segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

" A parábola dramatizada do pão e do vinho " ( Mt 26 , 26 - 29 ; Mc 14 , 22 -25 ; Lc 22 , 18 - 20 )

Instituição da Eucaristia . Durante a ceia tomou Jesus o pão , benzeu -o , partiu - o e deu - o a seus discípulos , dizendo : " Tomai e comei ; isto é o meu corpo " .
Depois , tomou o cálice , deu graças e o apresentou aos discípulos , dizendo : " Bebei dele todos ; porque isto é o meu sangue , do testamento que é derramado por muitos , em remissão dos pecados . Digo - vos , todavia , que a partir de hoje não mais beberei deste fruto da videira , até ao dia em que convosco o beber , novo , no reino de meu Pai ".




Pela fé assimila a alma o Cristo divino

Na última ceia dramatizou Jesus a mais misteriosa de todas as suas parábolas .
Até hoje , quase 2000 anos depois , a cristandade não compreendeu devidamente a parábola do pão e do vinho .
Já na Sinagoga de Cafarnaum , como consta no capítulo 6 do Evangelho de João , havia o Mestre aludido a esse misterioso paralelo : a relação entre o alimento e a vida , por um lado - e , por outro , a pessoa física do Jesus humano e o espírito do Cristo divino .
Através de uma parábola esotérica faz Jesus ver que a essência vitalizante do espírito do Cristo só pode ser assimilada pela alma humana por meio da fé .
Que se entende por fé ?
A palavra latina fides é o radical de fidelidade , a alta fidelidade , harmonia , sintonia . Este substantivo latino não tem verbo ; de maneira que a Vulgata Latina recorreu a um verbo de outro radical , credere , crer , em vez de " ter fé " , e com isto começou a tragédia milenar da cristandade . Crer , no sentido usual , nada tem de ver com ter fé . O substantivo grego pistis , que figura no original do Evangelho do 1º século , tem o verbo pisteuein , que poderíamos traduzir por fidelizar .
Pisteuein , fidelizar , ter fé , quer dizer estabelecer perfeita fidelidade entre a alma humana e o espírito de Deus . O conhecido tópico " quem crer será salvo " é um absurdo ; mas " quem tiver fé ( fidelidade ) será salvo " é perfeitamente lógico .
Quando o homem , no plano físico , vitaliza o seu corpo pelo alimento , não transfere ele para seu organismo a substância material que ingere , mas pelo misterioso processo da digestão e assimilação , extrai da substância material da comida as " calorias " , como a ciência chama essa alma imaterial da matéria . Caloria é a energia solar que pela fotossíntese foi armazenada na substância comestível , e que , pela digestão , é extraída do alimento e transferida para o organismo humano . Caloria , a energia do calor e da luz solar - que também poderíamos chamar luceria - é algo relacionado com a vida . Essa energia solar vitaliza o corpo e lhe dá força , beleza , alegria . Se o organismo não tivesse fidelidade vital ( fides , fé ) com a energia solar , não poderia assimilar essa vibração do Sol . Um corpo morto , embora exposto à energia solar , não a assimila ; somente um corpo vivo é capaz de assimilar a energia solar ; só ele tem fides , afinidade com o Sol ; só um corpo vivo fideliza , é fiel à alma solar ; só ele é vitalizado pelo calor e pela luz do Sol .
Segundo Einstein , luz é energia descondensada , e energia é matéria descongelada .
Vida é luz altamente potencializada , vida é luz vitalizada , e por esta razão não pode a vida assimilar a matéria grosseira como tal , mas somente a alma cósmica da matéria , que é luz , luceria ou caloria imaterial .
Homens altamente intuitivos sabiam , e sabem , por uma visão interna , o que outros procuram descobrir através de laboriosas análises intelectuais . Antecipam verdades que a ciências descobre séculos e milênios mais tarde . Cerca de 3500 anos antes de Einstein , escreveu Moisés que , no primeiro yom , creou Deus a luz , e que da luz vieram todas as outras coisas . Só no século 20 provou Einstein que a luz é a base dos 92 elementos da química e de todas as coisas .
A julgar pelos relatos do Evangelho , era Jesus de Nazaré o homem mais intuitivo que a história conhece . Ele sabia , por uma visão interna , verdades que os cientistas descobrem ( ou deixam de descobrir ) milênios mais tarde .
Todo o paralelo entre o Jesus humano e o Cristo divino se baseia nessa intuição . Assim como a substância material de um alimento não pode ser assimilada pelo corpo humano se a sua parte material não for primeiro destruída pela trituração e digestão - assim o espírito do Cristo não pode ser assimilado pela alma na forma da pessoa física do Jesus humano . Ninguém pode assimilar o Jesus humano . Por isto , insiste ele em dizer : " As palavras que vos digo são espírito , são vida - a carne de nada vale " . Por isto afirma ele a seus discípulos : " Convém a vós que eu me vá ( seja destruído ) , porque , se não for , o espírito da Verdade não pode vir a vós " .
Somente um Jesus cristificado é que pode servir de alimento vitalizante às almas humanas , como aconteceu na gloriosa manhã do Pentecostes , quando 120 pessoas homens e mulheres , como refere mestre Lucas nos " Atos dos Apóstolos " , foram vitalizados pelo espírito do Cristo cósmico , chamado Espírito Santo . Quando , após 9 dias de " oração permanente " , essas 120 pessoas atingiram o máximo da sua sintonização crística , da sua fides , ou alta fidelidade , então assimilaram eles o espírito do Cristo . Durante os três anos precedentes , nenhum dos discípulos de Jesus assimilara o espírito do Cristo , porque eles só viam a pessoa humana de Jesus , do qual esperavam a proclamação da independência nacional de Israel .
Somente após 9 dias de sintonização cósmica , no cenáculo de Jerusalém , crearam eles suficiente fidelidade ou sintonização para sentir a presença do Cristo espiritual ; mesmo na ausência do Jesus material , sentiram e viveram a metafísica para além da física .
Essa manhã de domingo do ano 33 , no décimo dia após a ascensão , marca o início do verdadeiro Cristianismo , o despertar do Cristo nas almas de seus discípulos .
Já um ano antes , como refere João no seu Evangelho , capítulo 6 , na Sinagoga de Cafarnaun , retificara Jesus o equívoco dos ouvintes de que devessem comer a carne dele . A esse equívoco respondeu o Mestre : " As palavras que vos digo são espírito e vida , a carne de nada vale " , por sinal que toda a referência à " carne " dele , como alimento , é uma alegoria simbólica . É pela fé no Cristo , espírito e vida , que o homem comunga o seu corpo e sangue , como revelou o grandioso acontecimento de Pentecostes , onde 120 pessoas , homens e mulheres , depois de 9 dias de meditação e silêncio , comungaram o Cristo carismático .
Em quase 2000 anos , as igrejas cristãs não foram capazes de vislumbrar esta grande verdade , ainda que cristãos individuais a tenham vivido em todos os séculos . As igrejas - quiça por motivos humanos - se agarraram ao símbolo material do pão e do vinho , do corpo e do sangue do Jesus humano , e não compreenderam o simbolizado espiritual do Cristo divino . Os teólogos excogitaram o dogma da transubstanciação do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus - como se o corpo e o sangue do Jesus humano , fisicamente ingeridos pelo comungante , pudessem espiritualizar a alma . Para assimilar o espírito do Cristo não é necessária nenhuma ingestão física , mas sim a sintonização metafísica , a fides , ou alta fidelidade , entre a alma humana e o espírito do Cristo . Aliás , dos 120 cristificados presentes na manhã do primeiro Pentecostes , apenas 11 haviam ingerido o pão e o vinho na Santa Ceia ; os outros 109 comungaram o Cristo espiritual na ausência do Jesus material ou seus símbolos . E todos esses 120 Cristo-comungantes foram as primícias do verdadeiro Cristianismo . Nenhum deles traiu o Mestre , nenhum deles o negou , nenhum deles fugiu covardemente ; pelo contrário , diz o livro dos " Atos " , quando foram flagelados em praça pública pelo fato de anunciarem o Cristo , retiraram-se exultando de júbilo por terem sido achados dignos de sofrerem por amor ao Cristo .
Haviam comungado o Cristo Carismático , em espírito e verdade .


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Vai nesta parábola , embora veladamente , outro aspecto : não pode o nosso ego humano conscientizar o Eu divino se aquele não for devidamente desintegrado , assim como o alimento só se integra na vida do corpo depois de ser desintegrado .
" Se o grão de trigo não morrer ficará estéril , mas se morrer produzirá muito fruto . "
" Eu morro todos os dias , e é por isto que eu vivo , mas já não sou eu que vivo , o Cristo é que vive em mim . "
A rainha das parábolas de Jesus é , sem dúvida , esta , embora o grosso da cristandade não esteja ainda em condições de compreendê-la .
Possivelmente , daqui a mais 20 séculos , lá pelo ano 4000 , a cristandade compreenderá a mística desta parábola do pão e do vinho .
Por ora , a cristandade terá de contentar-se com o corpo do símbolo material , sem compreender a alma do simbolizado espiritual .
Por ora , o corpo exotérico da Santa Ceia eclipsa a alma esotérica do Pentecostes .
Por ora , teremos de repitir isto " em memória de Jesus " , " até que o Cristo venha " , como Paulo de Tarso escreve aos cristãos do primeiro século .
Mas após a vinda do Cristo divino , pela comunhão carismática , cessará o símbolo da comunhão eucarística do Jesus humano .
E então compreenderemos o que o Mestre quis dizer com as palavras finais da Santa Ceia : " Não mais beberei deste fruto da videira até o dia em que convosco o beber , novo , no Reino de meu Pai " .
Maran-atha !
Vem , Senhor !


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Em síntese elucidativa :
Após a suposta primeira missa , ordenação sacerdotal e primeira comunhão , os doze apóstolos de Jesus cometeram os atos mais vergonhosos e anticrísticos da sua vida : um deles consumou a planejada traição , o diabo entrou nele e ele se suicidou ; outro neo-sacerdote e neocomungante , que parecia o chefe da turma , negou descaradamente o Mestre , jurou que não era discípulo dele e rogou pragas sobre si ; e todos esses supostos neo-sacerdotes e neocomungantes fugiram covardemente , com medo do sofrimento , à exceção de um só .
E , o que é totalmente incompreensível , Jesus , depois da ressurreição , não estranhou esse vergonhoso procedimento dos seus discípulos , nem os repreendeu por isto - por sinal que nenhum efeito espiritual esperava dessa suposta primeira missa , ordenação sacerdotal e primeira comunhão .
A mais comezinha lógica nos obriga a não aceitar o que uma teologia quase bimilenar impingiu à cristandade como sendo a verdade do Evangelho .
Não houve , no cenáculo da quinta-feira santa , nenhuma primeira missa de Jesus , não houve ordenação sacerdotal , não houve transubstanciação do pão e do vinho , não houve primeira comunhão dos apóstolos .
O que ocorreu foi uma parábola dramatizada , cujo simbolizado espiritual se cumpriu na gloriosa manhã do Pentecostes , quando 120 pessoas , homens e mulheres , como refere Lucas nos " Atos dos Apóstolos " , comungaram realmente o Cristo Carismático , em espírito e verdade .


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A explicação que acabamos de dar dos eventos da Santa Ceia em forma de parábola é indubitavelmente exata . Se assim não fosse , se os 12 discípulos de Jesus tivessem sido ordenados sacerdotes e comungado realmente a carne e o sangue de Jesus , seria absolutamente incompreensível , repetimos , o que aconteceu logo depois dessa suposta ordenação sacerdotal e primeira comunhão : traição , suicídio , negação , juramento falso , blasfêmia , fuga covarde dos apóstolos - um caos de paradoxos , um inferno de pecados ...
E tudo isto sem que Jesus estranhasse com uma só palavra esse efeito flagrantemente negativo e contraproducente em seus discípulos ...
É , pois fora de qualquer dúvida , que não houve nenhuma primeira missa , ordenação sacerdotal e primeira comunhão no cenáculo da quinta-feira santa .
Mas como então justificar a interpretação tradicional de certa teologia ?
Essa teologia tradicional é mais ou menos compreensível em face de uma humanidade incapaz de compreender o simbolizado espiritual de uma parábola profundamente metafísica e mística . A cristandade dos primeiros séculos era quase totalmente composta de escravos do Império Romano e povos bárbaros - godos , vândalos , hunos etc . - que invadiram o decadente Império dos Césares , povos mental e espiritualmente analfabetos , dos quais não se podia esperar compreensão , mas de que se devia exigir obediência a seus chefes espirituais . Uma ingênua pedagogia infantil era para esses neófitos mil vezes mais importante do que a grandiosa metafísica da verdade do Evangelho .
Se a mensagem de Jesus tivesse sido difundida , de início , pelos países do Oriente - Índia , China , Japão etc . - de avançada cultura metafísica e espiritual , completamente diferente teria sido o destino histórico e teológico do nosso cristianismo . Em nenhum dos países orientais existe , até hoje , segundo estatística oficial , 1% de cristãos , a despeito de séculos de trabalhos missionários . Fala por todo o Oriente Mahatma Gandhi , que dizia aos missionários cristãos que tentavam convertê-lo ao nosso cristianismo : " Aceito o Cristo e seu Evangelho - não aceito o vosso cristianismo " .
Fala ainda , em nome do Oriente cristão , Albert Schweitzer , quando escreve : " Nós injetamos nos homens o soro da nossa teologia , e quem é vacinado com o soro da teologia cristã está imunizado contra o espírito do Cristo " .
É que o nosso cristianismo teológico foi , desde o princípio , padronizado para uma humanidade espiritualmente infantil - e , estranhamente , até hoje não ultrapassou ainda esse padrão primitivo .
Para certa igreja cristã , o maior teólogo é Tomás de Aquino , que codificou quase toda a teologia tradicional do Ocidente ; mas esse mesmo teólogo , depois de escrever a Summa Theologiae e a Summa Contra Gentiles , teve uma visão ou revelação , depois da qual nunca mais escreveu uma palavra , e , interrogado pelo motivo desse silêncio , respondeu : " Tudo o que escrevi é palha " .
Entretanto , essa " palha " continua a ser o alimento de centenas de milhões de cristãos como sendo verdade divinamente revelada . Possivelmente , o " príncipe da teologia medieval " , se reaparecesse , aplaudiria a explicação que estamos dando dos eventos da Santa Ceia .
A comunhão do Cristo Carismático , ocorrida na gloriosa manhã do primeiro Pentecostes , em Jerusalém , é perfeitamente aceitável para qualquer homem , ao passo que a suposta comunhão eucarística do corpo e sangue de Jesus na Santa Ceia não será jamais aceita por nenhum homem sinceramente espiritual .
Não afirmamos que os nossos teólogos tenham agido de má-fé .
A cristandade dos primeiros séculos , depois de sair das catacumbas , necessitava , repetimos , mais de uma pedagogia teológica do que de uma metafísica crística - mas não se compreende por que essa pedagogia primitiva seja mantida em plena adultez da cristandade do século 20 . Por que não dizer à cristandade do nosso século o que o principal codificador dessa pedagogia teológica confessou explicitamente que tudo o que escreveu é palha ?
Não disse o Mestre : " Conhecereis a verdade , e a verdade vos libertará " ?
Hoje , no ocaso do Segundo Milênio da Era Cristã , e quase na alvorada do Terceiro Milênio , a elite espiritual da humanidade espera que lhe seja proclamada a verdade libertadora da mensagem do Cristo . Se , segundo as palavras de Paulo de Tarso , é necessário dar leite aos infantes em Cristo , por que não dar aos adultos em Cristo comida sólida ?
O simbolizado espiritual da parábola do pão e do vinho eclodiu na gloriosa manhã do primeiro Pentecostes , quando 120 heróis e heroínas comungaram o espírito do Cristo Carismático e iniciaram a epopéia do verdadeiro cristianismo .
Essa iniciação crística se deu no ano 33 após 9 dias de silêncio e interiorização espiritual , no cenáculo de Jerusalém , que pode ser considerado como o primeiro ashram ou Santuário de Iniciação da Cristandade .
Se a humanidade do Terceiro Milênio quizer realizar a mensagem do Cristo , terá de encontrar o seu Cristo interno em profunda meditação e comungar o Cristo Carismático em espírito e em verdade - e então será proclamado o Reino de Deus sobre a face da Terra e haverá um novo céu e uma nova terra .
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Ainda uma pergunta final , para sincero exame de consciência : teriam os nossos teólogos sustentado , através de séculos , o dogma da transubstanciação eucarística , se esse suposto milagre não fosse monopólio exclusivo deles e a base de todo o seu poder e prestígio ?
Não teriam eles concordado com Tomás de Aquino , o maior defensor da transubstanciação , confessando : " Tudo o que escrevemos é palha " ?
Texto : Huberto Rohden
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