quarta-feira, 23 de novembro de 2011

" Arthur Schoppenhauer "

É em Parerga e Paralipomena , de 1845 , que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer traça uma vertiginosa ligação entre o homem e os animais .
E o faz em um aspecto central da existência humana : a dor .
Ela é algo que abrange somente o aspecto fisiológico , nervoso e físico do homem ? Ou tem a ver também com a mente , a razão e a inteligência ?
Nessa profunda e sofrida reflexão , o autor ; embora não se tenha certeza de que era mesmo vegetariano , funda um pensamento que será de muita ajuda à causa animal e de grande importância no começo do século 19 .
" Portanto , porque a moralidade cristã exclui animais de consideração , eles ficam banidos na moral filosófica , são meras ' coisas ' , meros meios para quaisquer fins que sejam " - escreveu o filósofo .
" Podem , portanto , serem usados para a vivissecção , caça , corridas , touradas , e podem ser chicoteados até a morte enquanto lutam com suas pesadas carroças com pedras .
Vergonha pela tal moralidade que é digna de párias e da escória , que não consegue reconhecer a essência que existe em cada ser vivente ! "
As influências filosóficas
A história de Schopenhauer começa em 1788 ( um ano antes da Revolução Francesa ) numa rica família de Danzica , na Alemanha : o pai era um bem-sucedido comerciante e a mãe uma mulher de letras . Embora oferecesse uma educação o mais cosmopolita possível , Heinrich Floris Schopenhauer queria que o filho o seguisse nos negócios .
Planos que o jovem encarava com má vontade . Bem cedo , Heinrich se deu conta de que o filho gostava mesmo era de estudar ; e foi assim que Arthur se dedicou à medicina . Mas , em 1805 , devido a problemas financeiros , o pai se suicida ; e a mãe se muda para Weimar - cidade onde vivia o célebre poeta , romancista e dramaturgo Johann Wolfgang Goethe .
Sem a pressão paterna , Schopenhauer pôde se dedicar aos estudos filosóficos , sem se tornar ortodoxo . A multidisciplinaridade de Goethe , sutil observador da natureza e dos fenômenos científicos , o contagiou mais que o pensamento dos filósofos dominantes da sua época , como Hegel - quem , aliás , Schopenhauer detestava .
Apesar de alguns fracassos nos negócios , o pai deixou a família com uma certa riqueza , permitindo que a mãe fundasse um círculo literário . Assim , Arthur concluiu seus estudos filosóficos , não sem antes viajar pela Europa .
Por fim , se estabiliza em Berlim , onde passa a ensinar na universidade local .
Em 1818 , então , Schopenhauer publica sua obra maior - O Mundo como vontade e representação - praticamente ignorada pelo ambiente filosófico e que desafiou o contexto da época pós-iluminismo , quando o homem se conferiu status especial por pensar .
Com fama de solteirão e misantropo , o filósofo não gostava da vida mundana .
Apesar da longa relação com Caroline Richter nunca se casou . Acabou se fixando na cidade de Franckfurt perto do rio Meno , na Baviera alemã , e esperou pelo sucesso que só chegou em 1851 , com o ensaio Pererga .
De caráter difícil , solitário e fechado nos seus estudos , morreu em 1860 , deixando muitos discípulos , entre eles o compositor Richard Wagner .
Os direitos dos animais
Para Schopenhauer a sociedade é expressão do homem , e por isso , necessariamente corrupta , doente nos seus fundamentos . Concluiu que o mundo é uma construção que surge unicamente da vontade do homem e que este tem que encontrar a salvação dentro de si mesmo .
Essa é a revolucionária visão moral que será a raiz do fortíssimo respeito de Schopenhauer pela vida , todas as vidas " que podem olhar o sol " . Uma visão que inspirará Friedrich Nietzsche ( embora , mais tarde , Nietzsche reclamará distância do pessimismo de Schopenhauer ) e para o fundador da psicanálise , Sigmund Freud .
Por esses mesmos motivos , o pensamento de Schopenhauer funda a base teórica por uma visão moderna dos direitos dos animais .
O pensamento vegetariano , como em outros pensadores , é ao mesmo tempo revolucionário e uma crítica aos tempos e à sociedade . " A suposição de que animais não tenham direitos e a ilusão de que a maneira como os tratamos não tenha importância é um exemplo categoricamente chocante da crueza e barbárie ocidental . A compaixão universal é a única garantia de moralidade . " 
E acrescenta , na obra intitulada A base da moralidade : " O imperdoável esquecimento que os animais têm sofrido até então pelos moralistas da Europa é bem conhecido . Fingem que os animais não têm direitos . Procuram persuadir-se de que a nossa conduta em relação a eles não tem nada a ver com a moral ou ( para falar a língua de sua moralidade ) , que não temos deveres para com os animais ; uma doutrina revoltante , bruta e bárbara " .
Texto : Revista dos Vegetarianos nº 58
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