quarta-feira, 9 de setembro de 2009

ASSIM DIZIA O MESTRE !!!



" Eu vim para que os homens tenham a vida , e a tenham com maior abundância "

A vida do homem é uma só e sempre a mesma , aqui na terra , após-morte e para todo o sempre . Entretanto , o modo e a intensidade com que o homem pode possuir esta sua vida única e eterna admite inumeráveis graus . A criança , desde o momento da conceição , possui a sua vida , a mesma que sempre possuirá , mas a consciência com que a possui é mínima , quase nula . Depois de nascida , possui essa mesma vida com um pouco mais de consciência .
Daí a dez anos é notavelmente maior a " abundância " com que possui a sua vida .
Com o pleno desenvolvimento dos sentidos atinge o homem o clímax da sua vida vegetativo-sensitiva . Mas tarde , muitos desenvolvem notável grau de vida intelectual , com todas as suas ramificações através de diversos departamentos da vida no plano horizontal .
Certo número de homens tenta invadir o mundo espiritual , divino , universal ; mas a maior parte só o consegue por meio da crença , sem nenhuma experiência própria . Só de longe em longe aparece um homem que pode dizer com verdade : " Eu sei o que digo e dou testemunho daquilo que vi " . Esse homem possui a vida com notável abundância , embora seja possível aumentar cada vez mais essa abundância , por uma sucessiva intensificação da sua experiência .
Para essa intensificação da experiência do mundo de Deus é necessária uma disciplina orientada .
A palavra " disciplina " suscita sentimentos desagradáveis na mente de muitos homens . É sinônima de " sacrifício " , " sofrimento " , " renúncia " .
Um rio espraiado pela extensão de um quilômetro , para a direita e para a esquerda , tem pouca força , porque a sua largura é grande e a sua profundeza é pequena . A força , porém , está na verticalidade , assim como a fraqueza está na horizontalidade . Se estreitarmos as margens desse rio entre dois paredões de ferro e cimento até acusar 100 metros de largura , será muito maior a sua força , porque a sua profundidade cresceu na razão em que sua largura decresceu .
E se conseguíssemos reduzir-lhe o volume de água a 10 metros de largura , seria irresistível a força das suas águas , agora transformadas em impetuosa cachoeira , capaz de mover poderosas máquinas .
Como foi que essa mesma água , tão fraca a princípio , adquiriu tamanha força ?
Unicamente pela " disciplina " , pela compressão do seu volume em pequeno espaço . Submetemos o rio a uma espécie de sacrifício , de renúncia , de concentração - e sua inércia estática de ontem se converteu na atividade dinâmica de hoje . Adquiriu " vida mais abundante " .
No princípio , toda disciplina parece matar ou diminuir a vida ; parece ser um empobrecimento , e não um enriquecimento da vida humana . E muitos principiantes desanimam nesse estágio inicial e voltam atrás , preferindo o suave comodismo das planícies à autera dinâmica das profundidades e alturas . Os que têm a intrepidez de afrontar as dificuldades iniciais e tomar sobre si , voluntariamente , as renúncias necessárias , acabarão por verificar que a vida com estreita disciplina é incomparavelmente mais rica e fascinante do que a vida levada ao sabor dos caprichos e das veleidades do momento . Provavelmente , são poucas as horas de folga do homem de vida disciplinada , mas essas poucas horas superam em qualidade e intensidade todas as quantidades e extensidades das muitas horas ociosas do homem indisciplinado . O mais fino sabor da vida humana nasce da disciplina voluntariamente aceita e rigorosamente observada , a despeito de todos os caprichos e veleidades em contrário . Dessa disciplina fazem parte também uma rigorosa pontualidade e a absoluta fidelidade aos compromissos assumidos .
O homem disciplinado é austero consigo mesmo e indulgente com os outros .
Não se perdoa facilmente a si mesmo a infração do seu programa .
E nessa espontânea e auto-imposta austeridade é que ele encontra o inebriante elixir de uma perene serenidade e profunda suavidade .
O profano gozador afirma a vida , sem jamais a ter negado .
O asceta nega a vida , sem se atrever a afirmá-la .
O homem integral afirma a vida , depois de a ter negado , e mesmo enquanto a afirma , ele continua a negá-la de certo modo , porque a afirma dentro da sua grande disciplina . E somente esta afirmação da vida dentro da negação é que é uma vida abundante e rica .
" Na restrição - diz Goethe - é que se revela o mestre " .
Quem afirma a vida sem jamais a ter negado é escravo da vida e de seus prazeres fáceis , e por isto mesmo não pode gozar realmente a vida , porque o gozo real é das almas livres , e não dos escravos .
Quem nega a vida sem a afirmar , é livre da escravidão da vida desregrada , mas a sua liberdade é uma pobreza e uma fuga , porque baseada na consciência do medo e na necessidade da fuga .
Neste sentido disse o Mestre : " Eu vim para que os homens tenham a vida , e a tenham com maior abundância " . Ninguém vive a vida tão rica e fascinante como o homem plenamente realizado em sua íntima essência espiritual e divina , o homem crístico , integral , univérsico .
A vida sem disciplina acaba por se tornar aos poucos , tão insípida e insuportável que o homem escravizado por seus caprichos arbitrários procura intensificar progressivamente os seus gozos , a fim de os poder sentir ainda , porque a sua sensibilidade vai-se embotando progressivamente e , por fim , nada mais o satisfaz . O homem indisciplinado necessita de veementes estímulos , chicotadas nos nervos calejados para os pôr em vibração , ao passo que o homem disciplinado se enche de pura alegria e delicado gozo com os acontecimentos mais singelos da vida cotidiana , uma florzinha à beira da estrada , o encontro fortuito com um amigo , o sorriso de uma criança , as melodias de um hino sacro , os gorjeios de um passarinho , uma noite de luar , a sinfonia noturna dos grilos na grama ou dos sapos no brejo - tudo lhe é motivo de satisfação , porque os seus nervos se acham afinados por uma frequência vibratória sutil , que só a disciplina pode dar .
Nunca homem algum deste mundo levou vida tão abundante como Jesus de Nazaré - embora certa literatura religiosa queira fazer-nos crer que ele tenha sido apenas " varão das dores " , e que sua vida tenha sido sofrimento e miséria . O seu sofrimento físico , durante 33 anos , não abrange o total de 15 horas ; e mesmo este foi 100% voluntário . O seu sofrimento moral vinha iluminado constantemente pela consciência da grande missão que o trouxera à terra , conferindo a todos os seus sofrimentos um halo de divina poesia e profunda felicidade . " Eu vos dou a paz , eu vos deixo a minha paz - diz ele em vésperas da sua morte - para que minha alegria esteja em vós , e seja perfeita a vossa alegria " . Quem assim fala , das profundezas da alma , possuía vida abundante e a podia fazer transbordar nas almas humanas que fossem receptivas para recebê-la . E sua vida era abundante não apenas no espírito , senão também na mente e no corpo : perfeita santidade , sapiência e sanidade , perfeita felicidade da alma pelo amor , da mente pelo conhecimento de todas as leis da natureza e do corpo , graças a uma saúde jamais afetada pela mais ligeira moléstia .
Sendo que o homem comum é antes materialista do que espiritual , é natural que os mestres da vida espiritual sejam , geralmente decididos ascetas e insistam grandemente na necessidade da renúncia , do radical desapego dos bens materiais e prazeres sensitivos que escravizam o profano . O próprio Nazareno assim procedia com seus discípulos . Não é possível passar diretamente do estado profano ao estado crístico sem passar pelo estado ascético .
Deixe seu Comentario
Texto : Huberto Rohden


Nenhum comentário:

Postar um comentário