domingo, 1 de maio de 2011

" A IOGA DA MENTE DISCERNENTE "

Meditação no Futuro

Os instantes que precedem o momento de adormecer são importantes para todo homem . Possuem o poder latente de transformar eficazmente sua existência mental , moral e física . Utilizando corretamente este poder , o homem pode melhorar progressivamente , ao mesmo tempo , o meio que o cerca e seu caráter . Estes instantes têm ainda mais importância para o estudante que procura o Eu Superior , visto que encerram também o poder de modificar a consciência . Deitado em seu leito , começa este exercício antecipando as idéias e as atividades principais do dia seguinte . Mas é preciso que seja feito de uma maneira particular . O estudante deve imaginar que se tornou o filósofo ideal que deseja ser e procurar o que seu Eu Superior desejaria que fosse e fizesse . Deve , pois , imaginar-se dotado da qualidades mentais e morais específicas e as está pondo em ação . Prevê a melhor maneira de reagir quando se encontra com outras pessoas ; deve considerar-se como no exercício precedente , isto é , como espectador despreendido e imparcial .
A clareza e a intensidade com as quais estas imagens se manifestarão em sua consciência , assim como o apaziguamento de seus sentidos físicos , farão uma medida parcial dos resultados obtidos .
Deve registrar profundamente em sua consciência às imagens dos pensamentos que deve ter , dos atos que deve praticar ante os acontecimentos prováveis do dia seguinte . O poder da imaginação , quando concentrado forte e disciplinado , pode ajudar consideravelmente um homem a ficar senhor de si mesmo . Ao contrário , quando é hesitante , fraco e confuso , se torna um obstáculo , um liame que lhe impede o progresso . A imaginação , para ter êxito no empreendimento , deve naturalmente ser forte e poderosa ; a fé que a suporta e a confirma deve ser igualmente potente ; que a impressão dessas idéias seja calma e firme não violenta . A confiança no sucesso deverá igualmente reinar . O estudante deve repetir a si próprio estas sugestões , com perseverança , não verbalmente mas imaginando visualmente sua realização . Esta repetição é importante .
Toda a sugestão ideativa que ele se imprime , no decorrer da meditação , terá tendência a realizar-se . Seus atos regular-se-ão espontânea e involuntariamente sobre as sugestões que se registraram em sua consciência , no curso destes momentos de sensibilidade particular . Eles o farão , aliás , obigatoriamente , porque uma lei psicológica entra em jogo aqui . O ponto essencial , porém , é o de adormecer com naturalidade , bem no meio desta meditação . A menor digressão para a consciência corporal poderia quebrar a concentração e fazer perder força à sugestão . Se a consciência desperta desapareceu enquanto o estudante mantém pensamentos que devem determinar e esta os tomará em conta fazendo-os agir ao seu modo superior . No dia seguinte , o aprendiz achar-se-á inconscientemente portador da sugestão que deliberadamente se deu , de véspera , à noite . Quando os acontecimentos se apresentam , percebe uma impulsão interior que o leva a agir precisamente da maneira que havia imaginado . O primeiro resultado importante deste exercício é , pois , o de efetuar a remodelação eficiente do caráter , o de eliminar-lhe os defeitos , faltas e vícios , o de desenvolver incessantemente os méritos , virtudes e boas qualidades . Repetindo o exercício todas as noites , podem ser criados bons hábitos na vida desperta e fazer desaparecer os maus . O poder superior ao pensamento consciente e à tendência emotivo , intervém para corrigi-los e desenvonvê-los , um e outro , no bom sentido . Cada estudante pode perfeitamente fazer apelo a esta força superior para se aperfeiçoar . Aí está uma promessa razoável que pode tornar mais esperançoso , reforçar sua vontade e conformar mais estreitamente sua vida aos seus ideais mais elevados . Os sucessos que virão cedo ou tarde encorajá-lo a seguir esta prática , serão acompanhados pelos sentimentos de um acréscimo de força .
Com espanto , constatará que a conduta que havia fixado na imaginação se realiza sem grande sacrifício pelo poder único de sua vontade e suas sugestões anteriores cumprem-se sem luta e sem oposição .
Tudo isto introduz um novo elemento em seu karma que o modifica e produz , na continuidade , uma mudança de circunstâncias na vida . De fato , todas as imagens mentais , quando suficientemente intensas , afetam estas circunstâncias porque a Mente é a base verdadeira delas . Tudo o que se grava profundamente na consciência , neste período de passividade dos sentidos que precede o sono , tende a reproduzir-se um modo criador na vida exterior , fazendo-se um ajuste não somente do karma e da evolução mas também das tendências de pensamento habituais , se estiverem em conflito com as imagens ou idéias assim gravadas .
Este exercício auxilia o estudante a escapar às influências hipnóticas exercidas deliberada ou inconscientemente sobre ele por outras pessoas e até por tudo o que o cerca . Por outro lado , se o estudante introduz outras pessoas em sua meditação , é preciso absolutamente que haja para isto uma motivação perfeitamente pura . Caso contrário , expor-se-ia a represálias kármicas penosas ou , o que é pior , a sofrimentos físicos , a uma degradação definitiva de seu caráter . A tentação de agir sobre o livre arbítrio dos outros , com um fim egoístico , pode muito facilmente apresentar-se e , então sucumbir , conduziria finalmente ao desastre ; seria absolutamente contrário à finalidade deste exercício que procura elevar o praticante acima de sua personalidade agitada , na atmosfera desapaixonada da verdade , de lhe fazer sentir que alguma coisa situada cima de seu eu ordinário tomou conta dele e o conduz mais alto , tanto na consciência como no valor moral e no entendimento . Vencer a resistência da pessoa nas questões morais é uma das tarefas principais que se cumprem no silêncio e no segredo desta meditação .
Se o estudante a executa fielmente , obterá , como no exercício precedente , um outro resultado importante . Seu centro de gravidade espiritual será deslocado de tal maneira que sobrepujará mais facilmente as ondas emotivas , as paixões físicas e as ilusões intelectuais da pessoa . Ele tomará cada vez mais consciência de uma força interior que reconhece , paradoxalmente , estar acima de sua capacidade de entendimento e que deriva de alguma coisa superior a ele próprio , alguma coisa da universal e de impessoal . Essa coisa deriva , com efeito , do observador oculto . Terá repentinamente consciência de sua presença nos momentos mais inesperados de sua vida corrente .
Cessará de participar dos acontecimentos para tornar-se a testemunha , de algum modo , desinteressada , para vê-los como devem ser vistos .
Reconhecer-se-á , então , estranhamente calmo , no turbilhão do mundo que o rodeia .
Aprende assim a separar " a alma " impessoal do eu ativo , pela compreensão metafísica destes dois aspectos de si mesmo , no decorrer do esforço místico períodico destinado a desdobrar sua consciência . Sendo este esforço mais e mais feliz , perderá ele cada vez mais o sentido egoísta da vida e do trabalho efetuado unicamente para um fim pessoal , sentido que nasce da auto-identificação materialista com o corpo . É somente quando a consciência faz desaparecer a predominância dos sentidos , ocupados tão-somente com a vida pessoal , que o observador oculto transforma a existência exterior , comumente prosaica e materialista , em algo de divino .

Meditação no Eu Atemporal         

Este exercício não se efetua à maneira convencional , isto é , na solidão e no mesmo momento do dia ; insere-se na vida corrente de suas atividades , e é este caráter informal que lhe confere valor filosófico particular . O estudante recorre a ele não somente nos momentos em que se acha livre , mas ainda no meio de suas ocupações . Como o exercício só reclama uns três ou quatro minutos , as consequências não podem ser muito más para a execução dos deveres . O exercício pode , além disso , efetuar-se em qualquer lugar que seja , porque , com efeito , a solidão que se cria é inteiramente interior . Importa que se exercite em empreendê-lo de repente , libertando-se imediatamente todos os outros pensamentos . Isso se aprende com a experiência .
O estudante deve rejeitar bruscamente os pensamentos e os desejos que o ocupam , libertar-se de toda a preocupação pessoal e colocar-se na situação mental de um homem que acaba de acordar de um sonho e compreende repentinamente , não somente que tinha um papel ativo no sonho , mas também era a testemunha imóvel . De modo análogo , deve abstrair-se do que se passa em torno , mesmo de sua personalidade que se acomoda ao quadro , e planar de alguma maneira acima de suas ocupações e de seu prazer . Deve lembrar-se do princípio metafísico segundo o qual , por trás dessas idéias , constantemente cambiantes , a consciência as observa conservando-se estática , imóvel e sem alteração , como um elemento permanente e estável . Deve identificar-se com esta consciência e desprender-se daquela a que está habituado .
Ajudar-se-á nesta tentativa refletindo na razão existente entre o sonhador desperto e o sonhador adormecido . A comparação com a tela do cinema que se conserva imóvel durante o movimento das imagens , pode também socorrê-lo um pouco , a tela representando a consciência testemunha , e as imagens , as experiências cambiantes da pessoa . Essas experiências não afetam a consciência , em virtude da qual elas existem , como as imagens do cinema nada fazem à tela .
Quando o aprendiz compreendeu esta relação , completa a meditação , refletindo que se todas estas experiências tomam forma do espaço e se sucedem no tempo , o próprio elemento-testemunha não tem forma e fica independente de toda cronologia . Esta testemunha escapa ao psicólogo acadêmico porque está misticamente liberta do tempo do qual depende naturalmente o psicólogo . Copérnico constatou que invertendo a idéia segundo a qual o sol e as estrelas giravam em torno da terra , tudo ficava perfeitamente explicável . Esta concepção fez desaparecer todas as dificuldades de um só golpe e revolucionou o pensamento científico de sua época . No decorrer destes momentos de meditação , o estudante deve efetuar uma inversão semelhante de concepção em sua vida consciente . É preciso rejeitar temporariamente a crença convencional e supor que o espaço e o tempo se movem nele mesmo , em sua individualidade superior .
O grau de intensidade com o qual pode escorregar assim fora do mundo tem uma grande importância . A finalidade é chegar ao apogeu supremo do esquecimento , fazer absorver a existência dependente do tempo pela que é dele independente . Esta perspectiva pode despertar algum temor . A experiência é , entretanto , inefável . O citadino não experimenta conforto senão pensando em períodos curtos , e espanta-se com a perspectiva de uma existência sem fim . O habitante do deserto , ao contrário , que viu a Natureza seguir seu curso invariável e assimilou um pouco da tranquilidade que emana de um lugar assim , apanha melhor o caráter sem começo nem fim do cosmo e , conseguintemente , da " alma " .
O que não morre nunca e não teve começo , que existe de uma eternidade a outra , não pode achar-se senão num Agora liberto do tempo , além da concepção do homem mas não além de sua experiência . Aquele que pode aprender a entrar em simpatia com este Agora eterno sabe como são artificiais essas obsessões do tempo às quais a humanidade se acorrentou . Sabe que essas divisões em que se obstina não são senão ilusões no grande absoluto da Duração Infinita . A submissão passiva ao tempo mantém o homem algemado . A meditação deliberada sobre o Observador infinito , que está com ele e nele mesmo , constitui uma revolta que desgasta e enfraquece cada um dos elos dessas cadeias . Se a vida da Mente-Mundial , fora do tempo e do espaço , não está ao alcance do homem , a libertação do tempo , conhecido pelo Espírito puro , entra entretanto no domínio acessível à sua experiência . Como o Eu Superior , é o prodigioso fato permanente de sua vida . Se ele cessa de ignorá-lo e se esforça constantemente para conhecê-lo , chegará fatalmente a hora em que conseguirá seu intento . Pouco a pouco , com efeito , o estudante obterá o conhecimento de que não está aprisionado no corpo ; seu ser , de alguma maneira , se acha liberto no espaço . O espetáculo terrestre parecer-lhe-á como um teatro de sombras . Ele mesmo sentir-se-á desencarnado , eterizado . O sentimento estranho de que estava destinado , desde o seu nascimento , a conhecer esta experiência , penetrará em seu coração . Achará em si mesmo a maravilhosa confirmação daquilo que a razão se contenta em afirmar e a religião em sugerir : o fato glorioso da alma liberta do tempo .
Texto : Paul Brunton ( do livro A Sabedoria do Eu Superior Pag. 302 a 329 )
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