domingo, 23 de agosto de 2009

ASSIM DIZIA O MESTRE!!!


" Quem não odiar a sua própria vida não pode ser meu discípulo "
Quem não renunciar a tudo que tem não pode ser meu discípulo - dura era esta linguagem da renúncia aos bens externos - duríssima é a exigência de odiarmos a nossa própria vida .
Há milhares de homens que fazem a sua meditação diária - entretanto , pouquíssimos são os que conseguem cruzar a misteriosa fronteira que medeia entre a consciência telúrica do profano e a consciência cósmica do iniciado : o grande " Pentecostes " , o " renascimento pelo espírito " , a entrada no " terceiro céu " .
Por quê ?
Porque , para a maior parte das pessoas piedosas , a chamada meditação não passa de um dulçoroso devaneio , uma espécie de cochilo devocional , um tal ou qual namoro com o mundo espiritual , sem nenhum efeito radical e decisivo sobre a vida .
A verdadeira meditação , porém , não é nada disto ; é um trabalho imensamente sério , doloroso e árduo , pelo menos no princípio , porque é o rompimento duma barreira multisecular , ou no dizer do divino Mestre , um " caminho estreito e uma porta apertada . " O cochilo devocional é uma descida para o plano subconsciente , ao passo que a verdadeira meditação é uma subida ao plano superconsciente , uma entrada no misterioso mundo da Divindade . " O reino dos céus sofre violência , e os que usam de violência o tomam de assalto " .
Quem de fato entra em meditação ultrapassa não somente o mundo dos objetos , físicos e mentais , sentimentos e pensamentos dos sentidos e do intelecto , mas transcende também o próprio sujeito personal , o seu ego físico-mental .
Ora , é precisamente esse ultrapasse do sujeito personal que é extremamente difícil , uma vez que esse ego personal se nos apresenta como sendo o nosso verdadeiro Eu individual , o nosso Cristo interno , o espírito de Deus em nós , a nossa alma .
Enquanto o homem não descobrir o seu verdadeiro Eu , não pode abrir mão do seu pseudo-eu , seu ego personal , porque esse ego é , para ele , o que há de mais alto e perfeito em sua natureza .
A natureza tem " horror ao vácuo " . Não é possível realizarmos uma vacuidade de sentimentos e pensamentos , enquanto não tivermos uma plenitude maior que substitua essa vacuidade . A renúncia meramente negativa é impossível . É lei de psicologia que o homem não possa renunciar a um bem enquanto não conseguir outro bem maior . Só na presença de algo maior é que desaparece o menor . Ninguém pode perder a consciência físico-mental enquanto não adquirir a consciência espiritual . Ninguém pode abandonar o 10 enquanto não tiver a certeza de alcançar 15 ou 20 ou mais . A renúncia é um ato eminentemente positivo . O seu fim não é empobrecer , mas enriquecer o renunciante . Pela renúncia o homem " morre " , é verdade , mas morre para o pouco a fim de viver para o muito ; morre para uma vacuidade a fim de viver para uma plenitude . Pela renúncia , o homem transcende o que ele é , a fim de asceder ao que pode vir a ser ; ultrapassa uma colina a fim de atingir as alturas do Himalaia . Quem se agarra ao pouco não pode possuir o muito - por falta de renúncia creadora !
Na verdade , não há nada mais positivo e creador do que a renúncia voluntária .
A renúncia espontânea é o teste da força do homem .
Só o forte não tem medo de parecer fraco - renunciando .
O fraco tem de aparentar força - não renunciando .
Uma vez claramente visualizado um bem maior , pode o homem abandonar tranquilamente o bem menor , na certeza de que esse abandono não significa empobrecimento , mas enriquecimento .
Toda renúncia supõe , portanto , a compreensão e posse de algo maior e mais perfeito do que o objeto da renúncia .
Ninguém pode razoavelmente sacrificar a sua vida física enquanto não houver compreendido , com suficiente nitidez e firmeza , que existe uma vida maior e mais abundante do que a do corpo , e que a perda desta não é uma perda real , uma vez que a pequena vida perdida está contida na grande vida recém-adquirida .
Ninguém pode , por exemplo , renunciar ao impulso erótico enquanto não tiver saboreado as glórias da mística , como " eunuco do reino de Deus " . Depois de conhecer a mística por vivência própria , pode o homem abandonar a erótica , porque já não representa uma perda em face daquele lucro maior . O menor sacrificado por causa do maior é uma perda aparente , mas um lucro real , porque o menor integrado no maior adquire maior realidade do que antes tinha , quando separado .
A mística não é uma virtude , no sentido comum do termo ; é uma experiência , uma sabedoria , a compreensão vital da suprema Realidade . Enquanto o homem ainda tem sentimentos de heroísmo e virtuosidade , por ser bom , não é perfeito . A perfeição ignora esses complexos de heroísmo e virtuosidade , porque é inteiramente natural e espontânea .
A plenitude do ser eclipsa todo o desejo de ter .
Todos os pequenos teres estão contidos no grande ser .
Renunciar aos teres do ego humano a fim de ser o grande EU crístico é lucro e grande riqueza .
" Quem puder compreendê-lo compreenda-o ! "
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Texto : Huberto Rohden

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