domingo, 1 de maio de 2011

" A IOGA DA MENTE DISCERNENTE "

Meditação no Sol

A prática superior começa , ordinariamente , por um exercício preparatório de um caráter tal que possa ser feito ao mesmo tempo que os outros , ainda que o estudante já esteja em estágio avançado .
É particularmente útil aos novatos porque ajuda , por um lado , a melhorar suas atitudes centradas neles mesmos , e por outro lado , a fazer descer sobre eles a graça .
É extremamente simples , mas aqueles que julgarem o valor do exercício por esta simplicidade , poderão enganar-se gravemente . Na realidade , é uma humilde invocação , uma saudação respeitosa a esta potência suprema que se manifestou sob a forma de universo . Teoricamente , é reconhecimento da unidade fundamental do homem com a Natureza , de seu indiscutível parentesco com o cosmo , de sua participação na vida coletiva . Praticamente é uma comunhão com a Natureza , em seu ponto mais simbólico e mais glorioso : o Sol . O exercício , é pois , ligado ao aparecimento do Sol no céu e ao seu ocaso . Porque , com efeito , a luz , se a levarmos até sua fonte verdadeira , não é senão a primeira energia irradiada de Deus , da Mente-Mundial , e consequentemente , o primeiro estágio da pretensa matéria .
O estudante pode começar levantando-se antes de amanhecer , de modo a observar a maneira como o céu se desembaraça das trevas noturnas . Outrora , nos países orientais , se proibia àqueles que se haviam empenhado na pesquisa do Eu Superior de permanecer dormindo nesse momento do dia . A regra nas escolas de iniciação prescrevia que os estudantes deviam estar na metade do exercício quando o Sol já estivesse a meio , no horizonte . Mas é uma prescrição difícil de observar na latitudes e nas condições de nossa civilização . Será bastante , para aqueles que não a podem respeitar , praticar esta meditação quando o Sol se deita e observar a transformação oposta .
Um dos piores defeitos da civilização moderna é que tende a divorciar o homem do contato com a natureza . O ocidental , em particular , ignora o que perde não consagrando alguns minutos cada dia a observar a calma bênção da madrugada ou a maravilhosa paz do ocaso . São as ocasiões de que dispõe para se aproveitar das operações secretas da Natureza , e então certas forças místicas podem ajudá-lo a comungar com ela . Esses dois períodos são dois pontos neutros do movimento interior de nosso sistema solar , cuja atividade oculta então se inverte e parte em direção oposta . A Natureza marca aí um tempo de suspensão que dá livre jogo a forças transcendentais .
Os instantes em que se pode entrar em contato com essas forças são : a) pela manhã , entre o momento em que as estrelas começam a empalidecer e aquele em que o Sol aflora no horizonte ; b) ao anoitecer , entre o momento em que a luz solar começa a esvanecer-se e aquele em que aparecem as primeiras estrelas . Quando a primeira saudação do Sol chega à terra ou as sombras violáceas do crepúsculo começam a envolvê-la , se não nos dois momentos o homem pode estabelecer um contato mais harmonioso com a Natureza do que em qualquer outro instante , salvo na lua nova , na lua cheia e nos eclipses , dias sempre iminentemente favoráveis à prática da ioga . Em todo caso , quando se empreende esse exercício , é preciso repeti-lo quotidianamente , durante um ciclo solar , para alcançar então a perfeição e tirar todo proveito possível . Atinge-se esse estágio ao fim de 365 dias .
Os detalhes práticos são os seguintes : devemos sentar-nos em um lugar em que não sejamos observados , dentro ou fora , e ficar de face para o Leste , pela manhã , e de face para o Oeste , à tarde .
Se o estudante faz o exercício dentro de casa , será preciso que tome lugar perto de uma janela , que lhe permita ver o sol . Se acontecer como é comum na Europa ou na América , que o Sol se encobre de brumas , nos dois extremos do dia , ou por nuvens , o exercício pode ser feito do mesmo modo , observando-se , pela irradiação da luz solar , o ponto leste do nascimento . A postura geralmente usada , da pessoa acocorada , na ioga comum é proscrita aqui ; não é necessária .
Usa-se esta postura , em que os membros ficam ligados , para ajudar as forças interiores , em jogo , do praticante , enquanto que , desta vez , se trata de receber passivamente forças supra-pessoais . Na postura de pernas cruzadas e mãos juntas , o circuito magnético é fechado , enquanto que no caso presente é bom que seja mantido aberto e receptivo . Tomem-se às estátuas egípcias a atitude que apresentam , isto é , sentadas num assento comum , com as pernas ligeiramente afastadas uma da outra e as mãos repousando , sem afetação , sobre as coxas , perto do joelho .
Posto desta maneira , começará por fixar seu olhar sobre o Sol levante poente ou sobre o céu colorido . Todos os outros pensamentos devem ser banidos e a atenção concentrada do fenômeno físico presente . Os raios de luz devem entrar no corpo pelos olhos ; é a única maneira de lhes dar toda a eficácia e permitir a finalidade do exercício . Os raios absorvidos deste modo , sendo então serenos , possuem o poder latente de curar os males físicos , restituir as forças exauridas , pacificar os corações pertubados , purificar os maus humores sentimentais , do mesmo modo que , ao meio-dia , eles têm o poder de sanear os lugares malsãos e as águas poluídas dos trópicos .
Os sentimentos do estudante serão exaltados e apurados enquanto observar o jogo celeste das colorações . Os artistas e os poetas dotados de intuição superior , têm muitas vezes sentido a verdade de que as auroras e os crepúsculos possuem uma profunda significação interior , embora nunca a tenham compreendido . Já notaram que esse jogo extraordinário de cores não se produz à noite , quando o céu é escuro , nem durante o dia , quando ele é branco , azul ou cinza .
No segundo estágio , o estudante procura participar da profunda pausa interior em que todo o sistema solar é temporariamente mergulhado , de experimentar nele o que se passa no interior desta grande e existência da qual faz parte , de acalmar seus pensamentos para que todas as questões pessoais desapareçam . Do mesmo modo que o Sol ilumina o mundo físico na alvorada , o Sol que está por trás do Sol - a Luz mística da Mente-Mundial , ilumina o mundo mental do homem ao mesmo tempo , e o penetra completamente , com tanto que esteja presente e passivo em consciência para receber seu poder . Deve impregnar-se profundamente deste silêncio místico durante alguns instantes .
No terceiro e último estágio deste exercício , o estudante procurará seguir a luz que se estende ou se retira até abrasar o planeta inteiro . Nesse ponto deve imaginar-se um ser puramente mental , desencarnado , uma consciência sem forma , dissociada do corpo físico , ao mesmo tempo que simultaneamente se esforça por identificar-se , por simpatia , à vida de todos os seres , plantas , animais , homens . É preciso que torne a esta concepção tão viva quanto possível , impregnando-se de fé e de convicção e tomando o sentido das inumeráveis criaturas que existem em toda a parte . Ele se exercitará assim na crença de que é finalmente espírito e não matéria , enquanto reforça sua percepção da verdadeira relação que existe entre ele mesmo e a vida cósmica . No primeiro caso , a mesma faculdade de imaginação criadora que liga o homem à crença de que é carne e nada mais , serve para destacá-lo dessa crença e libertar sua consciência da tirania do pensamento-corpo . No segundo caso o estudante se serve da verdade , muitas vezes esquecida , de sua unidade física e vital com o universo . É preciso conceber com respeito que é uma parte do grande Todo infinito e compreender que sua existência é ligada por uma rede sem começo nem fim a todas as outras existências que o rodeiam . Estes pensamentos devem ser profundamente sentidos e concebidos com a contrição e piedade mais profundas . Mesmo o menor entendimento do milagre cósmico despertará a esperança e inspirará a segurança de que sua pequena vida pessoal possui sua significação sublime .
O estudante atinge o fim deste estágio quando o espetáculo físico do Sol se desvanece à sua vista , quando não tem mais consciência dele , quando sua atenção se volta inteiramente para o interior , para o maravilhoso estado de espírito assim evocado , donde toda forma é ausente e onde o noviço se sente numa relação tão grande com o ser universal que percebe fazer parte integrante dele . Ao sentir uma espécie de resposta , - sentimentos que pode manifestar-se num espaço de dez a vinte minutos , no caso de um pensador mediamente treinado - deve cessar de absorver este apoio do Todo , cuja alma é a Mente-Mundial , e procurar partilhar sua graça altruisticamente com outros . Ele os verá na imaginação , banhados em sua quente luz e em sua paz sublime . Dirigirá a princípio este esforço com seu amor , para aqueles que lhe são próximos e caros e para todos aqueles que deseja ajudar assim . Depois , ele o dirigirá a toda a humanidade que , inconscientemente considera uma grande família .
Depois , faz o mesmo para os indivíduos que lhe são hostis , que o odeiam , que o injuriam ou criticam . Deve considerá-los como seus instrutores , porque , com efeito , seus papéis são o de fazê-lo constatar e reconhecer seus defeitos , e assim , são indiretamente seus benfeitores . Se eles exageram injustamente os fatos ou os deformam maldosamente , o karma entrará em ação e lhes trará sofrimentos e a purificação necessários . O estudante deverá desejar-lhes a melhora moral . Não deve dirigir-lhes seu amor , sobretudo em se tratando de gente obsecada ou inspirada pelas forças do mal , mas sua piedade .
Convém terminar estes exercícios por uma curta e silenciosa oração dirigido ao Eu Superior , se desejar . Neste caso , se se trata de um exercício matinal , o melhor , é solicitar a força , a luz , a verdade , o entendimento , a inspiração e o socorro material , enquanto que a prece da tarde será para a paz , calma , a liberdade , o altruísmo e oportunidade de servir . Esta meditação é particularmente associada ao ato da prece e à difusão da graça . É um humilde apelo do homem a um poder superior , uma confissão de que se reconhece fraco , ignorante ; de que precisa de ajuda para vencer a fraqueza e a ignorância . É também uma solicitação para que se torne mais leve o pesado fardo kármico que carrega sobre si e do qual é ( deve reconhecê-lo ) o único responsável . A misericórdia , a assistência , a graça e mesmo a regeneração divinas são os frutos deste exercícios .
É uma submissão do minúsculo eu , ante a imensidade do Eu cósmico , uma confissão humilde de dependência ante o Ser Superior . O homem sai assim de sua pequenez cega , de sua incessante preocupação por sua personalidade , porque percebe que pertence a uma ordem de coisas mais vasta , que é uma parte do Todo imenso . É finalmente o reconhecimento de que o Sol , fonte de luz , supremo símbolo visível da Mente-Mundial , é o centro do coração de Deus neste sistema do mundo , como o coração de seu corpo físico é o centro do Eu Superior em seu minúsculo sistema pessoal . Esta meditação ocupa um lugar único no ensino oculto . Embora seja considerada , tradicionalmente , como um exercício preliminar e purificador , e acompanhando aqueles que podem seguir , não é desdenhada mesmo pelo maior sábio quando alcançou sua meta mais elevada , assim como um rio volumoso continua a correr depois de haver alcançado o oceano .
Em seu caso , é ao mesmo tempo um ato de humildade e de adoração para com o Espírito-Supremo . No caso do neófito , serve para evocar nele uma força misteriosa que concede a graça e que , por sua inteligência inerente , o conduzirá a inefável beatitude da descoberta que , a despeito das aparências , vive num mundo sem matéria em que seu próprio destino é inevitavelmente divino .

Meditação no Passado            

Neste exercício , o aluno deve efetuar uma estranha viagem .
Deve fazer visita ao homem que era e aos acontecimentos de que fez anteriormente a experiência . Este exercício convém ser praticado à noite , na ocasião de dormir . Se é impossível , por algum motivo , pode ser feito pela manhã , imediatamente depois de acordar , mas sua eficácia será grandemente diminuída . Depois de se haver deitado e de haver estendido completamente as pernas , o aluno começará a dirigir sua consciência através de seu passado . Reverá os principais acontecimentos do dia a partir desse instante e irá assim , de experiência em experiência , de sentimento em sentimento , de idéia em idéia , até o momento do despertar . Deve mesmo procurar lembrar-se dos sonhos que teve no curso na noite precedente e não parar esta revista senão ao chegar à imagem dele mesmo deitado em seu leito , prestes a adormecer , na véspera . Se o exercício se efetuar pela manhã , esta caminhada no tempo começará pelos sonhos da noite para acabar ao despertar da véspera. A necessidade de afastar todas as outras imagens que poderiam pertubar a concentração , torna desejável a meditação sobre imagens particularmente vivas . É preciso empregar , por isso , com todo vigor , o poder criador de imagens mentais . Não é necessário reviver tudo o que aconteceu no decurso das últimas vinte e quatro horas ; é bastante escolher alguns fatos , atividades , contatos , reflexões que tenham importância do ponto de vista , a um tempo , pessoal e filosófico . 
O essencial é ver agir seu próprio corpo como se se tratasse de qualquer outro indivíduo . Deve vê-lo trabalhando movendo-se , falando , alegrando-se ou sofrendo com a mesma sensação de ser separado dele individualmente , como é separado das pessoas que encontra na vida corrente . Ao mesmo tempo deve fazer considerar ao tribunal imparcial do seu Eu Superior as suas ações , pensamentos e sentimentos , a fim de que seu valor filosófico seja julgado . É preciso que tenha uma atitude desprendida para expor os complexos inconscientes e os motivos ocultos , para criticar sem preconceitos favoráveis seus próprios sonhos , atos e pensamentos , de conformidade com o que reclama moral e intelectualmente a filosofia . Deve sair de sua vida e considerá-la como alguma coisa à parte ; seus momentos de alegria ou as desgraças dos maus dias parecerão muito menos importantes como acontecimentos e muito mais como meios de dar lições filosóficas . O exercício reclama , pois , um poderoso emprego de imaginação criadora para desmontar nas próprias pegadas e realçar este desdobramento da consiência .
O estudante , observando a sua pessoa , tratando-a teórica e efetivamente como uma criatura separada e diferente dele , julgando imparcial e seriamente seus pensamentos , sentimentos e ações , cria para si um meio muito eficaz para se aperfeiçoar . Seus motivos serão purificados , suas emoções educadas sua vontade reforçada e suas capacidades mentais , desenvolvidas . O poder que tem a mente de criar suas próprias imagens e de revolver todo o passado , serve assim para modificar eficazmente seu caráter . Além disso , a repetição fiel deste hábito desenvolverá igualmente o poder da memória . Esta faculdade não cederá somente durante a meditação dos pequenos por-menores , que ficariam desapercebidos de outro modo , mas toda a vez em que lhes fizermos apelo durante o dia , e isso com facilidade crescente jamais experimentada .
Mas estas vantagens , embora excelentes , constituem somente um fim parcial deste exercício . Se a retrospecção é intensamente efetuada ao ponto de fazer parar e de mudar o curso do tempo , o estudante se achará liberto da ilusão segundo a qual só o presente é real e o mental , é o material . Também , o fim filosófico se efetua não durante a meditação , mas no intervalo que a separa da seguinte . O estudante começa a compreender que o dia precedente , não sendo mais que uma lembrança , portanto uma forma-pensamento , tudo o que revê - ele próprio os outros , os acontecimentos e o quadro - é igualmente uma série de formas-pensamentos . Sente os resultados em experiências excepcionais em intermédios estranhos e breves que sobrevêm de improviso na vida desperta e sem aviso tomam conta de seus pensamentos .
Durante estes interlúdios , o mundo assume um novo e espantoso aspecto . As ruas ou os campos que nos rodeiam tomarão a aparência de uma imensa teia de aranha , tecida diretamente desde o centro mais profundo de seu ser . O muros de uma casa não serão mais completamente separados dele ; o solo não será mais uma substância inteiramente estranha , e as pessoas vizinhas não serão mais nitidamente distantes . As fronteiras entre o eu e o não-eu que fazem naturalmente do homem um materialista , se adelgaçam ou desaparecem . Não se quer dizer que as formas objetivas se esvaneçam porém mas se unem estranhamente a ele nesse ponto misterioso e central que está nele . Toma luminosamente consciência de que a mente confere a realidade às suas próprias construções e presta atenção nelas e vem a saber que são projetadas fora dele , como o mundo inteiro . O estudante compreende então que a mente constrói todas as coisas porque vê agora em si o que acreditava ser exterior . Enquanto , segundo a opinião popular , e até na científica , se acredita ser o espetáculo panorâmico do mundo provocado em nós pelos objetos físicos e impressos em nossa mente pelo exterior , o estudante constatará por experiência que a verdade é justamente o inverso .
Estas estranhas constatações não serão o resultado de um raciocínio , mas a de uma experiência extremamente vivaz . Não se creia que o mundo se acha assim despoiado de sua realidade e transformado numa espécie de sonho . Não é despojado senão de uma concepção limitada da realidade . A única coisa que subsiste através das incessantes mutações da experiência do mundo é o que faz e observa a Mente .
O fim filosófico final deste exercício é despertar no estudante a consciência do observador oculto . É muito mais difícil que o pre-cedente e atinge um estágio ulterior . Pode manifestar-se no decorrer ou fora da meditação . O estudante toma consciência , intermitentemente , de que existe em si alguma coisa característica que difere dos acontecimentos passageiros , que é o seu testemunho imutável e impertubável . O estudante descobre em si mesmo a existência da experiência que é consciência pura , dissociada de sua personalidade e de suas formas . Começa a observar o fluxo incessante de seus próprios sentimentos , as pulsações de suas emoções e de seus humores , com um despreendimento sereno , quando a cortina distendida entre sua mentalidade quotidiana e a sua consciência transcendental , se levanta com intermitências . Resulta daí uma grande paz no coração e uma sábia medida para sua vida ativa . Mais e mais , frequentemente , esta paz infinita e este despreendimento inexprimíveis virão anunciar-lhe que existe nele e em roda dele algo verdadeiramente extra-terrestre .
Texto : Paul Brunton ( do livro A Sabedoria do Eu Superior . Pag. 302 a 329 )
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