quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

" Uma Passagem para Atenas "

Entrevista de ken Wilber para Pathways ( Caminhos ) - Revista de Transformação

Psicológica e Espiritual

Tradução de Ari Raynsford

Pathways ( P ) : Por que o Espírito se preocupa em manifestar-se , especialmente quando essa manifestação é necessariamente dolorosa e requer que Ele se esqueça da Sua verdadeira identidade ? Por que Deus encarna ?
Ken Wilber ( Kw ) : Oh ! Vejo que você está começando pelas perguntas fáceis . Bem , vou dar-lhe umas poucas respostas teóricas que têm sido oferecidas ao longo dos anos e depois relatarei minha experiência pessoal , tal como é .
Na verdade , fiz esta mesma pergunta a alguns mestres espirituais e um deles deu-me uma resposta rápida e clássica : " Jantar sozinho não tem graça . "
A princípio , esta resposta parece ser um pouco impertinente ou leviana , mas , à medida que se pensa sobre ela , cada vez mais começa a fazer sentido . O que aconteceria se , só por diversão , fizéssemos de conta - blasfematoricamente , você e eu fingíssemos por um momento - que somos Espírito , aquele Tat Tvam Asi ? Se você é Deus Todo-Poderoso , por que criaria um mundo ? Um mundo que , como você bem salientou , é necessariamente de separação , desordem e dor . Por que você , que é Um , daria origem ao Muito ?
Pathways : Jantar sozinho não tem graça ?
Ken Wilber : Não começa a fazer sentido ? Aqui está você , o Um e o Único , o Solitário e o Infinito . O que você vai fazer a seguir ? Você se banha em sua própria glória por toda a eternidade , regozija-se com seu próprio encanto por eras e eras , e , depois , o que mais ?
Cedo ou tarde , você pode decidir que seria divertido - só divertido - fingir que você não é você . O que quero dizer é : o que mais você vai fazer ? O que mais você pode fazer ?
Pathways : Criar um mundo .
Ken Wilber : Você não acha ? Mas , aí , começa a ficar interessante . Quando era criança , costumava jogar damas comigo mesmo . Você já tentou ?
Pathways : Sim . Lembro-me de ter feito algo assim .
Ken Wilber : E funcionava ?
Pathways : Não exatamente , porque sempre sabia qual seria a próxima jogada do meu " oponente " . Estava jogando em ambos os lados ; assim , não conseguia " surpreender " a mim mesmo . Eu sempre sabia o que ambos os lados iam fazer - não era propriamente um jogo . Você precisa de alguém mais para jogar .
Ken Wilber : Sim , exatamente , este é o problema . Você precisa de um " outro " . Assim , se você é o único Ser em toda a existência e você quer jogar - jogar qualquer tipo de jogo - você tem que assumir o papel do outro e depois esquecer que está jogando em ambos os lados . De outro modo , o jogo não seria divertido . Tem que fazer de conta que é o outro jogador com tal convicção a ponto de esquecer que está assumindo todos os papéis . Se você não esquece , não há jogo , não é divertido .
Pathways : Assim , se quer jogar - penso que o termo oriental é lila - tem que esquecer quem você é . Aminésia .
Ken Wilber : Acho que sim . E este é exatamente o cerne da resposta dada pelos místicos do mundo inteiro . Se você é o Um e - enfastiado da mais pura exuberância , plenitude , superabundância - quer jogar , alegrar-se , divertir-se , então , primeiro , deve manifestar o Muito e , segundo , esquecer-se que é o Muito . De outro modo , não há jogo . Criação ( manifestação , encarnação ) é o grande Jogo do Um fazendo de conta que é o Muito , por puro esporte e diversão .
Pathways : Mas não é sempre divertido .
Ken Wilber : Bem , sim e não . O mundo manifesto é um mundo de opostos - de prazer versus dor , acima versus abaixo , bem versus mal , sujeito versus objeto , luz versus sombra . Mas se você quer jogar o grande Jogo Cósmico , aquele que você mesmo criou , o que mais pode fazer ? Se não há divisões , nem jogadores , nem sofrimento e nem Muito , então você simplesmente se mantém como o Um e Único , Solitário e Indiferente . Mas jantar sozinho não tem graça .
Pathways : Assim , iniciar o jogo da criação é iniciar o mundo de sofrimento .
Ken Wilber : Começa a ter sentido , não acha ? E os místicos parecem concordar . Mas há uma saída para esse sofrimento , um caminho para livrar-se dos opostos , que envolve o entendimento direto e irresistível que o Espírito não é bem versus mal , ou prazer versus dor , ou luz versus escuridão , ou vida versus morte , ou todo versus parte , ou holístico versus analítico . O Espírito é o grande Jogador que dá origem a todos os opostos igualmente - " Eu , o Senhor , faço a Luz iluminar tanto o bom como o mau ; Eu , o Senhor , faço todas as coisas " - e os místicos do mundo inteiro concordam . O Espírito não é a metade boa de todos os opostos , mas sim a essência de todos os opostos , e nossa " salvação " , por assim dizer , não está em encontrar a metade boa do dualismo e sim achar a Fonte de ambas as metades do dualismo , porque , em verdade , é isso que realmente somos . Somos ambos os lados no grande Jogo da Vida , porque - no mais fundo do verdadeiro Eu - criamos ambos os opostos com o objetivo de jogarmos um grande jogo de damas cósmico .
Essa , pelo menos , é a resposta " teórica " que os místicos quase sempre dão . " Não-dualidade " , como citada nos Upanishads , é " libertar-se dos pares " . Isto é , a suprema libertação consiste em livrar-se dos pares de opostos , da dualidade - e encontrar , ao invés , o não-dual Um Sabor que dá origem a ambos . Isto é libertação , porque paramos de acalentar o impossível e doloroso sonho de passarmos nossas vidas inteiras tentando encontrar acima sem abaixo , dentro sem fora , bem sem mal , prazer sem a inevitável dor .
Pathways : Você disse que também tem uma resposta mais pessoal .
Ken Wilber : Sim . Quando experienciei pela primeira vez , embora de maneira fugaz , " nirvikalpa samadhi " - que significa absorção meditativa no Uno informe - lembro-me de ter tido o vago sentimento - muito sutil , muito fraco - que não gostaria de estar sozinho nessa maravilhosa extensão . Recordo-me de sentir , de maneira muito difusa mas muito insistente , que gostaria de compartilhá-la com alguém . Então , o que se poderia fazer em um tal estado de solidão ?
Pathways : Criar o mundo .
Ken Wilber : Assim me parece . E eu soube , embora amadoristicamente , que se me originei do Uno informe e reconheci o mundo do Muito , então teria que sofrer , porque o Muito sempre fere os outros , assim como os ajuda . E sabe de uma coisa ? Fiquei feliz de render-me à paz do Um , mesmo que isso significasse a dor do Muito . Agora , isto é uma pequena degustação daquilo que os grandes místicos sentem , mas minha limitada experiência parece estar de acordo com sua profunda declaração : Você é o Um transformado livremente no Muito - para a dor e o prazer , e todos os outros opostos - porque você decidiu não se conformar com a maravolhosa solidão do Infinito e não quer jantar sozinho .
Pathways : E a dor envolvida ?
Ken Wilber : É escolhida livremente como parte necessária do Jogo da Vida . Você não pode ter um mundo criado sem todos os opostos de dor e prazer . E para livrar-se da dor - o pecado , o sofrimento , duhka - você deve lembrar-se de quem e o que você realmente é .
Esta lembrança , esta recordação , esta anamnese - " Faça isto em Minha Memória " - significa " Faça isto em Memória do Eu que Você É " - Tat Tvam Asi . As grandes religiões místicas do mundo consistem de uma série de práticas profundas para aquietar o pequeno eu que fingimos ser - que causa a dor e o sofrimento que sentimos - e despertar o Grande Eu que é nossa verdadeira essência , objetivo e destino - " Deixe esta consciência estar em você como esteve em Jesus Cristo . "
Pathways : Este despertar é um negócio de tudo-ou-nada ?
Ken Wilber : Normamente , não . Usualmente , é uma série de vislumbres do Um Sabor - vislumbres do fato de que você é um com absolutamente todas as manifestações , nos seus aspectos bons e maus , frios e quentes , no prazer e na dor . Você é , literalmente , o Kosmos . Mas você tende a compreender este fato definitivo num crescendo de vislumbres do infinito que você é , e passa a entender exatamente porque começou este maravilhoso e horrível Jogo da Vida . Mas , absolutamente , não é um Jogo cruel , porque , em última instância , você sozinho , instigou este Drama , esta Lila , esta Gnose .
Pathways : Mas o que você me diz da opinião de que essas experiências do " Um Sabor " ou " Consciência Kósmica " são apenas um subproduto da meditação e , desse modo , não são " realmente reais " ?
Ken Wilber : Bem , isso pode ser dito de qualquer tipo de conhecimento que dependa de um instrumento . " Consciência Kósmica " normamente depende do instrumento da meditação . E daí ? Ver o núcleo de uma célula depende de um microscópio . Você diria que o núcleo de uma célula não é real somente porque é subproduto de um microscópio ? Podemos afirmar que as luas de Júpiter não são reais porque dependem de um telescópio ? As pessoas que levantam essa objeção são quase sempre aquelas que não querem olhar através do instrumento da meditação , do mesmo modo que os Homens da Igreja recusam-se a olhar pelo telescópio de Galileu para confirmar a existência das luas de Júpiter . Deixe-os viver com sua recusa . Mas que nós - com o melhor da nossa habilidade e , espero , guiados pelo melhor da caridade ou compaixão - tentemos convencê-los a olhar , somente uma vez , e ver por si próprios . Não coagi-los , apenas convidá-los . Suspeito que um mundo totalmente diferente abrir-se-ia para eles , um mundo que tem sido abundantemente verificado por todos que olham pelo telescópio , e microscópio , da meditação .
Pathways : Você poderia nos dizer . . .
Ken Wilber : Permita-me interrompê-lo . Posso citar-lhe uma das minhas passagens favoritas de Aldous Huxley ?
Pathways : Por favor .
Ken Wilber : Esta é de After Many a Summer Dies the Swan ( Após Muitos Verões Morre o Cisne ) :
" Gosto das palavras que tenham alguma relação com fatos . Daí porque me interesso pela eternidade - eternidade psicológica . Porque é um fato . "
" Para você talvez , " respondeu Jeremias .
" Para qualquer um que deseje satisfazer as condições sob as quais ela possa ser experienciada
" E por que alguém desejaria satisfaze-las ? "
" Por que alguém desejaria ir a Atenas para ver o Parthenon ? Porque vale a pena . E o mesmo é válido para a eternidade . A experiência do bem eterno vale todos os desconfortos envolvidos . "
" Bem eterno . " Jeremias repetiu com desdém . " Não entendo o que essas palavras significam . "
" Por que você deveria ? " retrucou Mr . Propter . " Você nunca comprou sua passagem para Atenas . "
Pathways : Assim , contemplação é a passagem para Atenas ?
Ken Wilber : Você não acha ?
Pathways : Com certeza . Fico pensando se você não poderia nos falar um pouco mais sobre sua passagem para Atenas . Poderia nos contar a história de suas experiências com meditação ? O que é " prática integral " e o que ela oferece para o moderno buscador espiritual ?
Ken Wilber : Bem , não tenho certeza se posso dizer algo significativo sobre minha história num curto espaço . Venho meditando há vinte e cinco anos e acho que minhas experiências não são muito diferentes das de todos os que trilharam o mesmo caminho . Mas tentarei dizer alguma coisa sobre " prática integral " , porque suspeito que seja a onda do futuro . A idéia é muito simples , e Tony Schwartz - autor de What Really Matters : Searching for Wisdom in America ( O Que Realmente Interessa : À Procura da Sabedoria na América ) - a resumiu como uma tentativa " de casar Freud e Buda . " Isto significa , simplesmente , a tentativa de integrar as contribuições da " psicologia da profundidade " ocidental com a grande sabedoria das tradições da " psicologia da altura " - a tentativa de integrar id e Espírito , sombra e Deus , libido e Brama , istinto e Deusa , inferior e superior - acho que a idéia é suficientemente clara , independentemente dos termos que sejam usados .
Pathways : Como uma prática concreta ?
Ken Wilber : Sim , a prática concreta é baseada em algo assim : dada a Grande Cadeia do Ser - que vai da matéria para o corpo , para a mente , para a alma , para o espírito - como podemos reconhecer , honrar e exercitar todos esses níveis em nosso próprio ser ? E se o conseguirmos - se nos engajarmos em todos os níveis do nosso potencial - isso não nos facilitará relembrar a Fonte do grande Jogo da Vida , que não é outra senão nosso próprio Eu profundo ( Self ) ? Se o Espírito é a Essência e o Objetivo de todos esses níveis , e se , em verdade , somos Espírito , o engalamento sincero em todos eses níveis não nos ajudará relembrar quem e o que realmente somos ?
Bem , essa é a teoria , que , acho , coloquei em palavras muito secas . Concretamente , a idéia é : escolha uma prática ( ou práticas ) de cada um desses níveis e engaje-se sinceramente em todas elas . Para o nível físico você pode incluir ioga física , levantamento de peso , vitaminas , nutrição , corrida , etc . Para o nível corpo/emocional você pode tentar sexualidade tântrica , terapia que ajude a controlar o lado sentimental do seu ser , bioenergética , etc . Para o nível mental , terapia cognitiva , terapia narrativa , terapia da fala , terapia psicodinâmica , etc . Para o nível da alma , meditação contemplativa , ioga da divindade , contemplação sutil , oração centralizadora e assim por diante . E para o nível do espírito , as práticas mais não-dualísticas como o Zen , Dzogchen , Advaita Vedanta , Kashmir Shaivismo , misticismo cristão informe , etc .
Hesito em fornecer uma lista porque , como você sabe , há , literalmente , milhares de práticas maravilhosas para todos esses níveis e eu me arrepio com a possibilidade de excluir alguma . Mas , por favor , focalize simplesmente a idéia básica : assuma uma ou mais práticas para cada um dos níveis do seu ser - matéria para o corpo , para a mente , para alma , para espírito - e exercite todas elas da melhor forma possível , individual e coletivamente . Não só você , simplesmente , passará a sentir-se melhor no nível mundano , como também aumentará dramaticamente suas chances de começar a entender seu próprio Estado radical , que é o próprio Espírito , sua mais profunda identidade e impulso .
Pathways : Atualmente , há professores para este tipo de prática integral ?
Ken Wilber : Bem , infelizmente , nos dias de hoje , ainda não há muitos professores . Em parte , este tipo de prática integral é uma união do Ocidente com o Oriente , e eles foram apresentados um ao outro só recentemente . Mas há professores estupendos trabalhando com um ou mais níveis - e , assim , neste momento , você simplesmente tem que " escolher a roupa adequada " - ou escolher os melhores professores para cada um dos níveis . Encontre um bom exercício físico que o agrade , e um programa nutricional decente . Tente empenhar-se em uma boa prática psicoterapêutica - poderá ser simplesmente escrever seus sonhos ou fazer parte de um grupo de debate . Tente uma boa prática de meditação e preste um serviço comunitário . Não quero que isto pareça uma coisa terrivelmente fascista - mas tente , o melhor que puder , empenhar-se totalmente a fim de despertar totalmente .
Pathways : Pelo menos há professores que estão buscando essa prática integral ?
Ken Wilber : Sim . Há alguns escritores que , hoje , estão enfatizando a importância de uma abordagem integral , e embora todos ainda estejam num nível muito preliminar , são um bom lugar para começar . Você pode tentar The Life We Are Given de Michael Murphy e George Leonard , What Really Matters de Tony Schwartz , Paths Beyond Ego de Roger Walsh e Frances Vaughan e o meu The Eve of Spirit .
Mas a idéia é muito simples : praticando somente em um nível , seu ser não se iluminará totalmente . Se simplesmente meditar , seu " lixo " psicodinâmico não irá automaticamente embora . Se você só meditar , seu emprego ou seu relacionamento com sua esposa não irão , automaticamente , melhorar . Por outro lado , se só fizer psicoterapia , não pense que sentir-se-á aliviado da carga da morte ou do medo . Dê a Freud o que é de Freud e a Buda o que é de Buda . E , acima de tudo , se dê completamente ao Divino , empenhando tudo o que você é .
Oh , puxa , está parecendo até um comercial dos Fuzileiros Navais : " Seja o melhor que puder " . Mas , realmente , o ponto é que quanto mais dimensões de si próprio estiverem empenhadas na busca da Fonte deste maluco Jogo da Vida , mais provavelmente irá descobrir o fato exepcionalmente belo de que você e somente você é o Autor deste Jogo . E isto não é uma afirmação teórica ; é a melhor oportunidade que temos para obter nossa passagem para Atenas .
Texto : Ken Wilber
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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

" A Visão " new-age " Sobre Doença e Carma "

( Excertos do livro Grace and Grit de ken Wilber )

Tradução de Ari Raynsford


Visão " new age " da doença : a doença é uma lição . Você está-se permitindo esta doença porque há algo muito importante a aprender com ela a fim de continuar seu crescimento espiritual e evolução . A mente sozinha causa a doença e somente a mente pode curá-la .
Voltei a escrever ! Em um mês e meio , trabalhando febrilmente dia e noite , produzi um livro de oitocentas páginas com o título provisório The Great Chain of Being : A Modern Introduction to the Perennial Philosophy and the Word's Great Mystical Traditions .
Meu velho demônio bom , após três anos de confinamento na prisão da minha mentira a mentira de culpar Treya - explodiu em cena cheio de energia e vontade . Deus , eu entrei em êxtase ! Treya ajudou-me enormemente com o livro , lendo cada capítulo saído ainda quente da impressora , dando-me inestimável retorno e , frequentemente , sugerindo que refizesse seções inteiras . Nos momentos de descanso , sentávamos aconchegados pensando em títulos bobos para o livro como , por exemplo , Who Is This God Person , Anyway ? ( Quem é este tal de Deus , afinal ? ) .
Nesse ínterim , trabalhei com vigor no livro . Um de seus capítulos , " Saúde , Totalidade e Cura " foi publicado na revista New Age junto com o artigo de Treya , com o título " Nós nos fazemos doentes ? " . Não repetirei o capítulo aqui , mas resumirei brevemente seus principais pontos , uma vez que representam a culminância de meus pensamentos em relação ao difícil problema pelo qual Treya e eu estávamos passando nos últimos três anos .
1. O argumento básico da filosofia perene é que homens e mulheres estão imersos na Grande Cadeia do Ser . Isto é , temos em nós matéria , corpo , mente alma e espírito .
2. Para cada doença , é extremamente importante tentar determinar que nível ou níveis primariamente a originam - físico , emocional , mental ou espiritual .
3. É muito importante usar procedimento do " mesmo nível " ( mas não necessariamente o único ) para o rumo inicial do tratamento . Use intervenção física para doenças físicas , terapia emocional para distúrbios emocionais , métodos espirituais para crises espirituais e assim por diante . No caso de uma mistura de causas , use uma mistura de tratamentos dos níveis apropriados .
4. Isto é especialmente importante porque se você errar no diagnóstico da doença pensando que ela origina-se num nível mais elevado , então gerará culpa ; se diagnosticá-la num nível inferior ao correto , gerará desespero . Em qualquer dos casos , o tratamento não será eficaz , com a desvantagem adicional de gerar no paciente culpa ou desespero devido somente a um erro de diagnóstico .
Por exemplo , se você for atropelado por um ônibus e quebrar a perna , esta é uma doença física com recursos físicos : coloca-se o osso no lugar e engessa-se a perna . É uma intervenção do " mesmo nível " . Você não se senta na calçada e visualiza sua perna curando-se . Esta é uma técnica do nível mental que não é efetiva para este problema do nível físico . E mais , se lhe disserem que a causa do seu acidente foram simplesmente seus pensamentos e que você deveria ser capaz de curar sua perna com seus pensamentos , então a única coisa que vai acontecer é que você sentirá culpa , irá autocondenar-se e sua auto-estima diminuirá . É um completo descasamento de níveis e tratamentos .
Por outro lado , se você está sofrendo , digamos , de baixa auto-estima por causa de certos papéis internalizados de que é fraco e um incompetente , este é um problema do nível mental que responde bem a intervenções do nível mental , tais como visualização ou afirmação ( reescrita do papel - exatamente o que a terapia cognitiva faz ) . Se usar intervenções do nível físico - tomar megavitaminas ou mudar sua dieta - não terá muito efeito ( a menos que você realmente esteja com um desbalanceamento vitamínico contribuindo para o problema ) . E se tentar usar somente tratamentos do nível físico , terminará em alguma forma de desespero , porque os tratamentos são do nível errado e simplesmente não funcionarão bem .
Assim , em minha opinião , a abordagem genérica para qualquer doença deve começar de baixo para cima . Primeiro , procure por causas físicas . Pesquise todas as possibilidades da melhor maneira . Depois , pesquise possíveis causas emocionais ; seja exaustivo . Então passe para causas mentais e , por fim , espirituais .
Isto é particularmente importante , porque muitas doenças que no passado eram creditadas a origens puramente psicológicas ou espirituais , hoje sabe-se que são causadas principalmente por componentes físicos ou genéticos . Antigamente , pensava-se que a asma se devia a uma " mãe asfixiante " . Hoje sabe-se que ela é principalmente biofísica nas causas e na emergência . Tuberculose era fruto de uma " personalidade consumptiva " ; gota , de fraqueza moral . Acreditava-se largamente em uma " personalidade artritóide " , que não resistiu ao teste do tempo . Tudo o que essas crenças faziam era gerar culpa em suas vítimas ; as curas não aconteciam simplesmente porque estavam sendo considerados os níveis errados .
Entretanto , isto não significa que os tratamentos dos outros níveis não sejam muito importantes como suporte ou coadjuvantes . Definitivamente , eles poderão ser . No exemplo simples da perna quebrada , técnicas de relaxamento , visualização , afirmação , meditação , psicoterapia se necessária - todas elas podem contribuir para uma atmosfera mais equilibrada na qual a cura física poderá ocorrer mais facilmente e rapidamente .
O que não ajuda é , considerando-se que todos esses aspectos psicológicos e espirituais podem ser muito úteis , afirmar-se que a razão de você ter quebrado sua perna é que lhe faltam , em primeiro lugar , essas características psicológicas e espirituais . Uma pessoa acometida de uma doença grave pode modificar-se profundamente em função da mesma ; daí não se pode inferir que ela contraiu a doença por falta de mudanças . Isto é o mesmo que pensar : se você está com febre e toma uma aspirina , a febre baixa ; portanto , ter febre deve-se a uma deficiência de aspirina .
Agora , obviamente muitas doenças não se originam de um simples nível isolado . O que quer que aconteça em um nível ou dimensão do ser afeta todos os outros níveis em maior ou menor grau . A composição emocional , mental e espiritual de uma pessoa com certeza pode influenciar na doença física e na cura física , do mesmo modo que a doença física pode repercutir fortemente nos níveis superiores . Quebre sua perna e este fato provavelmente acarretará efeitos emocionais e psicológicos . Na teoria de sistemas isto é chamado " causação ascendente " - um nível mais baixo produz certos eventos em um nível mais alto . E o inverso , " causação descendente " , é quando um nível mais elevado tem um efeito causal ou infuencia um nível mais baixo .
A pergunta , então , simplesmente é : quanta " causação descendente " nossa mente - nossos pensamentos e emoções - tem na doença física ? E a resposta parece ser : muito mais do que se pensava anteriormente , mas muito menos do que os adeptos da " new age " acreditam .
A nova escola da psiconeuroimunologia ( PNI ) tem descoberto evidências convincentes de que nossos pensamentos e emoções podem influenciar diretamente nosso sistema imunológico . O efeito não é grande , mas é detectável . Obviamente , isto é o que esperaríamos do axioma segundo o qual todos os níveis afetam todos os outros níveis de algum modo , embora secundariamente . Mas , uma vez que a medicina enveredou para uma ciência puramente do nível físico e desconsiderou a influência dos níveis superiores na doença nível-físico ( " o fantasma na máquina " ) , a PNI veio prover a correção necessária , oferecendo uma visão mais equilibrada . A mente pode afetar o corpo num grau pequeno , mas não insignificante .
Em particular , descobriu-se que formação de imagens e visualizações talvez sejam os mais importantes ingredientes na influência " pequena mas não insignificante " da mente sobre o corpo e sobre o sistema imunológico . Por que imagem ? Observemos a versão mais completa da Grande Cadeia do Ser , notando onde as imagens ocorrem : matéria , sensação , percepção , impulso , imagem , símbolo , conceito e assim por diante . A imagem é a mais baixa e a mais primitiva parte da mente , colocando-a diretamente em contato com a parte mais alta do corpo . Em outras palavras , a imagem é a conexão direta da mente com o corpo - suas tendências , seus impulsos , sua bioenergia . Nossos pensamentos e conceitos mais elevados podem ser traduzidos para baixo em simples imagens e estas , aparentemente , têm influência modesta , porém direta , nos sistemas do corpo ( via influência ou impulso , a dimensão inferior seguinte ) .
Então , todas as coisas consideradas , as tendências psicológicas representam algum papel em cada doença . E concordo que esse componente deve ser exercitado ao máximo .
Numa eleição , essas tendências podem ser suficientes para fazer pender o prato da balança em favor da saúde ou da doença , mas sozinhas , não são capazes de encher a urna de votos .
Assim , como Steven Locke e Douglas Colligan escreveram em The Healer Within ( O Curador Interno ) , com efeito , toda doença tem um componente psicológico e todo processo de cura é afetado pela psicologia . Mas , continuam os autores , o problema é que as pessoas confundem o termo psicossomático , que significa que um processo de doença física pode ser afetado por fatores psicológicos , com o termo psicogênico , que significa que a doença é causada somente por fatores psicológicos . Os autores afirmam : " No sentido correto da palavra , toda doença pode ser considerada psicossomática ; talvez seja a hora de aposentar definitivamente o termo psicossomático . [ Porque ] tanto o público como alguns médicos usam as palavras psicossomático ( significando que a mente pode influenciar a saúde do corpo ) e psicogênico ( significando que a mente pode causar doenças no corpo ) intercambiavelmente . Eles perderam de vista o verdadeiro significado de doença psicossomática . " Como Roberto Ader sugere , " Não estamos falando sobre a causação das doenças mas sim da interação entre eventos psicossociais e condições biológicas pré-existentes " .
Os próprios autores mencionam hereditariedade , estilo de vida , drogas , local , ocupação , idade e personalidade . É a interação de todos esses fatores - eu adicionaria fatores existenciais e espirituais - de todos os níveis que , juntos parecem influenciar a causa e o curso das doenças físicas . Escolher um desses fatores e ignorar os demais é uma simplificação absurda .
Então , de onde vem essa idéia dos divulgadores da " new age " de que sua mente sozinha causa e cura todas as doenças físicas ? Eles afirmam , afinal , ter uma sólida base nas grandes tradições místicas , espirituais e transcendentais do mundo . E , aqui , acho que eles se encontram num campo minado . Jeanne Achterberg , autora de Imagery in Healing ( que recomendo com empenho ) , acredita que esta noção pode ser historicamente rastreada até o Novo Pensamento , ou Pensamento Metafísico , que emergiu de uma leitura ( distorcida ) dos transcendentalistas da Nova Inglaterra , Emerson e Thoreau , os quais basearam muito da sua obra no misticismo oriental . As escolas do Novo Pensamento , das quais a Ciência Cristã é a mais famosa , confundem a noção correta " Deus cria tudo " com a noção " Desde que eu sou um com Deus , eu crio tudo . "
Esta posição apresenta dois erros e , acredito , teria a discordância veemente tanto de Emerson quanto de Thoreau . Primeiro , que Deus é um pai interveniente para o universo ao invés de Realidade , Essência ou Condição imparcial . E segundo , que o ego é um com esse Deus paternal e , portanto , pode intervir e ordenar o universo ao redor .
Não encontrei o menor suporte para estas noções em quaisquer das tradições místicas .
Os advogados da " new age " afirmam estar baseando esta idéia no princípio do carma , que diz que as circunstâncias da sua vida atual são o resultado de pensamentos e ações de uma vida passada . De acordo com o Hinduísmo e o Budismo , isto é parcialmente verdadeiro . Mas mesmo que fosse totalmente verdadeiro , o que não é , os adeptos da " new age " , em minha opinião , passaram por cima de um ponto crucial : conforme essas tradições , suas circunstâncias presentes são o resultado de pensamentos e ações de uma vida anterior e seus pensamentos e ações atuais afetarão , não sua vida presente , mas sua próxima vida , sua próxima encarnação . Os budistas dizem que na vida atual você está simplesmente lendo um livro que escreveu na vida passada e o que você está fazendo agora só se concretizará em sua próxima vida . Em nenhum dos casos , seu pensamento presente cria sua realidade atual .
Agora , acontece que , pessoalmente , não acredito nesta visão particular de carma . É uma noção muito primitiva , subsequentemente refinada ( e largamente abandonada ) pelas escolas superiores do Budismo , onde reconheceu-se que nem tudo que acontece com você é resultado das suas ações passadas . Como Namkhai Norbu , mestre do Budismo Dochen ( geralmente considerado como o pináculo do ensinamento budista ) , explica :
" Há doenças devidas ao carma ou a condições prévias do indivíduo . Mas também há doenças geradas por energias que vêm de outros , de fora . E há doenças provocadas por causas provisionais , como alimentos ou outras combinações de circunstâncias . E há doenças devidas a acidentes . Assim , há todos os tipos de doenças ligadas ao ambiente . "
Minha opinião é que nem a versão primitiva do carma nem os ensinamentos mais desenvolvidos dão suporte à visão " new age " .
Então , de onde realmente veio esta noção ? Aqui , afastar-me-ei de Treya e apresentarei minha teoria predileta sobre as pessoas que assim acreditam . Não irei falar com compaixão sobre os sofrimentos que essas idéias causam . Tentarei separá-las , categorizá-las , formular teorias sobre elas , porque creio que essas idéias são perigosas e precisam ser arrumadas , se não por qualquer outra razão , pelo menos para prevenir sofrimentos posteriores . E meus comentários não são dirigidos ao grande número de pessoas que acreditam nelas de um modo inocente , ingênuo e inócuo . Tenho mais em mente os líderes nacionais desse movimento , indivíduos que dão seminários criando sua própria realidade ; que desenvolvem " workshops " que ensinam , por exemplo , que o câncer é causado somente por ressentimento ; que ensinam que a pobreza é responsabilidade sua e a opressão , algo que você trouxe consigo . Talvez sejam pessoas bem-intencionadas , mas , de qualquer modo , em minha opinião , perigosas , uma vez que desviam a atenção dos níveis reais - físico , ambiental , legal , moral e sócio-econômico , por exemplo - onde há muito trabalho a ser realizado urgentemente .
Para mim , essas crenças - particularmente a crença de que você cria sua própria realidade - são crenças do nível dois . Elas têm todas as marcas autenticadoras da visão de mundo infantil e mágica das desordens de personalidade narcisísticas . A idéia de que os pensamentos não só influenciam a realidade como também a criam é o resultado direto , em minha opinião , da diferenciação incompleta da fronteira do ego que define o nível dois . Pensamentos e objetos não são claramente separados ; assim manipular o pensamento é manipular de modo onipotente e mágico o objeto .
Acredito que a cultura hiperindividualista da América , que atingiu seu apogeu na " década do eu " , incentivou a regressão para os níveis narcisístico e mágico . Creio ( como Robert Bellah e Dick Anthony ) que o colapso de estruturas sociais mais coesivas levou os indivíduos de volta a seus próprios recursos , e isto também ajudou a reativar tendências narcisísticas . E acredito , junto com psicólogos clínicos , que por baixo da superfície do narcisismo , furtivamente está a raiva , particularmente , mas não somente , expressa pela crença : Não quero machucar você , eu a amo ; mas se você discordar de mim contrairá uma doença que a matará . Concorde comigo , concorde que pode criar sua própria realidade e você melhorará , você viverá . " Isto não tem nenhuma base nas grandes tradições místicas do mundo ; baseia-se em patologia narcisística e limítrofe .
Enquanto a maioria da correspondência e resposta da revista New Age concordava com meu sentimento de insulto moral com respeito ao que essas idéias estavam fazendo a tanta gente inocente , os new agers radicais reagiram furiosamente dizendo coisas como : se eu e Treya pensávamos daquela maneira ela merecia estar com câncer ; ela o estava gerando em si mesma com esses pensamentos .
Esta não é uma condenação cega de todo o movimento " new age " . Há aspectos dele - acima de tudo é uma besta grande e variada - que efetivamente baseiam-se em genuínos princípios místicos e transpessoais ( como a importância da intuição e a existência da consciência universal ) . O problema é que qualquer movimento genuinamente transpessoal sempre atrai um grande número de elementos pré-pessoais , simplesmente porque ambos são não-pessoais ; é exatamente esta confusão entre " pré " e " trans " um dos pricipais problemas do movimento " new age " em minha opinião .
Eis um exemplo concreto baseado em pesquisa empírica . Durante os tumultos em Berkeley em protesto contra a guerra do Vietnam , um grupo de pesquisadores aplicou o teste de desenvolvimento moral de Kohlberg a uma amostra representativa de estudantes . Os estudantes , enfim , afirmavam que sua maior objeção à guerra era por ser ela imoral . Ora , em que estágios de desenvolvimento moral os estudantes estavam operando ?
O que os pesquisadores descobriram foi que uma pequena percentagem de estudantes , algo como 20% , estava efetivamente operando nos estágios pós-convencionais ( ou estágios transconvencionais ) . Isto é , suas objeções eram fundamentadas em princípios universais de certo e errado ; eles não se baseavam em padrões de uma sociedade particular ou em caprichos individuais . Suas crenças sobre a guerra poderiam estar certas ou erradas , mas sua argumentação denotava um elevado desenvolvimento moral .
Por outro lado , a grande maioria dos protestantes - cerca de 80% - era pré-convencional , o que significa que sua argumentação moral fundamentava-se em motivos pessoais extremamente egoístas . Eles não queriam lutar , não porque a guerra era imoral , não porque se preocupassem com o povo vietnamita , mas sim porque não queriam ninguém dizendo-lhes o que fazer . Seus motivos não eram universais ou mesmo sociais , mas simplesmente egoístas . E , como esperado , não havia quase estudantes no nível convencional , o nível do " meu país certo ou errado " ( simplesmente porque estes estudantes não teriam do que protestar , em primeiro lugar ) . Em outras palavras , um pequeno número de estudantes verdadeiramente pós ou transconvencionais atraiu um grande número de tipos pré-convencionais , porque o que ambos tinham em comum era o fato de serem não-convencionais .
Do mesmo modo , creio que , no movimento " new age " , uma pequena percentagem de genuínos elementos e princípios místicos , transpessoais ou transracionais ( níveis sete a nove ) atraiu um grande número de elementos pré-pessoais , mágicos e pré-racionais ( níveis um a quatro ) simplesmente porque ambos são não-racionais , não-convencionais , não-ortodoxos . E , então , esses elementos pré-pessoais e pré-racionais afirmam , como fizeram os estudantes pré-convencionais , que possuem a autoridade e o suporte de um estado " superior " , quando o que realmente estão fazendo , temo dizer , é racionalizar sua própria postura egoísta . Como Jack Engler enfatizou , eles são atraídos pelo misticismo transpessoal como um modo de racionalizar suas inclinações pré-pessoais . É uma clássica " falácia pré-trans " .
Concluiria também , com William Irwin Thompson , que cerca de 20% do movimento " new age " é transpessoal ( transcendental e genuinamente místico ) ; cerca de 80% , pré-pessoal ( mágico e narcisístico ) . Normalmente descobrem-se os elementos transpessoais porque eles não gostam de ser chamados de " new age " . Não há nada de " novo " ( new ) neles ; eles são perenes .
No campo da psicologia transpessoal , constantemente temos que lidar com as tendências pré-pessoais do modo mais gentil e delicado possível , porque elas conferem ao campo toda uma reputação de " esquisito " ou " bobo " . Não temos nada contra crenças pré-pessoais ; simplesmente sentimo-nos incomodados quando nos pedem para adotar essas crenças como se fossem transpessoais .
Nossos amigos " esquisitos " ficam danados conosco porque pensam existir somente dois campos no mundo : racional e não-racional ; assim , deveríamos juntar-nos a eles contra o campo racionalista . Mas há de fato três campos : pré-racional , racional e transracional .
Na realidade , estamos mais próximos dos racionalistas do que dos pré-racionalistas . Os níveis superiores transcedem mas incluem os inferiores . O Espírito é translógico , não antilógico ; ele abrange a lógica e vai além , e não simplesmente rejeita a lógica . Todo princípio transpessoal tem que passar pelo teste da lógica e , então , e somente então , seguir em frente com seus insights adicionais . O Budismo é um sistema extremamente racional que complemente a racionalidade com a consciência intuitiva . Alguns dos princípios " esquisitos " não estão além da lógica , mas aquém .
Assim , estamos tentando separar os elementos genuínos , universais , " testados em laboratório " , do desenvolvimento místico das tendências mais idiossincráticas , mágicas , narcisísticas . Esta é uma tarefa complicada e nem sempre chegamos a bom termo .
Líderes nesta área são Jack Engler , Roger Walsh , William Irwin Thompson e Jeremy Hayward .
Mas deixe-me concluir esta discussão reafirmando meu ponto original : ao tratar qualquer doença , esforce-se ao máximo para determinar de quais níveis estão provindo os seus vários componentes e use os tratamentos do mesmo nível para lidar com eles . Se você identificar corretamente os níveis , você gerará ação que terá a mais alta chance de ser curativa ; se você errar , gerará somente culpa ou desespero .
Texto : Ken Wilber
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domingo, 6 de fevereiro de 2011

" Mergulhados no Equívoco "

As formas de percepção empírica ou seja , o conhecimento pelos sentidos produz pensamentos sobre estes objetos de percepção . O conhecimento pelo intelecto , Raciocínio lógico produz pensamentos e aqui , de uma maneira muito sutil ou melhor de uma maneira bastante misteriosa , estamos mergulhados neste equívoco chamado pensamento e sequer notamos isso . Ao Ultrapassar estes dois modos de conhecimento , o homem supera os objetos de percepção sensorial , os chamados convencionalmente objetos " externos " . E , para este homem , o próprio pensamento que desfila em sua mente ou , como diz David Bohm o " Sistema do Pensamento " é tido como objeto de percepção " interno " . Sendo assim , podemos notar que ao ultrapassarmos estes dois modos de conhecimento , abandonamos ou melhor emergimos do mergulho que estávamos nos sentidos físicos e no mundo dos próprios pensamentos .
Agora perceba bem que ao abandonarmos o sutil e misteriosos mundo do pensamento , acontece a tão chamada morte para o ego . Ego este que a princípio começou a conhecer pelos sentidos e em seu desenvolvimento como conhecedor passou pelo mundo do pensamento ( Racional Lógico , Intelectual ) e culminou no silêncio da meditação ou Yoga como você preferir . Acontece que ultrapassar aos sentidos físicos já é por si só uma tarefa das mais difíceis .
Aquele que o faz , abandona as forças dos instintos que nos habitam ou melhor , supera-as . Contudo , se já estava também no mundo do pensamento , ele ainda permanece no mesmo só que agora agarrado aos próprios pensamentos e todo o " seu sistema Maculador " . O mais interessante de tudo isto é que , aqui nesta tentativa de demonstrar o problema no qual estamos envolvidos , os meios que utilizo ou seja , todos os símbolos e conceitos estão contidos no próprio problema . O que se seque é para tentar demonstrar o problema eu estou colocando vocês a fazer justamente aquilo que vai impedi-los de entender a questão ou seja , pensar . Então qual a saída ? . Se a solução não for alcançada pensando , talvez eu a alcance no silêncio . Talvez o silêncio a solucione ! ? . Pensemos , pensemos , pensemos mas finalmente silenciemo-nos ! Observe que não estamos falando do silêncio dos ruídos verbais das palavras . Também não estamos falando do silêncio dos ruídos externos . Estamos falando do silêncio dos ruídos do próprio " sistema Maculador " . Estamos falando do silêncio dos ruídos do próprio sistema sutil que é o pensamento em nós e que esta em relação constante com nossa capacidade intelectiva racional ( Intelécto ) . Então perceba ( você só perceberá de verdade no silêncio ) que ao abandonar ou superar os sentidos ( Instintos vital ) , caio na malha ( já estou nela ) do sistema maculador dos meus próprios pensamentos . O problema sou eu e meu modo de questionar e contudo eu sequer percebo isso . O próprio pensamento em mim me engana e eu sequer percebo !
Contudo , se ao abandonar os pensamentos em mim mesmo , substituí-lo pelo silêncio como colocamos acima , faço uma emersão do mergulho enganador que o pensamento e suas emoções , pré-conceitos sustentados por símbolos e conceitos alimentados pelas massas sociais , contextos históricos , pelo próprio modo convencional de conhecer ( sentidos e raciocínio lógico ) etc . . . e por todas as forças que este sistema sustenta . Então , não é isto a liberdade ? .
Ao sair do sutil mundo do pensamento ou melhor , ao transcender , ultrapassar o próprio pensamento acoplado a existência finita ou seja , ao mundo físico que adentramos ao nascer e que , abandonaremos ao morrer , teremos então , em vida realizado o terceiro modo de conhecer , A Consciência do Cristo , pelo silêncio .
Tanto o padre para os católicos quanto a bíblia para os evangélicos estão contidos , no sistema maculador que é o pensamento e o raciocínio lógico . O senso comum e o senso crítico , também o estão . Se acredita ter um senso crítico convincente , seu pensamento o engana porque você é seu próprio pensamento neste momento ! Eu não estou nem um pouco interessado em servir a este sistema a não ser , para indica-los ao silêncio como aqui coloquei .
" Quando orardes , entre em sua casa e ore em silêncio ao seu Pai . . . Não fique nas esquinas para que o vejam " . ( Jesus o Cristo )
Não devemos nos agarrar nem a padres , papas , igrejas ou bíblias objétos " externos e internos sutis do sistema maculador " . Ao fazermos isto , corremos o risco de agarrarmos a vela contudo , a luz estará mais acima queimando no barbante silenciosamente . Porem se não consegue largar a vela é melhor permanecer aí até que esta muleta não lhe seja mais necessário e isto só vem pela compreensão que o silêncio nos traz .
A Inteligência do Cristo está muito alem de uma fé cega e é necessário um comprometimento muito maior onde todos os seres estejam inclusos . Seu pensamento pode estar te enganando e você , sendo ele não percebe ! Não penseis que apenas o seu rebanho tem direito ao Céu ! .
Texto : Marcos Modesto aluno de filosofia do Claretiano ( Crítica ao Dogmatismo )
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

" Os Arquétipos de Jung Por Ken Wilber "

1 ) Excertos da entrevista de Ken Wilber à jornalista alemã Edith Zundel ( do livro Grace and Grit - Graça e Determinação )
EZ : Eu , Rolf e nossos leitores estamos particularmente interessados na interface entre psicoterapia e religião .
KW : E o que significa para você a palavra religião ? Fundamentalismo ? Misticismo ? Exoterismo ? Esoterismo ?
EZ : Bem , este é um bom ponto para começarmos . Se não me engano , em Um Deus Social você apresentou onze diferentes definições para religião ou onze diferentes maneiras como é usada a palavra religião .
KW : Sim , e minha opinião é que não podemos falar de ciência e religião , ou de psicoterapia e religião , ou de filosofia e religião antes de definir o que entendemos pela palavra religião . E visando ao nosso objetivo , no momento , penso que devemos distinguir pelo menos entre o que é conhecido por religião exotérica e religião esotérica . A religião exotérica ou " exterior " é religião mítica , religião que é terrivelmente concreta e literal , que realmente acredita , por exemplo , que Moisés abriu o Mar Vermelho , que Cristo nasceu de uma virgem , que o mundo foi criado em seis dias , que um dia , literalmente choveu maná do céu , e assim por diante . Em todo o mundo , religiões exotéricas consistem desses tipos de crenças . Os hindus acreditam que a Terra deve estar apoiada em algo ; assim , crêem encontrar-se sobre um elefante que , também necessitando de suporte , está sobre uma tartaruga ; esta , por sua vez , encontra-se sobre uma serpente . E quando surge a pergunta " Em que a serpente está apoiada ? " , a resposta dada é " Mudemos de assunto " . Lao Tsé nasceu com novecentos anos , Krishna acasalou-se com quatro mil vacas , Brahma nasceu da quebra de um ovo cósmico etc . Isto é religião exotérica , uma série de estruturas de crenças que tentam explicar os mistérios do mundo em termos míticos ao invés de termos testemunhais ou de experiência direta .
EZ : Assim , a religião exotérica ou exterior é , basicamente , uma questão de crença , não de evidências .
KW : Sim . Se você acredita em todos os mitos , será salvo ; se não , vai para o Inferno - sem discussão . Esse tipo de religião é encontrado no mundo inteiro - fundamentalismo . Não tenho nada contra , apenas este tipo de religião , religião exotérica , nada tem a ver com a religião mística , ou religião esotérica , ou religião experiencial , que é o tipo de religião ou espiritualidade que me interessa .
EZ : O que significa esotérico ?
KW : Interior ou oculto . O fato de a religião esotérica ou mística ser oculta não é porque seja secreta ou algo assim , mas sim porque é uma questão de experiência direta ou percepção pessoal . A religião esotérica não pede que você acredite em nada na base da fé ou que engula obedientemente qualquer dogma . Ao contrário , a religião esotérica é um conjunto de experimentos pessoais conduzidos cientificamente no laboratório da sua própria consciência . Como toda boa ciência , é baseada na experiência direta , não em simples crenças ou desejos , e pode ser verificada e validada por outras pessoas que também tenham executado o experimento . O experimento é a meditação .
EZ : Mas meditação é privada .
KW : Não , não é . Não mais do que , digamos a matemática . Não há , por exemplo , nenhuma prova de que menos um elevado ao quadrado é igual a um ; não há nenhuma prova sensória ou empírica para isso . É verdadeiro , mas somente é provado por uma lógica interna . Você não consegue encontrar menos um no mundo exterior ; somente o encontra na sua mente . Mas isto não significa que não seja verdade , que seja conhecimento privado que não possa ser validado publicamente . Significa somente que esta verdade é validada por uma comunidade de matemáticos treinados , por todos aqueles que sabem como funciona o experimento lógico que irá definir sua veracidade . Do mesmo modo , o conhecimento meditativo é conhecimento interno , mas conhecimento que pode ser validado publicamente por uma comunidade de meditadores treinados , aqueles que conhecem a lógica interna da experiência contemplativa . Não se admite que qualquer pessoa opine sobre a verdade do teorema de Pitágoras ; somente matemáticos treinados estão capacitados a fazê-lo . Da mesma maneira , a espiritualidade meditadora faz certas afirmações - por exemplo , que se você olhar profundamente para o seu eu interior sentirá que ele é uno com o mundo exterior - mas a veracidade delas deve ser verificada por você e qualquer outra pessoa que tente fazer o experimento . E após algo como seis mil anos em que este experimento vem sendo realizado , sentimo-nos perfeitamente tranquilos em tirar certas conclusões , em desenvolver certos teoremas espirituais , por assim dizer . E esses teoremas espirituais são o núcleo das tradições da sabedoria perene .
EZ : Mas por que ela é chamada " oculta " ?
KW : Porque se você não realiza o experimento , então não sabe o que está acontecendo , não está em condições de opinar , do mesmo modo que se você não aprende matemática , não consegue discutir a veracidade do teorema de Pitágoras . Quero dizer , você pode ter opinião a respeito , mas o misticismo não está interessado em opiniões , mas sim em conhecimento . A religião esotérica ou misticismo encontra-se oculta para a mente daqueles que não realizam o experimento ; é isso que significa a palavra " oculta " .
EZ : Mas as religiões variam muito entre si .
KW : As religiões exotéricas variam tremendamente entre si ; as religiões esotéricas são virtualmente idênticas em todo o mundo . Como já vimos , o misticismo ( ou esoterismo ) é científico , no sentido mais amplo da palavra , e do mesmo modo que não se tem química alemã versus química americana , não existe ciência mística hinduísta versus ciência mística islâmica . Ao contrário , elas concordam funadamentalmente no que diz respeito à natureza da alma , à natureza do Espírito e à natureza da sua suprema identidade , entre outras coisas . Isto é o que os eruditos chamam de " unidade transcendental das religiões do mundo " - eles referem-se às religiões esotéricas . É claro , suas estruturas superficiais variam tremendamente , mas suas estruturas profundas são virtualmente idênticas , refletindo a unanimidade do espírito humano sobre as leis desveladas fenomenologicamente .
EZ : Mas alguns seguidores das religiões míticas interpretam de fato seus mitos alegórica ou metaforicamente .
KW : Sim , esses são os místicos . Isto é , os místicos são aqueles que dão um significado esotérico ou " oculto " para os mitos e esses significados são descobertos através da experiência direta , interior e contemplativa , e não de algum sistema exterior de crença , símbolo ou mito . Em outras palavras , eles não são crentes míticos , mas sim fenomenologistas contemplativos , místicos contemplativos , cientistas contemplativos . Isto explica porque historicamente , como salienta Alfred North Whitehead , o misticismo tem sempre se aliado à ciência contra a Igreja , uma vez que ambos , misticismo e ciência , dependem de evidências diretas consensuais . Newton foi um grande cientista ; foi também um místico profundo , e não havia , como não há , nenhum conflito nisso . Por outro lado , você não pode ser um grande cientista e um grande crente mítico ao mesmo tempo .
Além disso , os místicos são aqueles que concordam que sua religião é basicamente idêntica em essência a outras religiões místicas - " eles chamam de muitas maneiras Aquele que realmente é Um . " Agora , você não encontra um crente mítico , por exemplo um Protestante fundamentalista , dizendo que o Budismo também é um caminho perfeito para a salvação . Crentes míticos afirmam que eles possuem o único caminho porque baseiam sua religião em mitos exteriores , que são diferentes entre si ; eles não compreendem a unidade interior oculta nos símbolos exteriores ; os místicos o fazem .
EZ : Sim , entendo . Então você não concorda com Carl Jung que os mitos carregam arquétipos e , nesse sentido , importância mística ou transcendental .
KW : Jung descobriu que os homens e mulheres modernos podem , espontaneamente , produzir virtualmente todos os principais temas das religiões míticas do mundo ; eles o fazem em sonhos , em imaginação ativa , em associação livre e assim por diante . Daí , ele deduzir que as formas míticas básicas , que ele chamou de arquétipos , são comuns a todas as pessoas , são herdadas por todas as pessoas e são transmitidas por aquilo que ele chamou de inconsciente coletivo . Cito sua afirmação : " misticismo é experiência de arquétipos " .
Em minha opinião , há vários erros cruciais nessa visão . Primeiro , é totalmente verdadeiro que a mente , mesmo a mente moderna , pode produzir espontaneamente forma míticas que são , em essência , similares àquelas encontradas nas religiões míticas . Como já disse , os estágios pré-formais do desenvolvimento da mente , particularmente os pensamentos pré-operacional e operacional concreto são , pela sua própria natureza , produtores de mitos . Uma vez que todos os homens e mulheres modernos passam por esses estágios de desenvolvimento na infância , naturalmente todos os homens e mulheres têm acesso espontâneo a esse tipo de estrutura de produção de pensamento mítico , especialmente em sonhos , onde os níveis primitivos da psique podem vir à tona com mais facilidade .
Mas não há nada de místico nisso . De acordo com Jung , arquétipos são formasmíticas básicas destituídas de conteúdo ; misticismo é consciência sem forma . Não há ponto de contato .
Segundo , há o próprio uso que Jung faz da palavra " arquétipo " , conceito que ele tomou emprestado de grandes místicos , como Platão e Agostinho . Mas o modo como Jung usa o termo não é o modo que esses místicos o usam , nem mesmo , de fato , é o modo que místicos do mundo inteiro o usam . Para os místicos - Shankara , Platão , Agostinho , Eckhart , Garab Dorje e outros - arquétipos são formas sutis primordiais que aparecem à medida que o mundo se manifesta a partir do Espírito informe e não-manifesto . Eles são os padrões sobre os quais todos os outros padrões de manifestação se baseiam . Do grego arche typon , padrão original . Formas sutis , transcendentais que são as formas primordiais de manifestação , não importa se a manifestação é física , biológica , mental etc . E na maioria das formas de misticismo , esses arquétipos são , basicamente , padrões radiantes ou pontos de luz iluminações audíveis , formas e luminosidades brilhantemente coloridas , arco-íris de luz , som e vibração - através dos quais , em manifestação , o mundo material é condensado , se assim podemos nos expressar .
Mas Jung usa o termo para certas estruturas míticas básicas que são comuns à experiência humana como o trickster ( trapaceiro , vigarista , brincalhão ) , a sombra , o Velho Sábio , o ego , a persona , a Grande Mãe , a anima , o animus etc .
Eles são mais existenciais do que transcendentais . São simplesmente facetas das experiências comuns do dia-a-dia da condição humana . Concordo que essas formas míticas são herdadas coletivamente pela psique . E também concordo inteiramente com Jung que é muito importante chegar a um acordo com esses " arquétipos " míticos .
Por exemplo , se estou tendo problemas psicológicos com minha mãe , se sofro o assim chamado complexo materno , é importante entender que muito dessa carga emocional não decorre da minha mãe individual , mas sim da Grande Mãe , uma poderosa imagem do meu inconsciente coletivo que é , em essência , a destilação das mães de todo o mundo . Isto é , a psique vem com a imagem da Grande Mãe embutida nela , do mesmo modo como já vem equipada com as formas rudimentares de linguagem e de percepção , e de variados padrões instintivos . Se a imagem da Grande Mãe for ativada , não estarei interagindo somente com minha mãe individual , mas sim com milhares de anos da experiência humana com a maternidade em geral ; assim a imagem da Grande Mãe carrega uma carga e tem um impacto muito além daqueles que minha própria mãe poderia gerar . Entrar em acordo com a Grande Mãe pelo estudo dos mitos do mundo é um bom caminho para tratar com aquela forma mítica , torná-la consciente e diferenciar-se dela . Concordo inteiramente com Jung neste ponto . Mas essas formas míticas nada têm a ver com misticismo , com a genuína consciência transcendental .
Deixe-me explicar de maneira mais simples . Em minha opinião , o principal erro de Jung foi confundir coletivo com transpessoal ( ou místico ) . Simplesmente porque minha mente herda certas formas coletivas não significa que essas formas são místicas ou transpessoais . Por exemplo , todos herdamos coletivamente dez dedos dos pés , mas se experiencio meus dedos não estou tendo uma experiência mística ! Os " arquétipos " de Jung virtualmente nada têm a ver com a genuína consciência espiritual , transcendental , mística , transpessoal ; ao contrário , são formas coletivamente herdadas que distilam alguns dos mais básicos encontros existenciais do dia-a-dia da condição humana - vida , morte , mãe , pai , sombra , ego etc . Nada místico . Coletivo , sim ; transpessoal , não .
Há o coletivo pré-pessoal , o coletivo pessoal e o coletivo transpessoal ; Jung não os diferencia com a clareza necessária ; e isso gera um desvio em todo o seu entendimento do processo espiritual , em minha opinião .
Assim , concordo com Jung que é muito importante entrar num acordo com as formas de ambos os inconscientes míticos , o pessoal e o coletivo ; mas nenhum deles tem muito a ver com o misticismo real que , primeiro , descobre a luz além da forma para , depois , chegar ao informe além da luz .
Ken Wilber - Arquétipos ( 30 30 America / Sao_Paulo dezembro 30America /Sao_Paulo 2009 )
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Ken Wilber é o pensador americano que criou a Psicologia Integral .
A obra dele se concentra na integração de todas as áreas do conhecimento ( ciência , filosofia , arte , ética e espiritualidade ) . Essa preocupação em juntar ciência com religião se apoia na própria experiência dele , e também na de diversos místicos de todas as grandes tradições de sabedoria , tanto ocidentais quanto orientais . Ken Wilber junta essas experiências com a releitura transpessoal que ele faz da psicologia analítica do Carl Gustav Jung .

















terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

" Três Tipos de Ciência "

A ciência é a religião de hoje . Se a ciência estabelecer algo , deve ser verdadeiro . Se a ciência não estabelecer algo , não pode ser verdadeiro . É assim que a filosofia moderna a tem . Mas a ciência abrange toda a realidade ? Já que a ciência é baseada no que os sentidos físicos ( geralmente com a ajuda dos instrumentos ) nos dizem , é sensato depender totalmente desta fonte de conhecimento ? Quem já enxergou as emoções ou os pensamentos com o olho físico ? Isso é razão suficiente para negar a existência deles ? Ou estamos deixando algo escapar ?
" Ausência de prova não é prova de ausência " , podemos dizer .
Acreditar que a ciência abrange TODA a realidade não é algo realmente científico , porque temos que negar outras formas de experiência humana , como nossos sentimentos de identidade mais profundos . Isso é o que podemos chamar de " cientismo " .
Veja que a própria ciência não tem rejeitado a crença na alma , nas esferas superiores , nas realidades transcendentais , como muitas pessoas instruídas acreditam . Está na hora de corrigirmos este status extremamente desigual .
Basicamente , a realidade abrange pelo menos três domínios :
1. aquele que podemos ver com nossos sentidos ,
2. aquele que podemos ver com nosso " olho interior " ,
3. aquele que vê , tanto externamente quanto interiormente : o self .
Repare que todos os três podem ser estudados de uma maneira científica ! Mas qual é o significado de " científico " ?
Wilber argumenta que a ciência de maneira alguma deve implicar em materialismo . Na verdade , ciência envolve três elementos :
1. Seguir uma instrução , injunção ou paradigma
2. Apreender algo sobre esta realidade específica
3. Comparar nossas descobertas com as dos outros
Esses três " elementos " operam na ciência de uma forma óbvia : um astrônomo ( 1 ) olha através de um telescópio , ( 2 ) observa uma certa região do universo e ( 3 ) discute suas descobertas com colegas astrônomos ( e NÃO conosco , meros mortais , um ponto muito importante ) .
Wilber defende a existência de dois outros tipos de ciência , que seguem o mesmo procedimento formal : A ciência mental ou social ( o que os europeus chamam de Geisteswissenschaft ) não observa os objetos físicos , mas os significados mentais , que podem ser encontrados em documentos , estórias , mitos , relatos e livros . O significado de um texto não pode ser visto com o olho físico , mas apenas com o " olho da razão " . Seguindo os três fios da ciência , a ciência mental é perfeitamente científica . ( Lógico , os objetos mentais não são tão concretos quantos os físicos . Assim , as conclusões da ciência mental não podem equiparar às da física . Mas e daí ? ) .
E há um terceiro tipo de ciência , segundo Wilber . Pois afinal a realidade compreende apenas coisas e pensamentos ? E o princípio em nós que vê e pensa ? O self que vê e pensa não pode ser visto e não é um pensamento . Mas pode ser abordado experimentalmente na meditação . Assim , a " ciência espiritual " nasce . A meditação e a yoga contam como " ciência " porque elas também seguem os três fios : ( 1 ) instrução - sentamos numa alfofada por horas , ( 2 ) observação - percebemos um estado da mente , e ( 3 ) confirmação - discutimos nossas descobertas com colegas que também meditam .
Para concluir : Wilber defende três tipos de ciência , já que a realidade é composta de pelo menos três domínios , e todos os três domínios podem ser abordados de uma maneira experimental e , portanto , científica .
Texto : Ken Wilber
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