quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

" A Visão " new-age " Sobre Doença e Carma "

( Excertos do livro Grace and Grit de ken Wilber )

Tradução de Ari Raynsford


Visão " new age " da doença : a doença é uma lição . Você está-se permitindo esta doença porque há algo muito importante a aprender com ela a fim de continuar seu crescimento espiritual e evolução . A mente sozinha causa a doença e somente a mente pode curá-la .
Voltei a escrever ! Em um mês e meio , trabalhando febrilmente dia e noite , produzi um livro de oitocentas páginas com o título provisório The Great Chain of Being : A Modern Introduction to the Perennial Philosophy and the Word's Great Mystical Traditions .
Meu velho demônio bom , após três anos de confinamento na prisão da minha mentira a mentira de culpar Treya - explodiu em cena cheio de energia e vontade . Deus , eu entrei em êxtase ! Treya ajudou-me enormemente com o livro , lendo cada capítulo saído ainda quente da impressora , dando-me inestimável retorno e , frequentemente , sugerindo que refizesse seções inteiras . Nos momentos de descanso , sentávamos aconchegados pensando em títulos bobos para o livro como , por exemplo , Who Is This God Person , Anyway ? ( Quem é este tal de Deus , afinal ? ) .
Nesse ínterim , trabalhei com vigor no livro . Um de seus capítulos , " Saúde , Totalidade e Cura " foi publicado na revista New Age junto com o artigo de Treya , com o título " Nós nos fazemos doentes ? " . Não repetirei o capítulo aqui , mas resumirei brevemente seus principais pontos , uma vez que representam a culminância de meus pensamentos em relação ao difícil problema pelo qual Treya e eu estávamos passando nos últimos três anos .
1. O argumento básico da filosofia perene é que homens e mulheres estão imersos na Grande Cadeia do Ser . Isto é , temos em nós matéria , corpo , mente alma e espírito .
2. Para cada doença , é extremamente importante tentar determinar que nível ou níveis primariamente a originam - físico , emocional , mental ou espiritual .
3. É muito importante usar procedimento do " mesmo nível " ( mas não necessariamente o único ) para o rumo inicial do tratamento . Use intervenção física para doenças físicas , terapia emocional para distúrbios emocionais , métodos espirituais para crises espirituais e assim por diante . No caso de uma mistura de causas , use uma mistura de tratamentos dos níveis apropriados .
4. Isto é especialmente importante porque se você errar no diagnóstico da doença pensando que ela origina-se num nível mais elevado , então gerará culpa ; se diagnosticá-la num nível inferior ao correto , gerará desespero . Em qualquer dos casos , o tratamento não será eficaz , com a desvantagem adicional de gerar no paciente culpa ou desespero devido somente a um erro de diagnóstico .
Por exemplo , se você for atropelado por um ônibus e quebrar a perna , esta é uma doença física com recursos físicos : coloca-se o osso no lugar e engessa-se a perna . É uma intervenção do " mesmo nível " . Você não se senta na calçada e visualiza sua perna curando-se . Esta é uma técnica do nível mental que não é efetiva para este problema do nível físico . E mais , se lhe disserem que a causa do seu acidente foram simplesmente seus pensamentos e que você deveria ser capaz de curar sua perna com seus pensamentos , então a única coisa que vai acontecer é que você sentirá culpa , irá autocondenar-se e sua auto-estima diminuirá . É um completo descasamento de níveis e tratamentos .
Por outro lado , se você está sofrendo , digamos , de baixa auto-estima por causa de certos papéis internalizados de que é fraco e um incompetente , este é um problema do nível mental que responde bem a intervenções do nível mental , tais como visualização ou afirmação ( reescrita do papel - exatamente o que a terapia cognitiva faz ) . Se usar intervenções do nível físico - tomar megavitaminas ou mudar sua dieta - não terá muito efeito ( a menos que você realmente esteja com um desbalanceamento vitamínico contribuindo para o problema ) . E se tentar usar somente tratamentos do nível físico , terminará em alguma forma de desespero , porque os tratamentos são do nível errado e simplesmente não funcionarão bem .
Assim , em minha opinião , a abordagem genérica para qualquer doença deve começar de baixo para cima . Primeiro , procure por causas físicas . Pesquise todas as possibilidades da melhor maneira . Depois , pesquise possíveis causas emocionais ; seja exaustivo . Então passe para causas mentais e , por fim , espirituais .
Isto é particularmente importante , porque muitas doenças que no passado eram creditadas a origens puramente psicológicas ou espirituais , hoje sabe-se que são causadas principalmente por componentes físicos ou genéticos . Antigamente , pensava-se que a asma se devia a uma " mãe asfixiante " . Hoje sabe-se que ela é principalmente biofísica nas causas e na emergência . Tuberculose era fruto de uma " personalidade consumptiva " ; gota , de fraqueza moral . Acreditava-se largamente em uma " personalidade artritóide " , que não resistiu ao teste do tempo . Tudo o que essas crenças faziam era gerar culpa em suas vítimas ; as curas não aconteciam simplesmente porque estavam sendo considerados os níveis errados .
Entretanto , isto não significa que os tratamentos dos outros níveis não sejam muito importantes como suporte ou coadjuvantes . Definitivamente , eles poderão ser . No exemplo simples da perna quebrada , técnicas de relaxamento , visualização , afirmação , meditação , psicoterapia se necessária - todas elas podem contribuir para uma atmosfera mais equilibrada na qual a cura física poderá ocorrer mais facilmente e rapidamente .
O que não ajuda é , considerando-se que todos esses aspectos psicológicos e espirituais podem ser muito úteis , afirmar-se que a razão de você ter quebrado sua perna é que lhe faltam , em primeiro lugar , essas características psicológicas e espirituais . Uma pessoa acometida de uma doença grave pode modificar-se profundamente em função da mesma ; daí não se pode inferir que ela contraiu a doença por falta de mudanças . Isto é o mesmo que pensar : se você está com febre e toma uma aspirina , a febre baixa ; portanto , ter febre deve-se a uma deficiência de aspirina .
Agora , obviamente muitas doenças não se originam de um simples nível isolado . O que quer que aconteça em um nível ou dimensão do ser afeta todos os outros níveis em maior ou menor grau . A composição emocional , mental e espiritual de uma pessoa com certeza pode influenciar na doença física e na cura física , do mesmo modo que a doença física pode repercutir fortemente nos níveis superiores . Quebre sua perna e este fato provavelmente acarretará efeitos emocionais e psicológicos . Na teoria de sistemas isto é chamado " causação ascendente " - um nível mais baixo produz certos eventos em um nível mais alto . E o inverso , " causação descendente " , é quando um nível mais elevado tem um efeito causal ou infuencia um nível mais baixo .
A pergunta , então , simplesmente é : quanta " causação descendente " nossa mente - nossos pensamentos e emoções - tem na doença física ? E a resposta parece ser : muito mais do que se pensava anteriormente , mas muito menos do que os adeptos da " new age " acreditam .
A nova escola da psiconeuroimunologia ( PNI ) tem descoberto evidências convincentes de que nossos pensamentos e emoções podem influenciar diretamente nosso sistema imunológico . O efeito não é grande , mas é detectável . Obviamente , isto é o que esperaríamos do axioma segundo o qual todos os níveis afetam todos os outros níveis de algum modo , embora secundariamente . Mas , uma vez que a medicina enveredou para uma ciência puramente do nível físico e desconsiderou a influência dos níveis superiores na doença nível-físico ( " o fantasma na máquina " ) , a PNI veio prover a correção necessária , oferecendo uma visão mais equilibrada . A mente pode afetar o corpo num grau pequeno , mas não insignificante .
Em particular , descobriu-se que formação de imagens e visualizações talvez sejam os mais importantes ingredientes na influência " pequena mas não insignificante " da mente sobre o corpo e sobre o sistema imunológico . Por que imagem ? Observemos a versão mais completa da Grande Cadeia do Ser , notando onde as imagens ocorrem : matéria , sensação , percepção , impulso , imagem , símbolo , conceito e assim por diante . A imagem é a mais baixa e a mais primitiva parte da mente , colocando-a diretamente em contato com a parte mais alta do corpo . Em outras palavras , a imagem é a conexão direta da mente com o corpo - suas tendências , seus impulsos , sua bioenergia . Nossos pensamentos e conceitos mais elevados podem ser traduzidos para baixo em simples imagens e estas , aparentemente , têm influência modesta , porém direta , nos sistemas do corpo ( via influência ou impulso , a dimensão inferior seguinte ) .
Então , todas as coisas consideradas , as tendências psicológicas representam algum papel em cada doença . E concordo que esse componente deve ser exercitado ao máximo .
Numa eleição , essas tendências podem ser suficientes para fazer pender o prato da balança em favor da saúde ou da doença , mas sozinhas , não são capazes de encher a urna de votos .
Assim , como Steven Locke e Douglas Colligan escreveram em The Healer Within ( O Curador Interno ) , com efeito , toda doença tem um componente psicológico e todo processo de cura é afetado pela psicologia . Mas , continuam os autores , o problema é que as pessoas confundem o termo psicossomático , que significa que um processo de doença física pode ser afetado por fatores psicológicos , com o termo psicogênico , que significa que a doença é causada somente por fatores psicológicos . Os autores afirmam : " No sentido correto da palavra , toda doença pode ser considerada psicossomática ; talvez seja a hora de aposentar definitivamente o termo psicossomático . [ Porque ] tanto o público como alguns médicos usam as palavras psicossomático ( significando que a mente pode influenciar a saúde do corpo ) e psicogênico ( significando que a mente pode causar doenças no corpo ) intercambiavelmente . Eles perderam de vista o verdadeiro significado de doença psicossomática . " Como Roberto Ader sugere , " Não estamos falando sobre a causação das doenças mas sim da interação entre eventos psicossociais e condições biológicas pré-existentes " .
Os próprios autores mencionam hereditariedade , estilo de vida , drogas , local , ocupação , idade e personalidade . É a interação de todos esses fatores - eu adicionaria fatores existenciais e espirituais - de todos os níveis que , juntos parecem influenciar a causa e o curso das doenças físicas . Escolher um desses fatores e ignorar os demais é uma simplificação absurda .
Então , de onde vem essa idéia dos divulgadores da " new age " de que sua mente sozinha causa e cura todas as doenças físicas ? Eles afirmam , afinal , ter uma sólida base nas grandes tradições místicas , espirituais e transcendentais do mundo . E , aqui , acho que eles se encontram num campo minado . Jeanne Achterberg , autora de Imagery in Healing ( que recomendo com empenho ) , acredita que esta noção pode ser historicamente rastreada até o Novo Pensamento , ou Pensamento Metafísico , que emergiu de uma leitura ( distorcida ) dos transcendentalistas da Nova Inglaterra , Emerson e Thoreau , os quais basearam muito da sua obra no misticismo oriental . As escolas do Novo Pensamento , das quais a Ciência Cristã é a mais famosa , confundem a noção correta " Deus cria tudo " com a noção " Desde que eu sou um com Deus , eu crio tudo . "
Esta posição apresenta dois erros e , acredito , teria a discordância veemente tanto de Emerson quanto de Thoreau . Primeiro , que Deus é um pai interveniente para o universo ao invés de Realidade , Essência ou Condição imparcial . E segundo , que o ego é um com esse Deus paternal e , portanto , pode intervir e ordenar o universo ao redor .
Não encontrei o menor suporte para estas noções em quaisquer das tradições místicas .
Os advogados da " new age " afirmam estar baseando esta idéia no princípio do carma , que diz que as circunstâncias da sua vida atual são o resultado de pensamentos e ações de uma vida passada . De acordo com o Hinduísmo e o Budismo , isto é parcialmente verdadeiro . Mas mesmo que fosse totalmente verdadeiro , o que não é , os adeptos da " new age " , em minha opinião , passaram por cima de um ponto crucial : conforme essas tradições , suas circunstâncias presentes são o resultado de pensamentos e ações de uma vida anterior e seus pensamentos e ações atuais afetarão , não sua vida presente , mas sua próxima vida , sua próxima encarnação . Os budistas dizem que na vida atual você está simplesmente lendo um livro que escreveu na vida passada e o que você está fazendo agora só se concretizará em sua próxima vida . Em nenhum dos casos , seu pensamento presente cria sua realidade atual .
Agora , acontece que , pessoalmente , não acredito nesta visão particular de carma . É uma noção muito primitiva , subsequentemente refinada ( e largamente abandonada ) pelas escolas superiores do Budismo , onde reconheceu-se que nem tudo que acontece com você é resultado das suas ações passadas . Como Namkhai Norbu , mestre do Budismo Dochen ( geralmente considerado como o pináculo do ensinamento budista ) , explica :
" Há doenças devidas ao carma ou a condições prévias do indivíduo . Mas também há doenças geradas por energias que vêm de outros , de fora . E há doenças provocadas por causas provisionais , como alimentos ou outras combinações de circunstâncias . E há doenças devidas a acidentes . Assim , há todos os tipos de doenças ligadas ao ambiente . "
Minha opinião é que nem a versão primitiva do carma nem os ensinamentos mais desenvolvidos dão suporte à visão " new age " .
Então , de onde realmente veio esta noção ? Aqui , afastar-me-ei de Treya e apresentarei minha teoria predileta sobre as pessoas que assim acreditam . Não irei falar com compaixão sobre os sofrimentos que essas idéias causam . Tentarei separá-las , categorizá-las , formular teorias sobre elas , porque creio que essas idéias são perigosas e precisam ser arrumadas , se não por qualquer outra razão , pelo menos para prevenir sofrimentos posteriores . E meus comentários não são dirigidos ao grande número de pessoas que acreditam nelas de um modo inocente , ingênuo e inócuo . Tenho mais em mente os líderes nacionais desse movimento , indivíduos que dão seminários criando sua própria realidade ; que desenvolvem " workshops " que ensinam , por exemplo , que o câncer é causado somente por ressentimento ; que ensinam que a pobreza é responsabilidade sua e a opressão , algo que você trouxe consigo . Talvez sejam pessoas bem-intencionadas , mas , de qualquer modo , em minha opinião , perigosas , uma vez que desviam a atenção dos níveis reais - físico , ambiental , legal , moral e sócio-econômico , por exemplo - onde há muito trabalho a ser realizado urgentemente .
Para mim , essas crenças - particularmente a crença de que você cria sua própria realidade - são crenças do nível dois . Elas têm todas as marcas autenticadoras da visão de mundo infantil e mágica das desordens de personalidade narcisísticas . A idéia de que os pensamentos não só influenciam a realidade como também a criam é o resultado direto , em minha opinião , da diferenciação incompleta da fronteira do ego que define o nível dois . Pensamentos e objetos não são claramente separados ; assim manipular o pensamento é manipular de modo onipotente e mágico o objeto .
Acredito que a cultura hiperindividualista da América , que atingiu seu apogeu na " década do eu " , incentivou a regressão para os níveis narcisístico e mágico . Creio ( como Robert Bellah e Dick Anthony ) que o colapso de estruturas sociais mais coesivas levou os indivíduos de volta a seus próprios recursos , e isto também ajudou a reativar tendências narcisísticas . E acredito , junto com psicólogos clínicos , que por baixo da superfície do narcisismo , furtivamente está a raiva , particularmente , mas não somente , expressa pela crença : Não quero machucar você , eu a amo ; mas se você discordar de mim contrairá uma doença que a matará . Concorde comigo , concorde que pode criar sua própria realidade e você melhorará , você viverá . " Isto não tem nenhuma base nas grandes tradições místicas do mundo ; baseia-se em patologia narcisística e limítrofe .
Enquanto a maioria da correspondência e resposta da revista New Age concordava com meu sentimento de insulto moral com respeito ao que essas idéias estavam fazendo a tanta gente inocente , os new agers radicais reagiram furiosamente dizendo coisas como : se eu e Treya pensávamos daquela maneira ela merecia estar com câncer ; ela o estava gerando em si mesma com esses pensamentos .
Esta não é uma condenação cega de todo o movimento " new age " . Há aspectos dele - acima de tudo é uma besta grande e variada - que efetivamente baseiam-se em genuínos princípios místicos e transpessoais ( como a importância da intuição e a existência da consciência universal ) . O problema é que qualquer movimento genuinamente transpessoal sempre atrai um grande número de elementos pré-pessoais , simplesmente porque ambos são não-pessoais ; é exatamente esta confusão entre " pré " e " trans " um dos pricipais problemas do movimento " new age " em minha opinião .
Eis um exemplo concreto baseado em pesquisa empírica . Durante os tumultos em Berkeley em protesto contra a guerra do Vietnam , um grupo de pesquisadores aplicou o teste de desenvolvimento moral de Kohlberg a uma amostra representativa de estudantes . Os estudantes , enfim , afirmavam que sua maior objeção à guerra era por ser ela imoral . Ora , em que estágios de desenvolvimento moral os estudantes estavam operando ?
O que os pesquisadores descobriram foi que uma pequena percentagem de estudantes , algo como 20% , estava efetivamente operando nos estágios pós-convencionais ( ou estágios transconvencionais ) . Isto é , suas objeções eram fundamentadas em princípios universais de certo e errado ; eles não se baseavam em padrões de uma sociedade particular ou em caprichos individuais . Suas crenças sobre a guerra poderiam estar certas ou erradas , mas sua argumentação denotava um elevado desenvolvimento moral .
Por outro lado , a grande maioria dos protestantes - cerca de 80% - era pré-convencional , o que significa que sua argumentação moral fundamentava-se em motivos pessoais extremamente egoístas . Eles não queriam lutar , não porque a guerra era imoral , não porque se preocupassem com o povo vietnamita , mas sim porque não queriam ninguém dizendo-lhes o que fazer . Seus motivos não eram universais ou mesmo sociais , mas simplesmente egoístas . E , como esperado , não havia quase estudantes no nível convencional , o nível do " meu país certo ou errado " ( simplesmente porque estes estudantes não teriam do que protestar , em primeiro lugar ) . Em outras palavras , um pequeno número de estudantes verdadeiramente pós ou transconvencionais atraiu um grande número de tipos pré-convencionais , porque o que ambos tinham em comum era o fato de serem não-convencionais .
Do mesmo modo , creio que , no movimento " new age " , uma pequena percentagem de genuínos elementos e princípios místicos , transpessoais ou transracionais ( níveis sete a nove ) atraiu um grande número de elementos pré-pessoais , mágicos e pré-racionais ( níveis um a quatro ) simplesmente porque ambos são não-racionais , não-convencionais , não-ortodoxos . E , então , esses elementos pré-pessoais e pré-racionais afirmam , como fizeram os estudantes pré-convencionais , que possuem a autoridade e o suporte de um estado " superior " , quando o que realmente estão fazendo , temo dizer , é racionalizar sua própria postura egoísta . Como Jack Engler enfatizou , eles são atraídos pelo misticismo transpessoal como um modo de racionalizar suas inclinações pré-pessoais . É uma clássica " falácia pré-trans " .
Concluiria também , com William Irwin Thompson , que cerca de 20% do movimento " new age " é transpessoal ( transcendental e genuinamente místico ) ; cerca de 80% , pré-pessoal ( mágico e narcisístico ) . Normalmente descobrem-se os elementos transpessoais porque eles não gostam de ser chamados de " new age " . Não há nada de " novo " ( new ) neles ; eles são perenes .
No campo da psicologia transpessoal , constantemente temos que lidar com as tendências pré-pessoais do modo mais gentil e delicado possível , porque elas conferem ao campo toda uma reputação de " esquisito " ou " bobo " . Não temos nada contra crenças pré-pessoais ; simplesmente sentimo-nos incomodados quando nos pedem para adotar essas crenças como se fossem transpessoais .
Nossos amigos " esquisitos " ficam danados conosco porque pensam existir somente dois campos no mundo : racional e não-racional ; assim , deveríamos juntar-nos a eles contra o campo racionalista . Mas há de fato três campos : pré-racional , racional e transracional .
Na realidade , estamos mais próximos dos racionalistas do que dos pré-racionalistas . Os níveis superiores transcedem mas incluem os inferiores . O Espírito é translógico , não antilógico ; ele abrange a lógica e vai além , e não simplesmente rejeita a lógica . Todo princípio transpessoal tem que passar pelo teste da lógica e , então , e somente então , seguir em frente com seus insights adicionais . O Budismo é um sistema extremamente racional que complemente a racionalidade com a consciência intuitiva . Alguns dos princípios " esquisitos " não estão além da lógica , mas aquém .
Assim , estamos tentando separar os elementos genuínos , universais , " testados em laboratório " , do desenvolvimento místico das tendências mais idiossincráticas , mágicas , narcisísticas . Esta é uma tarefa complicada e nem sempre chegamos a bom termo .
Líderes nesta área são Jack Engler , Roger Walsh , William Irwin Thompson e Jeremy Hayward .
Mas deixe-me concluir esta discussão reafirmando meu ponto original : ao tratar qualquer doença , esforce-se ao máximo para determinar de quais níveis estão provindo os seus vários componentes e use os tratamentos do mesmo nível para lidar com eles . Se você identificar corretamente os níveis , você gerará ação que terá a mais alta chance de ser curativa ; se você errar , gerará somente culpa ou desespero .
Texto : Ken Wilber
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