quinta-feira, 9 de julho de 2009

Homem , conhece-te A ti mesmo !


Quando o Homem comum diz " eu sou feliz " , ou " eu sou infeliz " que é que ele entende com essa palavrinha " eu " ?
A imensa maioria dos Homens entende com esse " eu " a sua personalidade física , material , isto é , o corpo , ou alguma parte do corpo . " Eu estou com dor de cabeça . " " Ele morreu . " Um determinado sentimento de bem-estar do corpo é , por eles , chamado " felicidade " , assim como certo mal-estar físico é apelidado de " infelicidade " . Ora , esse sentir físico está , de preferência , nos nervos , que são os receptores e veículos de nossas sensações físicas . Quer dizer que o homem comum , quando fala de felicidade ou infelicidade , faz referências a um determinado estado vibratório de seus nervos . Se esse estado vibratório dos nervos lhe confere uma sensação agradável , ele julga feliz ; do contrário , tem-se por infeliz .
Ora , esse estado vibratório dos nervos nem sempre depende da vontade do homem ; depende , em geral , de fatores meramente externos , acidentais , alheios ao seu querer ou não-querer , quais sejam a temperatura , o clima , a alimentação , acidentes fortuitos , eventos imprevistos , a sorte grande , morte na família , etc . Todo homem que , por exemplo , diz " eu estou doente " identifica o seu " eu " com o seu corpo , e sobre esse erro fundamental procura erguer o edifício da sua felicidade .
É o que , no Evangelho , chama-se " edificar sobre areia " . Mas um edifício construído sobre areia vã não resistirá ao embate de enchentes e vendavais .
Também a humanidade nos pode fazer sofrer ou gozar . Mas nem as circunstâncias da natureza nem da humanidade podem nos tornar felizes ou infelizes . Felicidade ou infelicidade vem da nossa substância própria , e não de circustâncias alheias . " Eu sou o senhor de meu destino --- eu sou o comandante de minha vida ... "
Com esse critério inadequado , é claro , a felicidade ou infelicidade é algo que não depende do homem . Nesse caso , o homem não é " sujeito " , autor , de sua felicidade ou do contrário , mas tão-somente " objeto " ou vítima . Circunstâncias externas , fortuitas , incontroláveis , torna-lo-iam feliz ou infeliz .
Isso quer dizer que esse homem seria um simples joguete passivo dos caprichos do ambiente . Não poderia afirmar : I am the captain of my soul ( eu sou o comandante de minha alma ) ; porquanto não seria ele que marca o roteiro da barquinha de sua vida , que estaria inteiramente à mercê dos ventos e das correntezas alheias ao seu querer ou não-querer .
Como poderia ser solidamente feliz o homem que faz depender a sua felicidade de algo que não depende dele ?
Outras pessoas há que identificam o seu " eu " com a sua parte mental ou emocional . Dizem , por exemplo : " eu estou triste " , " eu estou alegre " , " eu sou inteligente " . Isso quer dizer que confundem o seu verdadeiro " Eu " com sua personalidade mental-emocional . Ora , como essa zona está incessantemente à mercê das influências da sociedade humana que nos cerca , segue-se que a felicidade ou infelicidade baseada nesse alicerce problemático depende do ambiente social , isto é , da boa ou má opinião que outros homens têm de nós ; enxergamo-nos tão-somente no reflexo da opinião pública . Se outros dizem que somos inteligentes , bons , belos , simpáticos , sentimo-nos felizes--- , mas , se disserem o contrário , sentimo-nos infelizes .
Isso quer dizer que , nesse caso , somos uma espécie de fantoches ou bonecos de engoço que reagem automaticamente ao impulso recebido pelos cordéis invisíveis , manipulados por algum terceiro , oculto por detrás do cenário de nossa vida . Esses fantoches humanos vibram com intensa felicidade quando , por exemplo , um jornal os cumula de louvores e apoteoses , embora totalmente gratuitos e quiçá mentirosos --- , mas sentem-se profundamente infelizes , talvez desesperados , quando alguém diz o contrário .
São escravos de fatores alheios à sua vontade --- escravos que ignoram a sua própria escravidão ! E como poderia um escravo ser feliz ?
Em resumo : tanto os da primeira classe --- os escravos do ambiente físico --- como os da segunda classe --- os escravos do ambiente social --- fazem depender a sua felicidade de algo que não depende deles . É , pois , evidente que não podem ser realmente felizes , porquanto a verdadeira felicidade não é uma " quantidade externa " , um objeto que o homem pode receber , mas uma " quantidade interna " , um estado do sujeito , que o homem crea dentro de si . A felicidade só pode consistir em algo que dependa de mim , algo que possa crear , independentemente de circunstâncias externas , físicas ou sociais . " O que vem de fora não torna o homem puro nem impuro --- só o que vem de dentro do homem é que o torna puro ou impuro " ( Jesus ) .
Alguns séculos antes de Cristo , vivia em Atenas o grande filósofo Sócrates . A sua filosofia não era uma teoria especulativa , mas a própria vida que ele vivia . Aos setenta e tantos anos foi Sócrates condenado à morte , embora inocente . Enquanto aguardava no cárcere o dia da execução , seus amigos e discípulos moviam céus e terra para o preservar da morte . O filósofo , porém , não moveu um dedo para esse fim ; com perfeita tranquilidade e paz de espírito aguardou o dia em que ia beber o veneno mortífero . Na véspera da execução , conseguiram seus amigos subornar o carcereiro , que abriu a porta da prisão . Críton , o mais ardente dos discípulos de Sócrates , entrou na cadeia e disse ao mestre :
--- Foge , depressa , Sócrates !
--- Fugir , por quê ? --- perguntou o preso .
--- Ora , não sabes que amanhã te vão matar ?
--- Matar-me ? A mim ? Ninguém me pode matar !
--- Sim , amanhã terás de beber a taça de cicuta mortal --- insistiu Críton --- Vamos , mestre , foge depressa para escapares à morte !
--- Meu caro amigo Críton --- respondeu o condenado --- , que mau filósofo és tu ! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim ...
Depois , puxando com os dedos a pele da mão , Sócrates perguntou :
--- Críton , achas que isso é Sócrates ? --- e , batendo com o punho no osso do crânio , acrescentou : --- Achas que isto aqui é Sócrates ? ... Pois é isso que eles vão matar , este invólucro material ; mas não a mim . Eu sou a minha alma .
Ninguém pode matar Sócrates ! ...
E ficou sentado na cadeia aberta , enquanto Críton se retirava , chorando , sem compreender o que ele considerava teimosia ou estranho idealismo do mestre . No dia seguinte , quando o sentenciado já bebera o veneno mortal e seu corpo ia perdendo aos poucos a sensibilidade , Críton perguntou-lhe , entre soluços : --- Sócrates , onde queres que te enterremos ? --- Ao que o filósofo , semiconsciente , murmurou : --- Já te disse , amigo , ninguém pode enterrar Sócrates ... Quanto a esse invólucro , enterrai-o onde quiserdes . Não sou eu ... Eu sou a minha alma ...
E assim expirou esse homem que tinha descoberto o segredo da felicidade , que nem a morte lhe pôde roubar .
Conhecia-se a si mesmo , o seu verdadeiro Eu divino , eterno , imortal .

Texto : Huberto Rohden Deixe seu Comentário:



quarta-feira, 8 de julho de 2009

Oração Permanente !


Muitas pessoas precisam de fatores externos para encontrarem Deus dentro de si . Outras vivem um vasto período de análise intelectual sem se permitirem um momento se quer , de intuição espiritual . Nós não podemos chegar à verdadeira experiência de Deus somente por meio da análise mental . Isto é apenas uma preliminar que deve se ultrapassada para poder se alcançar uma certeza espiritual . A análise mental é como um grande labirinto sem saída . Muitas pessoas ficam presas a métodos . Os grandes mestres não estavam preocupados com grandes métodos espirituais . O maior dos terapeutas dizia somente para que se orasse sempre . Sempre quer dizer orar 24 horas por dia , durante 365 dias por ano .
As pessoas confundem oração com reza , pensam que oração e meditação é um tipo de ato externo . Os mestres não falam de atos , falam de atitude . O que é atitude ? Atitude é o modo de ser , não é agir , não é fazer alguma coisa , é ter consciência do Ser , a consciência da Presença de Deus . Isso não significa pensar em Deus . Não adianta nada ficar pensando em Deus por que isso é apenas um ato . As pessoas não sabem distinguir entre pensar e conscientizar .
Mas o que é conscientizar ? Conscientização é um estado permanente da consciência .
Pensar é uma sucessão de atos transitórios . O pensamento é sucessivo e analítico .
A consciência nada tem haver com análise , com sucessividade . Ela é um estado simultâneo , permanente do nosso ser espiritual , do nosso Eu . Eu e consciência são a mesma coisa . Ego e inteligência são outra coisa . A inteligência pensa , a consciência conscientiza , de maneira que , orar sempre não é pensar , não é falar , é ter a consciência do seu Ser . Naturalmente que quem se identifica com o seu ego intelectual não pode conscientizar . Agora , aquele que já descobriu a sua alma , o seu Eu espiritual , pode perfeitamente conscientizar a Presença de Deus .
O evangelho diz : " Eu e o Pai somos um , o Pai está em mim e eu estou no Pai " . Isto é conscientizar a Presença de Deus .
Não podemos pensar em Deus durante 24 horas do dia , somente se não fizermos mais nada fora disto , suspender todo o trabalho profissional e pensar em Deus , mas isso não é possível .
Agora , concientizar a Presença de Deus é perfeitamente compatível com qualquer trabalho .
Podemos trabalhar em qualquer profissão , dentro de uma consciência da Presença de Deus .
Conscientização é uma coisa muito parecida com respirar . Se alguém dissesse : " Você tem que respirar sempre e nunca deixar de respirar , por que se você deixar de respirar você morrerá em cinco minutos ! " Isso é natural e todo mundo o sabe ! Mas se a pessoa dissesse : " Eu não posso respirar sempre por que tenho que trabalhar ! " Mas que bobagem é essa ? Ora , é a mesma bobagem que estão cometendo quanto a pratica espiritual ... Dizer que não podem conscientizar a Presença de Deus por que tem que trabalhar numa fábrica ou tocar um tipo de negócio ... A respiração impede o nosso trabalho ? Em absoluto , pois ninguém se preocupa com a respiração , durante as suas atividades do dia . As pessoas vão dormir tranquilamente e continuam a respirar .
A Oração Permanente de que fala o grande mestre , é uma respiração da alma e nada mais . Assim como o corpo respira constantemente para poder viver . Quem não respira espiritualmente , seu viver não tem qualidade .
Duas coisas são necessárias para podermos viver fisicamente : comer e respirar .
Podemos deixar de nos alimentar por vários dias , através de jejuns , e não morrer , mas não podemos ficar sem respirar . Em cinco minutos , a falta de oxigênio nos mata . O oxigênio do ar é vida para o nosso corpo . Das comidas , extraímos as calorias . As calorias não são tão necessárias quanto o oxigênio .
Os mestres exigem que oremos sempre e não nunca deixemos de orar . Na nossa linguagem , podemos traduzir esta exigência por :
" Tende sempre a consciência permanente da Presença de Deus " - mas nunca pensando em Deus como uma pessoa . Deus é a vida Universal do Cosmos . Esta Vida Universal nos alimenta quando vivemos dentro da consciência cósmica da Presença de Deus . Para isto , não se faz necessário pensar . É um estado de consciência .
Os grandes mestres não recomendam uma meditação intermitente , uma hora por dia , eles exigem uma meditação permanente , 24 horas por dia . Isso não no sentido de um ato , mas sim num sentido de um estado . Não no sentido de um processo analítico de pensamento , mas sim , no sentido de uma consciência simultânea e permanente .
Isto para os principiantes é difícil de compreender , mas , se você se habituar a este estado de consciência , não a um ato de pensamento , você irá verificar que a oração permanente ou o estado permanente da Presença de Deus , não impede nenhum trabalho , pelo contrário , torna todos os trabalhos mais fáceis .
Quando alguém se habituou a viver na consciência da Presença de Deus , ele verifica que os seus trabalhos outrora antipáticos se tornam simpáticos , outrora odiados , se tornam até amados . Ele pouco a pouco descobre que trabalhar não é dever compulsório , mas sim , um querer espontâneo . Quando alguém passa do maldito dever para o bendito querer , então está tudo resolvido , por que o grosso da humanidade só trabalha por um maldito dever . Elas dizem que infelizmente tem que trabalhar para poder viver e sustentar a si e a sua família . Quando o trabalho é um maldito dever é um trabalho antipático . Quando o trabalho se transforma num bendito querer então o trabalho fica com gosto .
Todos os grandes iniciados trabalhavam muito ; nenhum deles foi preguiçoso . Nenhum deles arranjou aposentadoria permanente para não trabalhar mais . Todos trabalhavam , mas , os verdadeiros iniciados trabalhavam por um bendito querer e não por um maldito dever .
Um dos mais modernos iniciados , Joel S . Goldsmith , que escreveu o maravilhoso livro ( A Arte de Curar pelo Espírito ) , diz : " na primeira metade de minha vida , eu trabalhava para viver . Na segunda metade da minha vida , eu vivo para trabalhar " . Note bem como ele inverteu o programa : primeiro ele trabalhava para viver - o maldito dever de trabalhar ... Com o suor do teu rosto , ganharás o teu pão . Isto é dos não iniciados . Ele dizia que trabalhava para viver , mas que depois que entrou na iniciação espiritual , passou a viver para trabalhar . Todos nós , sem exeção , podemos chegar a este ponto . Isto vai depender do estado de consciência da pessoa , pois o trabalho é o mesmo . O que pode ser diferente é o motivo pelo qual se trabalha : ou por dever ou por querer . Dever é desagradável , querer é agradável . O dever nos faz escravos , o querer nos liberta , nos torna servidores .
Quem faz o que deve é escravo . Quem não faz o que deve é um mal escravo .
Quem faz por querer , faz com alegria , boa vontade , entusiasmo e amor e por isso , é livre e feliz .
A Oração permanente não impossibilita o trabalho profissional , muito pelo contrário , qualifica-o , torna-o gostoso e agradável . A Baghavad Gita recomenda : Trabalhar intensamente , mas renuncie a cada instante aos frutos do teu trabalho ... não trabalhar por causa do resultado , mas por causa da autorealização . No Evangelho diz o Nazareno : " Quando tiverdes feito tudo o que devíeis fazer , dizeis : agora somos servos inúteis , cumprimos a nossa obrigação , nenhuma recompensa merecemos por isso ! " . Não é trabalhar por recompensa , seja recompensa terrestre ou celeste , mas sim , por amor a sua autorealização , ao aperfeiçoamento do seu espírito , da sua alma - isto é um trabalho bendito !
Todos os grandes mestres recomendam aos seus discípulos que tenham duas asas para voar .
Você já viu algum avião voar com uma só asa ? Nenhum inseto voa com uma asa ... Uma asa só ,
por mais bela e forte que seja , não serve . As duas asas que os grandes mestres recomendam são : 1. Orai sempre e nunca deixeis de orar 2. Quem não renunciar a tudo que tem , não pode ser meu discípulo .
A primeira asa é muito simpática , mas a segunda para os não iniciados , é muito antipática . Por que entendem que renunciar como uma coisa muito dolorosa . Eles logo compreendem por coisas materiais como dinheiro , casa , automóvel e outras coisas mais . Isso não é muito importante . Muito mais necessário é renunciar a si mesmo , que é muito mais importante do que renunciar objetos .
Mas , o que vem a ser renunciar a si mesmo ?
Quem não conhece a natureza humana não pode compreender estas palavras . Para esta pessoa , renunciar a si mesmo parece com suicidar-se . Mas isto não resolve nada , só piora a situação .
Enquanto a pessoa se identifica com o seu ego , não renunciou a seu ego . Somente quando descobre que não é o seu ego físico-mental-emocional , o seu invólocro humano , que isto ele tem , mas que isso ele não é , que ele é o seu espírito , a sua alma , a luz do mundo , a pérola preciosa ... Então , ele renunciou .
Renunciar é o descobrimento da verdade sobre si mesmo !
Quem não entrou no autoconhecimento , não renunciou ! Renunciou a que ?
Aqui não se trata de renunciar objetos externos , impessoais , trata-se de renunciar a um objeto pessoal , interno , chamado ego . Dentro de nós existe uma ilusão de nos identificarmos com o nosso ego humano e é justamente isso que devemos renunciar . Mas como renunciar esta ilusão ? Uma ilusão só pode ser combatida pela verdade . Ilusão é escuridão , verdade é luz ! É possível combater a escuridão a não ser pela luz ? A ilusão de que eu sou o meu ego é uma treva , a verdade de que eu sou a minha alma é luz . Só podemos combater a ilusão de somos um ego , pela ação da luz do autoconhecimento . Luz é presença , treva é ausência . Onde há 100% de presença há 0 de ausência .
O que os mestres recomendam é puro autoconhecimento e isto , cada um deve fazer .
Cada um precisa responder satisfatoriamente a pergunta : Quem sou eu ? Quando o homem chega a conclusão de que é o espírito de Deus em forma individual , então , está liberto de toda ilusão .
Deus é Espírito Universal .
Eu sou o espírito de Deus em forma individual . Eu sou uma emanação espiritual da Divindade Universal .
Então , a segunda asa é a renúncia . Quando se fala em renúncia , quase todo mundo se choca e pensa que se trata de uma renúncia a nível material externo . Pensam que renunciar é jogar tudo fora , perder tudo , ficar com nada ... Isso não é verdade , pois a renúncia não se refere a coisas materiais , mas sim , mentais . A nossa falsa mentalidade ego é que deve ser renunciada .
Se alguém renunciar a ilusão da sua mentalidade errada , então ele é completamente livre .
Só então ele é um discípulo dos grandes mestres .
Se alguém renunciou a sua identificação com o seu ego e depois olhar para os seus bens materiais lá fora , será que ele tem dificuldades em renunciar a estes bens ? Não tem nenhuma dificuldades ! A dificuldade é a renuncia interna e não a renuncia externa , pois isto é uma consequência de um transbordamento que pode ser constatado na vida de todos os grandes homens da história . Os inexperientes pensam que seja difícil a renuncia aos bens materiais . Os iniciados sabem que a renuncia aos bens materiais é simples brincadeira . É coisa tão fácil como beber um copo d'água , pois o que é realmente difícil é renunciar ao seu ego mental , não ao seu ego material .
No nosso século Mahatma Gandhi e Albert Shuawaseir fizeram a grande renuncia material colocando todos os seus bens materiais a serviço da humanidade .
As coisas materiais nunca foram nossas , isso é pura ilusão . Nosso foi o nosso ego mental e esse é muito nosso , pois é um objeto pessoal . Os bens externos são bens impessoais . Renunciar as coisas impessoais não é muito difícil , agora , recusar as coisas pessoais , aí sim é difícil ! Quem passou pela maior aventura da renuncia pessoal , faz brincando a renuncia material por isto é apenas uma consequência !
Então , todos os grandes mestres exigem que voemos com duas asas , que são a asa da oração e a asa da renúncia . O engraçado é que muitos estão dispostos a criar a primeira asa da oração , mas quando se deparam com a segunda asa da renúncia , então retrocedem temerosos e tentam voar apenas com uma das asas . O resultado é que não conseguem voar !
Mas aquele que se abituou a oração , a consciência , não acha difícil a renuncia mental por que se ele já está convencido de que ele é a alma , de que ele é o espírito , ele também com a maior facilidade renuncia a ilusão de que ele seja o ego , por que se ele é o Eu , ele não pode ser o ego .
Uma coisa é a consequência da outra , de maneira que propriamente não são duas coisas ; parecem ser duas coisas , oração permanente e renuncia total , mas no fundo são uma coisa só .
Por que aquele que já fez a oração permanente , também já fez a renuncia do seu ego , por que a oração permanente é incompatível com a identificação com o ego . O ego de fato não é o Eu .
Logo as duas asas quase se identificam ... Oração permanente e renuncia total , no fundo são duas asas , mas logo chegamos a conclusão de que podemos voar com uma asa só , contanto que as duas asas sejam identificadas apenas numa . Então , tudo virá como que um " helicóptero " no final , por que o helicóptero não tem duas asas . O avião precisa de duas asas para voar , mas o helicóptero não tem nenhuma asa e por isso ele pode subir em linha vertical . O avião precisa de uma enorme linha horizontal para subir .
Quem descobriu que oração é renuncia e que renuncia é oração identificou as duas asas do avião numa só e pode subir na vertical feito um helicóptero .
Esta é a grande verdade descoberta pelos grandes mestres .
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará !
Quem não tem asas tem que rastejar . Então , o principal está em criarmos asas para podermos voar .
Uma minhoca não voa e se ela vê uma águia voando nas alturas , acha uma bobagem . Quem é minhoca , não pode compreender a liberdade de ser águia , prefere continuar rastejando , comendo húmus por debaixo da terra da sua ignorância . Mas , quem já não é minhoca e já tem consciência espiritual de águia , não se contenta com uma vida debaixo da terra , quer alçar vôo à luz do sol .
Isso é uma questão de desenvolver a consciência . A nossa evolução vai a espaços mínimos em espaços máximos . Precisamos muito tempo para dar um passo na evolução ascensional . Rastejar na horizontal é fácil por que isso não exige esforço nenhum . Deixar-se cair para baixo ainda é mais fácil . Involução é para baixo , estagnação é na horizontal e evolução é na vertical . Temos apenas estas três possibilidades .
Involução é regresso . Estagnação , rotina . Evolução , para cima . A única difícil é a evolução . A estagnação é inércia , é ficar sempre no mesmo plano , empurrando a vida com a barriga ... Meus pais viveram assim , meus avós viveram assim , eu vou viver assim e os meus filhos e netos também vão viver assim . Isso é estagnação e quase todo mundo gosta de estagnação , ou se preferir , normóse . O que os outros fizeram , eu vou fazer também ! Deixa como está para ver como vai ficar isso ! O ego adora uma estagnação , pois a mesma não exige esforço , é comodismo , é inércia horizontal , é ir adiante , mas nunca ir para cima ! Para cima já é esforço . Mas fácil ainda é regredir , ir para baixo , involução ainda é mais fácil do que a estagnação ... E muitos gostam disso !
Quem pensa está na horizontal .
Quem não pensa vai abaixo da horizontal .
Quem conscientiza vai para cima , vai para as alturas .
Quem pensa fica só na horizontal , fica sempre na mesmice de milênios atrás . Não sai da rotina . O grosso da humanidade prefere o rotineiro . Para eles , o principal é continuar na normóse da horizontalidade .
Toda evolução exige esforço e o ego não gosta de esforço , por que ele é amigo da lei da inércia e do menor esforço .
Quem nunca saiu da consciência do ego , não vai sair da horizontalidade , se satisfaz com tudo aquilo que os seus antepassados fizeram e que ele espera que os filhos também o façam . Pronto ! Isto continua na horizontal .
Existem uns poucos , uma pequena elite que se animam a sair da horizontal para a vertical . Eu digo para a vertical , mas isso não é possível em pulo só . Ninguém pode dar um pulo de O para 90 graus .
Entre o O da horizontal e o 90 da vertical está o nosso grande problema . Temos que fazer um trabalho de desenvolvimento ascensional de O a 90 . Durante todos este processo , antes do homem chegar no 90 da verticalidade , corre ele , o perigo de recair no processo evolutivo . Somente quando o homem atinge os 90 graus é que está livre de qualquer recaída no terreno do desenvolvimento espiritual , por que uma linha rigorosamente vertical , a prumo , nunca pode cair . Quando se constrói um edifício , os construtores tomam o maior cudado para que o mesmo esteja bem a prumo . Quem não está em verticalidade está em perigo de cair para o O da horizontalidade . Isto é uma lei da mecânica e da física . A viagem entre o O da horizontal e o 90 da vertical é o nosso problema .
Ninguém está seguro entre o O e o 89 , por que neste espaço , sempre podemos cair . Mas o mais interessante , é que quanto mais nos distanciamos do O e mais nos aproximamos do 90 , menor é a tendência de recair . Quando estamos no meio da jornada , nos 45% , não temos tanta tendência de recair . Quando chegamos ao 90 , acabou-se o perigo de recair , pois é o que chamamos de autorealização .
Iniciação é do 0 para o 1. De 1 a 89 ainda estamos na crença de Deus e por isso ainda somos propensos a recaídas . Do crer a pessoa pode cair para o descrer. Quem chegou à experiência espiritual do seu Eu Divino está definitivamente garantido. Do saber a pessoa nunca nais pode cair para o não -saber. A autorealização não vem de fora, ela vem da conscientização da nossa realidade espiritual. Quem se conscientizou como sendo Espírito de Deus, não pode saber mais se identificar com o seu pequenino ego humano.
A pessoa pode ter a crença que for, pode crer quanto quiser, mas por nenhuma crença poderá estar segura, por que do crer existe a possibilidade de um regresso para o descrer. A pessoa só pode estar absolutamente segura a partir da experiência pessoa de Deus, quando experimenta em si mesma :'' Eu e o pai somos um''. Somente um ângulo reto pode retificar a nossa vida. Retificação é autorealização.
Será que podemos chegar a retificação na vida presente ? Sim podemos ! Não foram muitos que conseguiram esta retificação , do tipo Paulo Tarso, Mahatma Gandhi, Frascisco de Assis, Albert Shuaisteser e outros. Os grandes retificados, os grandes místicos são aqueles que tiveram a experiência pessoal de Deus, não a crença de Deus, mas a experiência de Deus e através dela, chegaram à absoluta certeza de que nunca mais poderiam recair ao padrão anterior de pensamento, sentimento e ações.
Da experiência não a regresso para a inexperiência .
Da crença há regresso para a descrença . Por isso , a crença não garante a nossa autorealização .
A crença é um caminho para a experiência , mas muitas vezes , não se chega até lá . Quem para na crença não pode se sentir muito seguro . A crença pode ser como uma boa vontade , mas não é muito sabedoria . É preciso muito mais que boa vontade - boa vontade ainda é crença . É preciso sabedoria , que é fruto direto da experiência . Somente aquele que chegou a experiência vertical de Deus , pode ter a absoluta certeza de que não vai mais recair .
A meditação é o instrumento pelo qual buscamos por 100% da consciência da realidade espiritual que somos . É por meio da meditação que podemos não mais nos iludir com dúvidas ou incertezas .
É pela verdadeira meditação , que podemos chegar a certeza da nossa identidade essencial com o Espírito de Deus .

Texto : Huberto Rohden
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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Deixa que o outro Seja o que é !

Fonte abundantíssima de infelicidade brota da mania que muitas pessoas têm de querer " converter " outros ---- não para Deus , mas para seu próprio ego . Isso acontece sobretudo entre casados . A mulher quer obrigar o marido a pensar como ela ---- e ele , por seu turno , faz a mesma tentativa . E assim andam os dois num eterno círculo vicioso , que se chama discórdia , infelicidade .
É que cada um de nós vive na ilusão tradicional , inspirada por nosso inveterado egoísmo , de que nossa opinião é a mais perfeita , talves a única verdadeira e capaz de salvar a humanidade ; se todos os outros pensassem e agissem como nós , a humanidade seria definitivamente feliz ... E por isso tentamos impor e impingir as nossas idéias e caprichos aos outros , sobretudo às pessoas que conosco vivem sob o mesmo teto .
Uma das nossas revistas ilustradas pediu a seus leitores que definissem o sentido de certas palavras da gíria popular , entre elas o termo " boboca " . Uma leitora definiu essa palavra do modo seguinte : " Boboca é toda a pessoa que não pensa como eu " . É essa a opinião de todo egoísta incorrigível : quem não pensa como eu é boboca .
Mulher , deixa teu marido tão selvagem como encontraste da primeira vez ! Não procures domesticá-lo ! Não tentes amansa-lo , modifica-lo , reduzi-lo a um fantoche que obedeça automaticamente ao impulso dos cordéis dos teus caprichos femininos e das tuas predileções pessoais ! O homem é selvagem por natureza , e selvagem ficará para sempre ...
Também , que coisa monótona seria se teu marido fosse um boneco de engoço , uma dócil marionete que sempre dissesse " sim " quando tu dizes " sim " , e dissesse " não " quando tu dizes " não " ? ... Se tal coisa conseguisses do teu companheiro de vida , estou certo de que amanhã terias saudades dos tempos felizes , multiformes e multicores , em que ele era ainda " ele mesmo " , aquele " ele " autêntico , não-falsificado , não-domesticado , fascinantemente selvagem , e não insipidamente monotonizado como o fizeste ...
Homem ! por que queres reduzir a tua Eva a um punhado de argila amorfa , a ser manipulada por ti segundo os teus gostos e caprichos masculinos ? Não vês que é muito mais interessante que ela continue a ser o que é , sempre foi e sempre será ? Quando a encontraste , moça independente e original , naquele baile , naquele piquenique , naquela viagem ---- lembras-te ? ---- ela era uma florzinha natural que florescia feliz à beira do caminho , um tanto empoeirada , talvez , mas autêntica e genuinamente " ela mesma " . Deixa que ela , sob o seu teto , continue tão original e única como a encontraste , na alvorada primaveril do teu amor . Não faças da tua poética florzinha natural uma prosaica flor artificial de papel ! Embora essa flor de papel tivesse exatamente a forma e a cor que lhe queres impingir , ela deixaria de ser aquela que encontraste naquele dia feliz ; seria obra tua , feita à tua imagem e semelhança , mas não já " ela mesma " . É melhor a mais humilde florzinha natural e viva do que a mais deslumbrante flor artificial de papel inerte .
Mas , exclamará o leitor , a leitora , se ele continuar " selvagem " como foi , se ela continuar " original " como naquele tempo ---- poderá haver paz e harmonia em nosso lar ? Como poderão concordar entre si dois elementos tão heterogêneos , como o autor parece estar advogando ?
É precisamente aqui que está o grande erro ?
Harmonia não é caos ---- mas também não é monotonia . Harmonia supõe diversidade de gênios e gostos . Essa diversidade tem de continuar a existir . Ninguém deve deixar de ser o que é . Extinguir o modo individual e característico de pensar e sentir dele ou dela seria o mesmo que decretar a mais insípida monotonia , criar um clichê ou chavão , que ninguém suportaria por muito tempo .
Entretanto , manter essa diversidade não quer dizer viver em conflitos e discórdias . Não aceitar as opiniões da outra parte , discordar sempre , contradizer em tudo , rejeitar qualquer sugestão , seria reduzir a sociedade conjugal a um caos e um inferno .
Todo o segredo da harmonia ---- equidistante da monotomia e do caos ---- está na integração , em saber adaptar o seu próprio caráter e gênio ao caráter e gênio do outro , fazer de si um complemento do outro . Integrar não quer dizer identificar , como não quer dizer destruir , é completar .
Há no organismo humano enorme variedade de células , servindo cada grupo a uma função peculiar . O grupo A é diferente do grupo B , que é diferente do grupo C . Se A fosse idêntico a B a C , não seria possível o funcionamento orgânico do corpo . Se A guerreasse com B , e B com C , não seria possível a vida orgânica . Mas o segredo do organismo não está na identificação dos elementos vários , nem na sua destruição ou conflito mútuo , mas sim numa completa integração de cada grupo no todo e na colaboração dos diversos grupos entre si , resulta esse maravilhoso equilíbrio rítimico que é a vida e o bem-estar do organismo .
Toda a natureza se baseia no princípio da bipolaridade complementar : nada é igual e nada é contrário ---- tudo é complementar . O pólo positivo da eletricidade não é o contrário do negativo , mas lhe é complementar . Se um fosse o contrário , os pólos se destruiriam reciprocamente , e não teríamos luz , calor e força , que são a complememtaridade dos pólos . No átomo , o pólo positivo próton não é contrário ao pólo negativo elétron , mas é complementar .
Se o masculino fosse o contrário do feminino , teríamos total destruição ; se fossem idênticos , não teríamos vida em séries , mas estagnação e nulidade .
Imagine-se que todas as flores da natureza tivessem a mesma forma e cor ! Que todas fossem rosas , ou lírios , ou cravos ! Que insuportável monotonia seria essa !
Unidade na variedade , e variedade com unidade ---- é essa a característica da natureza , é esse o segredo da harmonia , beleza e felicidade .
Deixa , pois , mulher , de querer converter teu marido para os teus gostos pessoais ! Acrescenta os gostos dele aos teus ! Enriquece-te com o que ele tem de bom e positivo , e verás que tua vida fica mais bela e abundante do que se eliminasses tudo o que é dele e só ficasses com o que é teu .
Desiste , ó homem , de querer uniformizar tua companheira com tuas opiniões ! Permita-lhe que seja o que é e deve ser , e acrescenta às tuas boas qualidades dela !
Quanto aos aspectos negativos de cada um , os defeitos e deficiências ,convém recordar aquilo que o grande Mestre disse do " argueiro no olho do próximo e a trave no olho próprio " . Neste setor , como já lembramos , há uma técnica maravilhosa que nunca falha , e consiste no seguinte : Atribuir a teu próximo as virtudes que descobres em ti ---- e atribuir a ti as faltas que descobres no próximo . Pode ser que essa técnica falhe de vez em quando ; mas o fato é que pelo menos em 90% dos casos dá certo .
O egoísmo é duro , inflexível , quebradiço como vidro .
O altruísmo , o amor , é resistente , mas flexível e adaptável como mola de aço .
Deus não creou mercadorias em série . Todas as obras de Deus são originais , inéditas . Não há cópias e repetições na natureza ; cada planta , cada inseto , cada animal , cada ave , até cada flor e cada folha é uma obra de arte original , que nunca será repetida da mesma forma .
Sobretudo , cada ser humano é único no seu modo de ser . Por isso , ninguém deve exigir de A que seja como B . Deus não creou gente . Deus creou indivíduos , personalidades , diferenciadas umas das outras . Não vamos , pois , nivelar o que Deus diferenciou . Uma sociedade que constasse de gente amorfa , e não de indivíduos multiformes e multicores , seria monótona e intolerável . Mas cada um desses indivíduos , em vez de ser individualista e separatista , deve cooperar com os outros indivíduos , a fim de formar o maravilhoso mosaico ou esplêndido organismo da vida abundante .
Entretanto , tudo o quanto aqui vai exposto não passa de uma ligeira indigitação , teórica e vaga ; se o leitor quer saber mesmo como é na realidade , terá de praticar durante algum tempo o que acabamos de dizer ; porque , em última análise , saber não quer dizer ter lido ou ouvido ; saber é viver , experimentar , saboriar .
Quem vive aquilo que acabamos de expor saberá que é verdade , e nunca se arrependerá dessa vivência .
Onde há boa vontade , aí há um caminho aberto .
A vontade sincera e sadia de querer servir , em vez da mania mórbida de querer ser servido , é a chave da compreensão e da felicidade .
As almas mesquinhas querem ser servidas ---- as almas grandes querem servir ...


Texto : Huberto Rohden
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Após o Egocídio !

Meu era o dinheiro .
Meu era o corpo .
Meu era o intelecto .
Meu era isto .
Meu era aquilo .
Tudo era meu .
Só meu-e de mais ninguém .
E , para constar que tudo aquilo era meu ,
Eu fazia seguros de vida e de bens ,
Assinava , sobre estampilhas oficiais ,
Com firma reconhecida ,
Solenemente carimbado ,
Que isto e aquilo era meu ,
Meu somente...
Tamanha era a insensatez da minha sensatez !
Tão inseguro era eu , que tantos seguros necessitava !
Eu era senhor de tantos " meus " ?
Porque ainda ignorava o meu verdadeiro Eu ,
Que não necessita de " meus " nem de " seguros " .
Identificava-me com meu pseudo-eu ,
Com o meu ego personal .
Que necessita de " meus " e de " seguros " ,
Porque é um pseudo-eu muito inseguro ...
Quem de tudo necessita é um necessitado , um pobre indigente .
Agora , porém , que ultrapassei o meu pseudo-eu ,
Aboli quase todos os " meus " .
Também , para que ainda defender os fortins de " meus " ,
Depois que se rendeu a fortaleza do pseudo-eu ?
Aqueles " meus " só tinham uma razão-de-ser :
Garantir a existência do falso eu .
Mas agora que o falso eu morreu ,
Agora que cometi o arrojado egocídio do ego - para que ainda manter esses velhos fortins ,
Que o ego erguera em sua defesa ?
Para que fortificar ainda o cadáver do ego ?
Naquele tempo , toda a segurança me vinha de fora , da parte desses " meus " .
Hoje , toda a minha segurança me vem de dentro , da alma do meu divino Eu .
E , sob a égide do grande Eu , se sente seguro até o pequeno ego .
Ressuscitou para uma vida nova .
Integrou-se , finalmente , no Eu divino .
Morreu o ego para o ego e reviveu no Eu .
Se o ego não morresse , ficaria estéril ; mas agora que morreu para si , e ressurgiu no Eu
Produz muito fruto ...


Texto : Huberto Rohden
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A Sabedoria dos Grandes Educadores !

Escreve o insigne Albert Schweitzer que nossa teologia cristã criou uma espécie de soro que , uma vez injetado ao homem , o imuniza contra o espírito do Cristo ; de tão saturado de cristianismo ( do " nosso " cristianismo ) , julga supérfluo o Cristo .
Mahatma Gandhi fez idênticas experiências com os missionários cristãos que tentavam convertê-lo ao nosso cristianismo ; a todos eles respondia o grande líder político e espiritual da Índia : " Aceito integralmente o Cristo e seu Evangelho , mas não aceito vosso cristianismo " .
Sobretudo no setor educacional se verifica essa substituição do Cristo pelo cristianismo , do Evangelho pela teologia .
O Evangelho do Cristo , vivido em sua verdade e pureza , oferece a melhor base para a educação .
Antes de tudo , revela Jesus uma profunda reverência pela natureza humana . Para ele , não existe criança concebida em pecado ; todo homem é essencialmente bom e puro , a princípio ; só mais tarde se torna mau pelo abuso da sua liberdade . Não encontramos nas páginas do Evangelho uma única palavra de Jesus que justifique a idéia teológica do " pecado original " . Essa ideologia nasceu fora do Evangelho e foi , mais tarde , introduzida nele pelos teólogos cristãos . Já aparece nos últimos quatro séculos do Antigo Testamento , no seio da sinagoga de Israel decadente . Pelo ano 400 antes da era cristã , faleceu Malaquias , o último dos profetas de Israel , e nos quatro séculos subsequentes os sacerdotes hebreus tomaram a direção espiritual do povo . Mas a orientação sacerdotal era visceralmente legalista ; segundo eles , a salvação vinha da aceitação e aplicação de certas fórmulas rituais ; era a letra da lei que salvava o homem , e não o seu espírito .
Durante esse período de decadência surgiu na sinagoga a doutrina de que o homem é mau e pecador por natureza e que só a lei o pode libertar do pecado .
Foi divinizada a lei , e , para que a lei tivesse o máximo de prestígio e poder , foi o homem reduzido ao mínimo , declarado pecador em virtude de sua própria natureza ; e assim o nadir da natureza humana elevava ao Zênite a força da lei .
Mais tarde , no início da era cristã , foi a lei substituída pelo Cristo , mas o paralelismo continuou : para que o Cristo tivesse o máximo de valor , foi o homem reduzido ao mínimo do desvalor - surgiu a paradoxal ideologia teológica do " homem pecador " , a teoria do " pecado original " .
Jesus não aceita essa doutrina . Para ele , o reino de Deus está dentro do homem , e só de dentro é que ele pode vir e manifestar-se na vida humana . " O reino de Deus não vem com observâncias ( externas , rituais ) , nem se pode dizer : ei-lo aqui ! ei-lo acolá ! - o reino de Deus está dentro de vós " .
Com estas palavras categóricas reafirma o Nazareno a verdade antiquíssima , mas no seu templo obliterada , de que o homem é remido pelo elemento divino que nele existe virtude da sua própria natureza .
Bem cedo , porém , já no primeiro século , penetrou no corpo do cristianismo primitivo o elemento judaico sobre a essencial pecaminosidade do homem , fato que se explica pela circustância de terem os primeiros líderes da igreja cristã vindo do judaísmo , introduzido inconcientemente no cristianismo nascente certas ideologias da sinagoga . A idéia da essencial maldade do homem deu ao cristianismo primevo , e posterior , um colorido dualista e pessimista , influindo profundamente no conceito do processo da redenção .
Jesus , porém , não sucumbiu a essa ideologia , razão porque se incompatibilizou com os chefes da sinagoga ao ponto de o levarem à cruz .
Um dia , refere o Evangelho , estavam os discípulos do Nazareno discutindo quem deles era o maior no reino de Deus ; e cada um deles fazia valer os seus pretensos títulos e direitos a essa primazia .
Ao que o Mestre chamou uma criança , colocou-a no meio dos litigantes ambiciosos e disse-lhes : " Se não vos converterdes e tornares como esta criança , não entrareis no reino dos céus " .
É evidente que Jesus considera essa criança como habitante do reino de Deus ; pois seria absurdo supor que ele propusesse um modelo impuro aos impuros . Essa criança , porém não fora " purificada " por nenhum rito legal ou sacramental , que não existia ; era pura assim como nascera e fora concebida ; nunca tivera impureza alguma . Exige Jesus que seus discípulos , feitos impuros por culpa própria , se tornem puros por esforço próprio , assim como aquela criança era pura por sua própria natureza .
Em outra ocasião ameaça Jesus com terrível castigo àqueles que levarem a pecado um daqueles pequeninos que crêem nele , porque os seus anjos contemplam sem cessar a face do Pai dos céus . Ora , nenhuma dessas crianças hebréias " cria " em Jesus mediante ato consciente de fé ; ninguém o conhecia , o Nazareno era para elas apenas um bom rabi judeu , e nada mais . O " crer " dessas crianças não era um ato , mas uma atitude interna , um modo de ser em harmonia com Deus - o que prova que essas almas eram boas e puras , e não pecadoras e inimigas de Deus . Também seria absurdo supor que os anjos de Deus tanto se desvalessecem pela proteção de um bando de pequenos pecadores . E como podiam os pecadores adultos levar ao pecado essas crianças se elas já estivessem em pecado ? ...
Por esta mesma razão também não mandou Jesus batizar criancas , e o próprio João só batizava adultos . O batismo de João , a que Jesus alude , só visava pecados pessoais , e não algum pecado original que os batizados tivessem herdado de seus antepassados , como a teologia de hoje ensina .
Sobre esta positiva do Evangelho de Jesus Cristo é possível erguer o edifício de uma educação sólida - ao passo que a teologia eclesiástica corrente , quer desta , quer daquela igreja , é totalmente inapta para oferecer base conveniente .
O descalabro da nossa educação tem suas raízes em séculos anteriores . Aqui no Brasil começou em 1500 , mas em outras partes começou muito mais cedo , talvez em 313 , quando , pelo edito de Milão , o imperador pseudo cristão , Constantino Magno , deu início à substituição do Evangelho do Cristo pela teologia dos cristãos .
Se não voltarmos decididamente ao espírito crístico do Evangelho , não teremos base eficiente para uma nova educação . Teremos a coragem de realizar tão arrojada aventura ? E teremos do nosso lado as autoridades públicas , que em geral , não se interessam pela qualidade do cristianismo , mas sim pela quantidade dos eleitores que lhes garantem poder e prestígio social e político ? Necessitamos de um pugilo de heróis para realizar o grande ideal de uma nova educação !

Texto : Huberto Rohden
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