quinta-feira, 2 de julho de 2009

A Sabedoria dos Grandes Educadores !

Escreve o insigne Albert Schweitzer que nossa teologia cristã criou uma espécie de soro que , uma vez injetado ao homem , o imuniza contra o espírito do Cristo ; de tão saturado de cristianismo ( do " nosso " cristianismo ) , julga supérfluo o Cristo .
Mahatma Gandhi fez idênticas experiências com os missionários cristãos que tentavam convertê-lo ao nosso cristianismo ; a todos eles respondia o grande líder político e espiritual da Índia : " Aceito integralmente o Cristo e seu Evangelho , mas não aceito vosso cristianismo " .
Sobretudo no setor educacional se verifica essa substituição do Cristo pelo cristianismo , do Evangelho pela teologia .
O Evangelho do Cristo , vivido em sua verdade e pureza , oferece a melhor base para a educação .
Antes de tudo , revela Jesus uma profunda reverência pela natureza humana . Para ele , não existe criança concebida em pecado ; todo homem é essencialmente bom e puro , a princípio ; só mais tarde se torna mau pelo abuso da sua liberdade . Não encontramos nas páginas do Evangelho uma única palavra de Jesus que justifique a idéia teológica do " pecado original " . Essa ideologia nasceu fora do Evangelho e foi , mais tarde , introduzida nele pelos teólogos cristãos . Já aparece nos últimos quatro séculos do Antigo Testamento , no seio da sinagoga de Israel decadente . Pelo ano 400 antes da era cristã , faleceu Malaquias , o último dos profetas de Israel , e nos quatro séculos subsequentes os sacerdotes hebreus tomaram a direção espiritual do povo . Mas a orientação sacerdotal era visceralmente legalista ; segundo eles , a salvação vinha da aceitação e aplicação de certas fórmulas rituais ; era a letra da lei que salvava o homem , e não o seu espírito .
Durante esse período de decadência surgiu na sinagoga a doutrina de que o homem é mau e pecador por natureza e que só a lei o pode libertar do pecado .
Foi divinizada a lei , e , para que a lei tivesse o máximo de prestígio e poder , foi o homem reduzido ao mínimo , declarado pecador em virtude de sua própria natureza ; e assim o nadir da natureza humana elevava ao Zênite a força da lei .
Mais tarde , no início da era cristã , foi a lei substituída pelo Cristo , mas o paralelismo continuou : para que o Cristo tivesse o máximo de valor , foi o homem reduzido ao mínimo do desvalor - surgiu a paradoxal ideologia teológica do " homem pecador " , a teoria do " pecado original " .
Jesus não aceita essa doutrina . Para ele , o reino de Deus está dentro do homem , e só de dentro é que ele pode vir e manifestar-se na vida humana . " O reino de Deus não vem com observâncias ( externas , rituais ) , nem se pode dizer : ei-lo aqui ! ei-lo acolá ! - o reino de Deus está dentro de vós " .
Com estas palavras categóricas reafirma o Nazareno a verdade antiquíssima , mas no seu templo obliterada , de que o homem é remido pelo elemento divino que nele existe virtude da sua própria natureza .
Bem cedo , porém , já no primeiro século , penetrou no corpo do cristianismo primitivo o elemento judaico sobre a essencial pecaminosidade do homem , fato que se explica pela circustância de terem os primeiros líderes da igreja cristã vindo do judaísmo , introduzido inconcientemente no cristianismo nascente certas ideologias da sinagoga . A idéia da essencial maldade do homem deu ao cristianismo primevo , e posterior , um colorido dualista e pessimista , influindo profundamente no conceito do processo da redenção .
Jesus , porém , não sucumbiu a essa ideologia , razão porque se incompatibilizou com os chefes da sinagoga ao ponto de o levarem à cruz .
Um dia , refere o Evangelho , estavam os discípulos do Nazareno discutindo quem deles era o maior no reino de Deus ; e cada um deles fazia valer os seus pretensos títulos e direitos a essa primazia .
Ao que o Mestre chamou uma criança , colocou-a no meio dos litigantes ambiciosos e disse-lhes : " Se não vos converterdes e tornares como esta criança , não entrareis no reino dos céus " .
É evidente que Jesus considera essa criança como habitante do reino de Deus ; pois seria absurdo supor que ele propusesse um modelo impuro aos impuros . Essa criança , porém não fora " purificada " por nenhum rito legal ou sacramental , que não existia ; era pura assim como nascera e fora concebida ; nunca tivera impureza alguma . Exige Jesus que seus discípulos , feitos impuros por culpa própria , se tornem puros por esforço próprio , assim como aquela criança era pura por sua própria natureza .
Em outra ocasião ameaça Jesus com terrível castigo àqueles que levarem a pecado um daqueles pequeninos que crêem nele , porque os seus anjos contemplam sem cessar a face do Pai dos céus . Ora , nenhuma dessas crianças hebréias " cria " em Jesus mediante ato consciente de fé ; ninguém o conhecia , o Nazareno era para elas apenas um bom rabi judeu , e nada mais . O " crer " dessas crianças não era um ato , mas uma atitude interna , um modo de ser em harmonia com Deus - o que prova que essas almas eram boas e puras , e não pecadoras e inimigas de Deus . Também seria absurdo supor que os anjos de Deus tanto se desvalessecem pela proteção de um bando de pequenos pecadores . E como podiam os pecadores adultos levar ao pecado essas crianças se elas já estivessem em pecado ? ...
Por esta mesma razão também não mandou Jesus batizar criancas , e o próprio João só batizava adultos . O batismo de João , a que Jesus alude , só visava pecados pessoais , e não algum pecado original que os batizados tivessem herdado de seus antepassados , como a teologia de hoje ensina .
Sobre esta positiva do Evangelho de Jesus Cristo é possível erguer o edifício de uma educação sólida - ao passo que a teologia eclesiástica corrente , quer desta , quer daquela igreja , é totalmente inapta para oferecer base conveniente .
O descalabro da nossa educação tem suas raízes em séculos anteriores . Aqui no Brasil começou em 1500 , mas em outras partes começou muito mais cedo , talvez em 313 , quando , pelo edito de Milão , o imperador pseudo cristão , Constantino Magno , deu início à substituição do Evangelho do Cristo pela teologia dos cristãos .
Se não voltarmos decididamente ao espírito crístico do Evangelho , não teremos base eficiente para uma nova educação . Teremos a coragem de realizar tão arrojada aventura ? E teremos do nosso lado as autoridades públicas , que em geral , não se interessam pela qualidade do cristianismo , mas sim pela quantidade dos eleitores que lhes garantem poder e prestígio social e político ? Necessitamos de um pugilo de heróis para realizar o grande ideal de uma nova educação !

Texto : Huberto Rohden
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