obedece ao Eu .
Acordai ! Acordai ! Aproximai-vos dos pés do Mestre e conhecei AQUELE . O caminho é como a lâmina afiada de uma navalha , dizem os sábios . É estreito e difícil de trilhar !
Sem som , sem forma , intangível , imperecível , sem gosto , sem cheiro , eterno , sem começo , sem fim , imutável , além da Natureza , assim é o Eu .
Quem o conhece como tal está livre da morte .

O Narrador   

O homem sábio , tendo escutado e aprendido a verdade eterna revelada a Nachiketa pelo Rei da Morte , é glorificado no céu de Brahman .
Aquele que canta com devoção esse segredo supremo na assembléia dos Brahmins é recompensado com dádivas imensuráveis !

O Rei da Morte    

O Auto-existente fez com que os sentidos se voltassem para fora .
Consequentemente , o homem olha para o exterior , e não vê o que está no interior . Raro é aquele que , ansiando pelo imortalidade , fecha os olhos para o exterior e contempla o Eu .
Os tolos seguem os desejos da carne e caem na armadilha da morte que tudo abrange ; porém os sábios , sabendo que o Eu é eterno , não procuram as coisas transitórias .
Aquele através de quem o homem vê , saboreia , cheira , ouve , sente e tem prazer é o Senhor onisciente .
Ele é , verdadeiramente , o Eu imortal . Quem o conhece , conhece todas as coisas .
Aquele através de quem o homem vivencia os estados de sono ou de vigília é o Eu que tudo permeia . Quem o conhece não sofre mais .
Aquele que sabe que a alma individual , que aproveita os frutos da ação , é o Eu - que está sempre presente interiormente , senhor do tempo , do passado e do futuro - expulsa de si todo o medo . Pois esse Eu é o Eu imortal .
Aquele que vê o Que-Nasceu-Primeiro - nascido da mente de Brahman , nascido antes da criação das águas - e o vê habitando o lótus do coração , vivendo entre elementos físicos , efetivamente vê Brahman .
Pois esse Que-nasceu-Primeiro é o Eu imortal .
Aquele ser que é o poder de todos os poderes , e que nasceu como tal , que se incorpora nos elementos e existe nestes , e que penetrou no lótus do coração , é o Eu imortal .
Agni , o que tudo vê , o que se esconde nos gravetos , como uma criança bem-protegida no útero , que é venerado diariamente por almas despertas , e por aqueles que oferecem oblações no fogo do sacrifício - ele é o Eu imortal .
Aquele no qual o Sol se levanta e no qual se põe , aquele que é a fonte de todos os poderes da Natureza e dos sentidos , aquele que não pode ser transcendido por nada - esse é o Eu imortal .
O que está dentro de nós também está fora de nós . O que está fora também está dentro . Aquele que vê diferença entre o que está dentro e o que está fora segue eternamente de morte para morte .
Brahman só pode ser alcançado pela mente purificada . Apenas Brahman é - nada mais é . Aquele que vê o universo múltiplo , e não a única realidade , segue eternamente de morte para morte .
Aquele ser , do tamanho de um polegar , habita profundamente dentro do coração . Ele é o senhor do tempo , do passado e do futuro .
Quem o alcança nada mais teme . Verdadeiramente , ele é o Eu imortal .
Aquele ser , do tamanho de um polegar , é como uma chama sem fumaça . Ele é o senhor do tempo , do passado e do futuro , o mesmo hoje e amanhã . Verdadeiramente , ele é o Eu imortal .
Como a chuva que cai numa colina , com torrentes descendo pelo lado , assim corre aquele que depois de muitos nascimentos vê a multiplicidade do Eu .
Como a água pura derramada dentro da água pura permanece pura , assim o Eu permanece puro , Ó Nachiketa , ao se unir com Brahman .
Ao Não-Nascido , cuja luz da consciência brilha para sempre , pertence à cidade de onze portões . Aquele que medita sobre o governante dessa cidade não conhece mais sofrimento . Ele atinge a libertação , e para ele não pode mais haver nascimento ou morte . Pois o governante dessa cidade é o Eu imortal .
O Eu imortal é o Sol que brilha no céu , é a brisa que sopra no espaço , é o fogo que queima no altar , é o hóspede que habita a casa ; ele está em todos os homens , está nos deuses , está no éter , está onde quer que esteja a verdade ; ele é o peixe que nasce na água , é a planta que cresce no solo , é o rio que jorra da montanha - ele , a realidade imutável , o ilimitável !
Ele , o adorável , instalado no coração , é o poder que dá o sopro vital .
Todos os sentidos o homenageiam .
O que pode permanecer quando o habitante desse corpo abandona a concha grande demais , já que ele é , verdadeiramente , o Eu imortal ?
O homem não vive apenas do sopro vital e , sim daquele dentro do qual está o poder do sopro vital .
E agora . Ó Nachiketa , eu lhe falarei a respeito do que não pode ser visto , o Brahman eterno , e do que acontece com o Eu depois da morte .
Dentre aqueles que ignoram o Eu , alguns entram em seres que possuem ventre , outros entram em plantas - de acordo com suas ações e com o crescimento de suas inteligências .
Aquele que está desperto em nós mesmo enquanto dormimos , moldando em sonho os objetos do nosso desejo - esse é realmente puro , esse é Brahman , e esse verdadeiramente é chamado o Imortal . Todos os mundos têm seus seres neles , e ninguém pode transcendê-lo . Esse é o Eu .
Assim como o fogo , apesar de ser único , toma a forma de todos os objetos que consome , também o Eu , embora único , toma a forma de todos os objetos que habita .
Assim como o Sol , que revela todos os objetos àquele que vê , não é atingido pelo olho pecador , nem pelas impurezas dos objetos que fita , também o Eu único , habitando em tudo , não é tocado pelos males do mundo . Pois ele transcende tudo .
Ele é único , o senhor e o mais profundo Eu de tudo ; a partir de uma forma ele faz de si mesmo muitas formas . Àquele que vê o Eu revelado em seu próprio coração pertence a eterna bem-aventurança - a ninguém mais , a ninguém mais !
Inteligência do inteligente , eterno entre o que é transitório , ele , embora único , torna possível os desejos de muitos . Àquele que vê o Eu revelado em seu próprio coração pertence a paz eterna - e a ninguém mais , a ninguém mais !

Nachiketa   

De que modo , Ó Rei , encontrarei esse bem-aventurado Eu , supremo , inexprimível , que é alcançado pelos sábios ? Ele brilha por si mesmo ou reflete a luz de outrem ?

O Rei da Morte    

Ele não é iluminado pelo Sol , nem pela Lua , nem pelas estrelas , nem pelo relâmpago - nem , verdadeiramente , pelo fogo aceso na Terra .
Ele é a única luz que fornece luz para tudo . Brilhando ele , tudo brilha .
Este Universo é uma árvore que existe eternamente , com suas raízes voltadas para cima e seus galhos espalhados embaixo . A raiz pura da árvore é Brahman , o imortal , em quem os três mundos têm sua existência , a quem ninguém pode transcender , que é verdadeiramente o Eu .
Todo o Universo veio de Brahman e se move em Brahman . Poderoso e terrível é ele , semelhante ao trovão que explode nos céus . Para os que o alcançam a morte não contém terror .
Com medo dele o fogo queima , o Sol brilha , a chuva cai , os ventos sopram , e a morte mata .
Se um homem falha em alcançar Brahman antes de abandonar o corpo , terá novamente de colocar um corpo no mundo das coisas criadas .
Na alma de uma pessoa , Brahman é percebido claramente , como se fosse visto num espelho . Também no céu de Brahman , Brahman é claramente percebido , do mesmo modo como uma pessoa distingue a luz da escuridão . No mundo dos pais ele é contemplado como num sonho .
No mundo dos anjos ele aparece como se estivesse refletido na água .
Os sentidos têm origens separadas nos seus diversos objetos . Eles podem estar ativos , como no estado de vigília , ou podem estar inativos , como no sono . Aquele que sabe que eles são distintos do Eu imutável não sofre mais .
Acima dos sentidos está a mente . Acima da mente está o intelecto .
Acima do intelecto está o ego . Acima do ego está a semente não-manifestada , a Causa Primordial .
Verdadeiramente , além da semente não-manifestada está Brahman , o espírito que tudo permeia , o incondicionado , e quem o conhece obtém a liberdade e alcança a imortalidade Ninguém o contempla com os olhos , pois ele não tem forma visível .
Porém , no coração , ele é revelado pelo autocontrole e pela meditação . Os que conseguem se tornam imortais .
Quando todos os sentidos estão imóveis , quando a mente está em repouso , quando o intelecto não treme - esse , dizem os sábios , é o estado mais elevado .
Essa serenidade dos sentidos e da mente foi definida como ioga .
Aquele que a obtém liberta-se da ilusão .
Naquele que não está livre da ilusão essa serenidade é incerta , irreal ; ela vem e vai . As palavras não podem revelar Brahman , a mente não pode alcançá-lo , os olhos não podem vê-lo . Como , então , a não ser através daqueles que o conhecem , pode ele ser conhecido?
Existem dois eus , o Eu aparente e o Eu verdadeiro . Desses dois , é o Eu verdadeiro , e somente ele , que deve ser sentido como realmente existindo . Ao homem que o sentiu como realmente existindo ele revela sua mais profunda natureza .
O mortal em cujo coração o desejo está morto tona-se imortal .
O mortal em cujo coração os nós da ignorância são desatados torna-se imortal . Essas são as verdades mais elevadas ensinadas nas escrituras .
Existem cento e um nervos que irradiam do lótus do coração .
Desses nervos ascende o lótus de mil pétalas do cérebro . Se , quando um homem morre , sua força vital subir e passar através desse nervo , ele atinge a imortalidade ; porém , se sua força vital passar através de outro nervo , ele vai para outro plano de existência , e permanece sujeito ao nascimento e à morte .
A Pessoa Suprema , do tamanho de um polegar , o Eu mais profundo , habita para sempre os corações de todos os seres . Como extraímos a seiva da cana , assim deve o aspirante à verdade , com grande perseverança , separar o Eu do corpo . Sabei que o Eu é puro e imortal - sim , puro e imortal ! 

O Narrador   

Tendo aprendido do deus esse conhecimento e todo o processo da ioga , Nachiketa foi libertado das impurezas e da morte , e se uniu a Brahman .
Assim também será com outro se ele conhecer o Eu mais profundo .


     


Om . . . Paz   -   paz   -  paz .



  
   
Texto : do livro ( Os Upanishads )

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