domingo, 1 de maio de 2011

" A IOGA DA MENTE DISCERNENTE "

Meditação no Sol

A prática superior começa , ordinariamente , por um exercício preparatório de um caráter tal que possa ser feito ao mesmo tempo que os outros , ainda que o estudante já esteja em estágio avançado .
É particularmente útil aos novatos porque ajuda , por um lado , a melhorar suas atitudes centradas neles mesmos , e por outro lado , a fazer descer sobre eles a graça .
É extremamente simples , mas aqueles que julgarem o valor do exercício por esta simplicidade , poderão enganar-se gravemente . Na realidade , é uma humilde invocação , uma saudação respeitosa a esta potência suprema que se manifestou sob a forma de universo . Teoricamente , é reconhecimento da unidade fundamental do homem com a Natureza , de seu indiscutível parentesco com o cosmo , de sua participação na vida coletiva . Praticamente é uma comunhão com a Natureza , em seu ponto mais simbólico e mais glorioso : o Sol . O exercício , é pois , ligado ao aparecimento do Sol no céu e ao seu ocaso . Porque , com efeito , a luz , se a levarmos até sua fonte verdadeira , não é senão a primeira energia irradiada de Deus , da Mente-Mundial , e consequentemente , o primeiro estágio da pretensa matéria .
O estudante pode começar levantando-se antes de amanhecer , de modo a observar a maneira como o céu se desembaraça das trevas noturnas . Outrora , nos países orientais , se proibia àqueles que se haviam empenhado na pesquisa do Eu Superior de permanecer dormindo nesse momento do dia . A regra nas escolas de iniciação prescrevia que os estudantes deviam estar na metade do exercício quando o Sol já estivesse a meio , no horizonte . Mas é uma prescrição difícil de observar na latitudes e nas condições de nossa civilização . Será bastante , para aqueles que não a podem respeitar , praticar esta meditação quando o Sol se deita e observar a transformação oposta .
Um dos piores defeitos da civilização moderna é que tende a divorciar o homem do contato com a natureza . O ocidental , em particular , ignora o que perde não consagrando alguns minutos cada dia a observar a calma bênção da madrugada ou a maravilhosa paz do ocaso . São as ocasiões de que dispõe para se aproveitar das operações secretas da Natureza , e então certas forças místicas podem ajudá-lo a comungar com ela . Esses dois períodos são dois pontos neutros do movimento interior de nosso sistema solar , cuja atividade oculta então se inverte e parte em direção oposta . A Natureza marca aí um tempo de suspensão que dá livre jogo a forças transcendentais .
Os instantes em que se pode entrar em contato com essas forças são : a) pela manhã , entre o momento em que as estrelas começam a empalidecer e aquele em que o Sol aflora no horizonte ; b) ao anoitecer , entre o momento em que a luz solar começa a esvanecer-se e aquele em que aparecem as primeiras estrelas . Quando a primeira saudação do Sol chega à terra ou as sombras violáceas do crepúsculo começam a envolvê-la , se não nos dois momentos o homem pode estabelecer um contato mais harmonioso com a Natureza do que em qualquer outro instante , salvo na lua nova , na lua cheia e nos eclipses , dias sempre iminentemente favoráveis à prática da ioga . Em todo caso , quando se empreende esse exercício , é preciso repeti-lo quotidianamente , durante um ciclo solar , para alcançar então a perfeição e tirar todo proveito possível . Atinge-se esse estágio ao fim de 365 dias .
Os detalhes práticos são os seguintes : devemos sentar-nos em um lugar em que não sejamos observados , dentro ou fora , e ficar de face para o Leste , pela manhã , e de face para o Oeste , à tarde .
Se o estudante faz o exercício dentro de casa , será preciso que tome lugar perto de uma janela , que lhe permita ver o sol . Se acontecer como é comum na Europa ou na América , que o Sol se encobre de brumas , nos dois extremos do dia , ou por nuvens , o exercício pode ser feito do mesmo modo , observando-se , pela irradiação da luz solar , o ponto leste do nascimento . A postura geralmente usada , da pessoa acocorada , na ioga comum é proscrita aqui ; não é necessária .
Usa-se esta postura , em que os membros ficam ligados , para ajudar as forças interiores , em jogo , do praticante , enquanto que , desta vez , se trata de receber passivamente forças supra-pessoais . Na postura de pernas cruzadas e mãos juntas , o circuito magnético é fechado , enquanto que no caso presente é bom que seja mantido aberto e receptivo . Tomem-se às estátuas egípcias a atitude que apresentam , isto é , sentadas num assento comum , com as pernas ligeiramente afastadas uma da outra e as mãos repousando , sem afetação , sobre as coxas , perto do joelho .
Posto desta maneira , começará por fixar seu olhar sobre o Sol levante poente ou sobre o céu colorido . Todos os outros pensamentos devem ser banidos e a atenção concentrada do fenômeno físico presente . Os raios de luz devem entrar no corpo pelos olhos ; é a única maneira de lhes dar toda a eficácia e permitir a finalidade do exercício . Os raios absorvidos deste modo , sendo então serenos , possuem o poder latente de curar os males físicos , restituir as forças exauridas , pacificar os corações pertubados , purificar os maus humores sentimentais , do mesmo modo que , ao meio-dia , eles têm o poder de sanear os lugares malsãos e as águas poluídas dos trópicos .
Os sentimentos do estudante serão exaltados e apurados enquanto observar o jogo celeste das colorações . Os artistas e os poetas dotados de intuição superior , têm muitas vezes sentido a verdade de que as auroras e os crepúsculos possuem uma profunda significação interior , embora nunca a tenham compreendido . Já notaram que esse jogo extraordinário de cores não se produz à noite , quando o céu é escuro , nem durante o dia , quando ele é branco , azul ou cinza .
No segundo estágio , o estudante procura participar da profunda pausa interior em que todo o sistema solar é temporariamente mergulhado , de experimentar nele o que se passa no interior desta grande e existência da qual faz parte , de acalmar seus pensamentos para que todas as questões pessoais desapareçam . Do mesmo modo que o Sol ilumina o mundo físico na alvorada , o Sol que está por trás do Sol - a Luz mística da Mente-Mundial , ilumina o mundo mental do homem ao mesmo tempo , e o penetra completamente , com tanto que esteja presente e passivo em consciência para receber seu poder . Deve impregnar-se profundamente deste silêncio místico durante alguns instantes .
No terceiro e último estágio deste exercício , o estudante procurará seguir a luz que se estende ou se retira até abrasar o planeta inteiro . Nesse ponto deve imaginar-se um ser puramente mental , desencarnado , uma consciência sem forma , dissociada do corpo físico , ao mesmo tempo que simultaneamente se esforça por identificar-se , por simpatia , à vida de todos os seres , plantas , animais , homens . É preciso que torne a esta concepção tão viva quanto possível , impregnando-se de fé e de convicção e tomando o sentido das inumeráveis criaturas que existem em toda a parte . Ele se exercitará assim na crença de que é finalmente espírito e não matéria , enquanto reforça sua percepção da verdadeira relação que existe entre ele mesmo e a vida cósmica . No primeiro caso , a mesma faculdade de imaginação criadora que liga o homem à crença de que é carne e nada mais , serve para destacá-lo dessa crença e libertar sua consciência da tirania do pensamento-corpo . No segundo caso o estudante se serve da verdade , muitas vezes esquecida , de sua unidade física e vital com o universo . É preciso conceber com respeito que é uma parte do grande Todo infinito e compreender que sua existência é ligada por uma rede sem começo nem fim a todas as outras existências que o rodeiam . Estes pensamentos devem ser profundamente sentidos e concebidos com a contrição e piedade mais profundas . Mesmo o menor entendimento do milagre cósmico despertará a esperança e inspirará a segurança de que sua pequena vida pessoal possui sua significação sublime .
O estudante atinge o fim deste estágio quando o espetáculo físico do Sol se desvanece à sua vista , quando não tem mais consciência dele , quando sua atenção se volta inteiramente para o interior , para o maravilhoso estado de espírito assim evocado , donde toda forma é ausente e onde o noviço se sente numa relação tão grande com o ser universal que percebe fazer parte integrante dele . Ao sentir uma espécie de resposta , - sentimentos que pode manifestar-se num espaço de dez a vinte minutos , no caso de um pensador mediamente treinado - deve cessar de absorver este apoio do Todo , cuja alma é a Mente-Mundial , e procurar partilhar sua graça altruisticamente com outros . Ele os verá na imaginação , banhados em sua quente luz e em sua paz sublime . Dirigirá a princípio este esforço com seu amor , para aqueles que lhe são próximos e caros e para todos aqueles que deseja ajudar assim . Depois , ele o dirigirá a toda a humanidade que , inconscientemente considera uma grande família .
Depois , faz o mesmo para os indivíduos que lhe são hostis , que o odeiam , que o injuriam ou criticam . Deve considerá-los como seus instrutores , porque , com efeito , seus papéis são o de fazê-lo constatar e reconhecer seus defeitos , e assim , são indiretamente seus benfeitores . Se eles exageram injustamente os fatos ou os deformam maldosamente , o karma entrará em ação e lhes trará sofrimentos e a purificação necessários . O estudante deverá desejar-lhes a melhora moral . Não deve dirigir-lhes seu amor , sobretudo em se tratando de gente obsecada ou inspirada pelas forças do mal , mas sua piedade .
Convém terminar estes exercícios por uma curta e silenciosa oração dirigido ao Eu Superior , se desejar . Neste caso , se se trata de um exercício matinal , o melhor , é solicitar a força , a luz , a verdade , o entendimento , a inspiração e o socorro material , enquanto que a prece da tarde será para a paz , calma , a liberdade , o altruísmo e oportunidade de servir . Esta meditação é particularmente associada ao ato da prece e à difusão da graça . É um humilde apelo do homem a um poder superior , uma confissão de que se reconhece fraco , ignorante ; de que precisa de ajuda para vencer a fraqueza e a ignorância . É também uma solicitação para que se torne mais leve o pesado fardo kármico que carrega sobre si e do qual é ( deve reconhecê-lo ) o único responsável . A misericórdia , a assistência , a graça e mesmo a regeneração divinas são os frutos deste exercícios .
É uma submissão do minúsculo eu , ante a imensidade do Eu cósmico , uma confissão humilde de dependência ante o Ser Superior . O homem sai assim de sua pequenez cega , de sua incessante preocupação por sua personalidade , porque percebe que pertence a uma ordem de coisas mais vasta , que é uma parte do Todo imenso . É finalmente o reconhecimento de que o Sol , fonte de luz , supremo símbolo visível da Mente-Mundial , é o centro do coração de Deus neste sistema do mundo , como o coração de seu corpo físico é o centro do Eu Superior em seu minúsculo sistema pessoal . Esta meditação ocupa um lugar único no ensino oculto . Embora seja considerada , tradicionalmente , como um exercício preliminar e purificador , e acompanhando aqueles que podem seguir , não é desdenhada mesmo pelo maior sábio quando alcançou sua meta mais elevada , assim como um rio volumoso continua a correr depois de haver alcançado o oceano .
Em seu caso , é ao mesmo tempo um ato de humildade e de adoração para com o Espírito-Supremo . No caso do neófito , serve para evocar nele uma força misteriosa que concede a graça e que , por sua inteligência inerente , o conduzirá a inefável beatitude da descoberta que , a despeito das aparências , vive num mundo sem matéria em que seu próprio destino é inevitavelmente divino .

Meditação no Passado            

Neste exercício , o aluno deve efetuar uma estranha viagem .
Deve fazer visita ao homem que era e aos acontecimentos de que fez anteriormente a experiência . Este exercício convém ser praticado à noite , na ocasião de dormir . Se é impossível , por algum motivo , pode ser feito pela manhã , imediatamente depois de acordar , mas sua eficácia será grandemente diminuída . Depois de se haver deitado e de haver estendido completamente as pernas , o aluno começará a dirigir sua consciência através de seu passado . Reverá os principais acontecimentos do dia a partir desse instante e irá assim , de experiência em experiência , de sentimento em sentimento , de idéia em idéia , até o momento do despertar . Deve mesmo procurar lembrar-se dos sonhos que teve no curso na noite precedente e não parar esta revista senão ao chegar à imagem dele mesmo deitado em seu leito , prestes a adormecer , na véspera . Se o exercício se efetuar pela manhã , esta caminhada no tempo começará pelos sonhos da noite para acabar ao despertar da véspera. A necessidade de afastar todas as outras imagens que poderiam pertubar a concentração , torna desejável a meditação sobre imagens particularmente vivas . É preciso empregar , por isso , com todo vigor , o poder criador de imagens mentais . Não é necessário reviver tudo o que aconteceu no decurso das últimas vinte e quatro horas ; é bastante escolher alguns fatos , atividades , contatos , reflexões que tenham importância do ponto de vista , a um tempo , pessoal e filosófico . 
O essencial é ver agir seu próprio corpo como se se tratasse de qualquer outro indivíduo . Deve vê-lo trabalhando movendo-se , falando , alegrando-se ou sofrendo com a mesma sensação de ser separado dele individualmente , como é separado das pessoas que encontra na vida corrente . Ao mesmo tempo deve fazer considerar ao tribunal imparcial do seu Eu Superior as suas ações , pensamentos e sentimentos , a fim de que seu valor filosófico seja julgado . É preciso que tenha uma atitude desprendida para expor os complexos inconscientes e os motivos ocultos , para criticar sem preconceitos favoráveis seus próprios sonhos , atos e pensamentos , de conformidade com o que reclama moral e intelectualmente a filosofia . Deve sair de sua vida e considerá-la como alguma coisa à parte ; seus momentos de alegria ou as desgraças dos maus dias parecerão muito menos importantes como acontecimentos e muito mais como meios de dar lições filosóficas . O exercício reclama , pois , um poderoso emprego de imaginação criadora para desmontar nas próprias pegadas e realçar este desdobramento da consiência .
O estudante , observando a sua pessoa , tratando-a teórica e efetivamente como uma criatura separada e diferente dele , julgando imparcial e seriamente seus pensamentos , sentimentos e ações , cria para si um meio muito eficaz para se aperfeiçoar . Seus motivos serão purificados , suas emoções educadas sua vontade reforçada e suas capacidades mentais , desenvolvidas . O poder que tem a mente de criar suas próprias imagens e de revolver todo o passado , serve assim para modificar eficazmente seu caráter . Além disso , a repetição fiel deste hábito desenvolverá igualmente o poder da memória . Esta faculdade não cederá somente durante a meditação dos pequenos por-menores , que ficariam desapercebidos de outro modo , mas toda a vez em que lhes fizermos apelo durante o dia , e isso com facilidade crescente jamais experimentada .
Mas estas vantagens , embora excelentes , constituem somente um fim parcial deste exercício . Se a retrospecção é intensamente efetuada ao ponto de fazer parar e de mudar o curso do tempo , o estudante se achará liberto da ilusão segundo a qual só o presente é real e o mental , é o material . Também , o fim filosófico se efetua não durante a meditação , mas no intervalo que a separa da seguinte . O estudante começa a compreender que o dia precedente , não sendo mais que uma lembrança , portanto uma forma-pensamento , tudo o que revê - ele próprio os outros , os acontecimentos e o quadro - é igualmente uma série de formas-pensamentos . Sente os resultados em experiências excepcionais em intermédios estranhos e breves que sobrevêm de improviso na vida desperta e sem aviso tomam conta de seus pensamentos .
Durante estes interlúdios , o mundo assume um novo e espantoso aspecto . As ruas ou os campos que nos rodeiam tomarão a aparência de uma imensa teia de aranha , tecida diretamente desde o centro mais profundo de seu ser . O muros de uma casa não serão mais completamente separados dele ; o solo não será mais uma substância inteiramente estranha , e as pessoas vizinhas não serão mais nitidamente distantes . As fronteiras entre o eu e o não-eu que fazem naturalmente do homem um materialista , se adelgaçam ou desaparecem . Não se quer dizer que as formas objetivas se esvaneçam porém mas se unem estranhamente a ele nesse ponto misterioso e central que está nele . Toma luminosamente consciência de que a mente confere a realidade às suas próprias construções e presta atenção nelas e vem a saber que são projetadas fora dele , como o mundo inteiro . O estudante compreende então que a mente constrói todas as coisas porque vê agora em si o que acreditava ser exterior . Enquanto , segundo a opinião popular , e até na científica , se acredita ser o espetáculo panorâmico do mundo provocado em nós pelos objetos físicos e impressos em nossa mente pelo exterior , o estudante constatará por experiência que a verdade é justamente o inverso .
Estas estranhas constatações não serão o resultado de um raciocínio , mas a de uma experiência extremamente vivaz . Não se creia que o mundo se acha assim despoiado de sua realidade e transformado numa espécie de sonho . Não é despojado senão de uma concepção limitada da realidade . A única coisa que subsiste através das incessantes mutações da experiência do mundo é o que faz e observa a Mente .
O fim filosófico final deste exercício é despertar no estudante a consciência do observador oculto . É muito mais difícil que o pre-cedente e atinge um estágio ulterior . Pode manifestar-se no decorrer ou fora da meditação . O estudante toma consciência , intermitentemente , de que existe em si alguma coisa característica que difere dos acontecimentos passageiros , que é o seu testemunho imutável e impertubável . O estudante descobre em si mesmo a existência da experiência que é consciência pura , dissociada de sua personalidade e de suas formas . Começa a observar o fluxo incessante de seus próprios sentimentos , as pulsações de suas emoções e de seus humores , com um despreendimento sereno , quando a cortina distendida entre sua mentalidade quotidiana e a sua consciência transcendental , se levanta com intermitências . Resulta daí uma grande paz no coração e uma sábia medida para sua vida ativa . Mais e mais , frequentemente , esta paz infinita e este despreendimento inexprimíveis virão anunciar-lhe que existe nele e em roda dele algo verdadeiramente extra-terrestre .
Texto : Paul Brunton ( do livro A Sabedoria do Eu Superior . Pag. 302 a 329 )
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" A IOGA DA MENTE DISCERNENTE "

Meditação no Futuro

Os instantes que precedem o momento de adormecer são importantes para todo homem . Possuem o poder latente de transformar eficazmente sua existência mental , moral e física . Utilizando corretamente este poder , o homem pode melhorar progressivamente , ao mesmo tempo , o meio que o cerca e seu caráter . Estes instantes têm ainda mais importância para o estudante que procura o Eu Superior , visto que encerram também o poder de modificar a consciência . Deitado em seu leito , começa este exercício antecipando as idéias e as atividades principais do dia seguinte . Mas é preciso que seja feito de uma maneira particular . O estudante deve imaginar que se tornou o filósofo ideal que deseja ser e procurar o que seu Eu Superior desejaria que fosse e fizesse . Deve , pois , imaginar-se dotado da qualidades mentais e morais específicas e as está pondo em ação . Prevê a melhor maneira de reagir quando se encontra com outras pessoas ; deve considerar-se como no exercício precedente , isto é , como espectador despreendido e imparcial .
A clareza e a intensidade com as quais estas imagens se manifestarão em sua consciência , assim como o apaziguamento de seus sentidos físicos , farão uma medida parcial dos resultados obtidos .
Deve registrar profundamente em sua consciência às imagens dos pensamentos que deve ter , dos atos que deve praticar ante os acontecimentos prováveis do dia seguinte . O poder da imaginação , quando concentrado forte e disciplinado , pode ajudar consideravelmente um homem a ficar senhor de si mesmo . Ao contrário , quando é hesitante , fraco e confuso , se torna um obstáculo , um liame que lhe impede o progresso . A imaginação , para ter êxito no empreendimento , deve naturalmente ser forte e poderosa ; a fé que a suporta e a confirma deve ser igualmente potente ; que a impressão dessas idéias seja calma e firme não violenta . A confiança no sucesso deverá igualmente reinar . O estudante deve repetir a si próprio estas sugestões , com perseverança , não verbalmente mas imaginando visualmente sua realização . Esta repetição é importante .
Toda a sugestão ideativa que ele se imprime , no decorrer da meditação , terá tendência a realizar-se . Seus atos regular-se-ão espontânea e involuntariamente sobre as sugestões que se registraram em sua consciência , no curso destes momentos de sensibilidade particular . Eles o farão , aliás , obigatoriamente , porque uma lei psicológica entra em jogo aqui . O ponto essencial , porém , é o de adormecer com naturalidade , bem no meio desta meditação . A menor digressão para a consciência corporal poderia quebrar a concentração e fazer perder força à sugestão . Se a consciência desperta desapareceu enquanto o estudante mantém pensamentos que devem determinar e esta os tomará em conta fazendo-os agir ao seu modo superior . No dia seguinte , o aprendiz achar-se-á inconscientemente portador da sugestão que deliberadamente se deu , de véspera , à noite . Quando os acontecimentos se apresentam , percebe uma impulsão interior que o leva a agir precisamente da maneira que havia imaginado . O primeiro resultado importante deste exercício é , pois , o de efetuar a remodelação eficiente do caráter , o de eliminar-lhe os defeitos , faltas e vícios , o de desenvolver incessantemente os méritos , virtudes e boas qualidades . Repetindo o exercício todas as noites , podem ser criados bons hábitos na vida desperta e fazer desaparecer os maus . O poder superior ao pensamento consciente e à tendência emotivo , intervém para corrigi-los e desenvonvê-los , um e outro , no bom sentido . Cada estudante pode perfeitamente fazer apelo a esta força superior para se aperfeiçoar . Aí está uma promessa razoável que pode tornar mais esperançoso , reforçar sua vontade e conformar mais estreitamente sua vida aos seus ideais mais elevados . Os sucessos que virão cedo ou tarde encorajá-lo a seguir esta prática , serão acompanhados pelos sentimentos de um acréscimo de força .
Com espanto , constatará que a conduta que havia fixado na imaginação se realiza sem grande sacrifício pelo poder único de sua vontade e suas sugestões anteriores cumprem-se sem luta e sem oposição .
Tudo isto introduz um novo elemento em seu karma que o modifica e produz , na continuidade , uma mudança de circunstâncias na vida . De fato , todas as imagens mentais , quando suficientemente intensas , afetam estas circunstâncias porque a Mente é a base verdadeira delas . Tudo o que se grava profundamente na consciência , neste período de passividade dos sentidos que precede o sono , tende a reproduzir-se um modo criador na vida exterior , fazendo-se um ajuste não somente do karma e da evolução mas também das tendências de pensamento habituais , se estiverem em conflito com as imagens ou idéias assim gravadas .
Este exercício auxilia o estudante a escapar às influências hipnóticas exercidas deliberada ou inconscientemente sobre ele por outras pessoas e até por tudo o que o cerca . Por outro lado , se o estudante introduz outras pessoas em sua meditação , é preciso absolutamente que haja para isto uma motivação perfeitamente pura . Caso contrário , expor-se-ia a represálias kármicas penosas ou , o que é pior , a sofrimentos físicos , a uma degradação definitiva de seu caráter . A tentação de agir sobre o livre arbítrio dos outros , com um fim egoístico , pode muito facilmente apresentar-se e , então sucumbir , conduziria finalmente ao desastre ; seria absolutamente contrário à finalidade deste exercício que procura elevar o praticante acima de sua personalidade agitada , na atmosfera desapaixonada da verdade , de lhe fazer sentir que alguma coisa situada cima de seu eu ordinário tomou conta dele e o conduz mais alto , tanto na consciência como no valor moral e no entendimento . Vencer a resistência da pessoa nas questões morais é uma das tarefas principais que se cumprem no silêncio e no segredo desta meditação .
Se o estudante a executa fielmente , obterá , como no exercício precedente , um outro resultado importante . Seu centro de gravidade espiritual será deslocado de tal maneira que sobrepujará mais facilmente as ondas emotivas , as paixões físicas e as ilusões intelectuais da pessoa . Ele tomará cada vez mais consciência de uma força interior que reconhece , paradoxalmente , estar acima de sua capacidade de entendimento e que deriva de alguma coisa superior a ele próprio , alguma coisa da universal e de impessoal . Essa coisa deriva , com efeito , do observador oculto . Terá repentinamente consciência de sua presença nos momentos mais inesperados de sua vida corrente .
Cessará de participar dos acontecimentos para tornar-se a testemunha , de algum modo , desinteressada , para vê-los como devem ser vistos .
Reconhecer-se-á , então , estranhamente calmo , no turbilhão do mundo que o rodeia .
Aprende assim a separar " a alma " impessoal do eu ativo , pela compreensão metafísica destes dois aspectos de si mesmo , no decorrer do esforço místico períodico destinado a desdobrar sua consciência . Sendo este esforço mais e mais feliz , perderá ele cada vez mais o sentido egoísta da vida e do trabalho efetuado unicamente para um fim pessoal , sentido que nasce da auto-identificação materialista com o corpo . É somente quando a consciência faz desaparecer a predominância dos sentidos , ocupados tão-somente com a vida pessoal , que o observador oculto transforma a existência exterior , comumente prosaica e materialista , em algo de divino .

Meditação no Eu Atemporal         

Este exercício não se efetua à maneira convencional , isto é , na solidão e no mesmo momento do dia ; insere-se na vida corrente de suas atividades , e é este caráter informal que lhe confere valor filosófico particular . O estudante recorre a ele não somente nos momentos em que se acha livre , mas ainda no meio de suas ocupações . Como o exercício só reclama uns três ou quatro minutos , as consequências não podem ser muito más para a execução dos deveres . O exercício pode , além disso , efetuar-se em qualquer lugar que seja , porque , com efeito , a solidão que se cria é inteiramente interior . Importa que se exercite em empreendê-lo de repente , libertando-se imediatamente todos os outros pensamentos . Isso se aprende com a experiência .
O estudante deve rejeitar bruscamente os pensamentos e os desejos que o ocupam , libertar-se de toda a preocupação pessoal e colocar-se na situação mental de um homem que acaba de acordar de um sonho e compreende repentinamente , não somente que tinha um papel ativo no sonho , mas também era a testemunha imóvel . De modo análogo , deve abstrair-se do que se passa em torno , mesmo de sua personalidade que se acomoda ao quadro , e planar de alguma maneira acima de suas ocupações e de seu prazer . Deve lembrar-se do princípio metafísico segundo o qual , por trás dessas idéias , constantemente cambiantes , a consciência as observa conservando-se estática , imóvel e sem alteração , como um elemento permanente e estável . Deve identificar-se com esta consciência e desprender-se daquela a que está habituado .
Ajudar-se-á nesta tentativa refletindo na razão existente entre o sonhador desperto e o sonhador adormecido . A comparação com a tela do cinema que se conserva imóvel durante o movimento das imagens , pode também socorrê-lo um pouco , a tela representando a consciência testemunha , e as imagens , as experiências cambiantes da pessoa . Essas experiências não afetam a consciência , em virtude da qual elas existem , como as imagens do cinema nada fazem à tela .
Quando o aprendiz compreendeu esta relação , completa a meditação , refletindo que se todas estas experiências tomam forma do espaço e se sucedem no tempo , o próprio elemento-testemunha não tem forma e fica independente de toda cronologia . Esta testemunha escapa ao psicólogo acadêmico porque está misticamente liberta do tempo do qual depende naturalmente o psicólogo . Copérnico constatou que invertendo a idéia segundo a qual o sol e as estrelas giravam em torno da terra , tudo ficava perfeitamente explicável . Esta concepção fez desaparecer todas as dificuldades de um só golpe e revolucionou o pensamento científico de sua época . No decorrer destes momentos de meditação , o estudante deve efetuar uma inversão semelhante de concepção em sua vida consciente . É preciso rejeitar temporariamente a crença convencional e supor que o espaço e o tempo se movem nele mesmo , em sua individualidade superior .
O grau de intensidade com o qual pode escorregar assim fora do mundo tem uma grande importância . A finalidade é chegar ao apogeu supremo do esquecimento , fazer absorver a existência dependente do tempo pela que é dele independente . Esta perspectiva pode despertar algum temor . A experiência é , entretanto , inefável . O citadino não experimenta conforto senão pensando em períodos curtos , e espanta-se com a perspectiva de uma existência sem fim . O habitante do deserto , ao contrário , que viu a Natureza seguir seu curso invariável e assimilou um pouco da tranquilidade que emana de um lugar assim , apanha melhor o caráter sem começo nem fim do cosmo e , conseguintemente , da " alma " .
O que não morre nunca e não teve começo , que existe de uma eternidade a outra , não pode achar-se senão num Agora liberto do tempo , além da concepção do homem mas não além de sua experiência . Aquele que pode aprender a entrar em simpatia com este Agora eterno sabe como são artificiais essas obsessões do tempo às quais a humanidade se acorrentou . Sabe que essas divisões em que se obstina não são senão ilusões no grande absoluto da Duração Infinita . A submissão passiva ao tempo mantém o homem algemado . A meditação deliberada sobre o Observador infinito , que está com ele e nele mesmo , constitui uma revolta que desgasta e enfraquece cada um dos elos dessas cadeias . Se a vida da Mente-Mundial , fora do tempo e do espaço , não está ao alcance do homem , a libertação do tempo , conhecido pelo Espírito puro , entra entretanto no domínio acessível à sua experiência . Como o Eu Superior , é o prodigioso fato permanente de sua vida . Se ele cessa de ignorá-lo e se esforça constantemente para conhecê-lo , chegará fatalmente a hora em que conseguirá seu intento . Pouco a pouco , com efeito , o estudante obterá o conhecimento de que não está aprisionado no corpo ; seu ser , de alguma maneira , se acha liberto no espaço . O espetáculo terrestre parecer-lhe-á como um teatro de sombras . Ele mesmo sentir-se-á desencarnado , eterizado . O sentimento estranho de que estava destinado , desde o seu nascimento , a conhecer esta experiência , penetrará em seu coração . Achará em si mesmo a maravilhosa confirmação daquilo que a razão se contenta em afirmar e a religião em sugerir : o fato glorioso da alma liberta do tempo .
Texto : Paul Brunton ( do livro A Sabedoria do Eu Superior Pag. 302 a 329 )
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" A IOGA DA MENTE DISCERNENTE "

Meditação do sonho
Quando o estado desperto tende a desaparecer , produz-se uma transformação da consciência a qual se manifesta sob a forma panorâmica de sonho ou sombra , na inconsciência total . O homem adormece habitualmente enquanto sua mente se ocupa de idéias pouco vivazes ou imaginações ligeiras , que podem , umas e outras , continuar a existir pela simples atividade mecânica do cérebro . Mas , não estando este submetido a um controle enérgico , funciona incorretamente . A memória desta experiência deformada , acrescida à das experiências anteriores e às associações de idéias recentemente formadas no decurso do estado de vigília , constitui a base do sonho confuso médio . Mas aquilo de que o homem se lembra de maneira vivaz , é somente dos últimos anéis da cadeia . É porque eles ficam no centro da atenção concentrada enquanto que todos os outros elos se separaram desse centro .
O estado que se produz entre o sono e a vigília não só é muito interessante , porque não pertence nem a um nem a outro e constitui uma fronteira com os caracteres de cada um deles , mas também porque é muito receptivo à sugestão . Este ponto infinitesimal intermediário , na orla do sono , oferece uma ocasião única para a prática da concentração .
Já explicamos que a última tendência de pensamento retido na consciência quando adormecemos , é recolhida no lugar mais profundo da mente , que age então sobre si mesma em seu modo misterioso e eficaz . Este estranho poder mental pode ser utilizado para exercer um controle sobre a vida do sonho . A ocasião de desenvolvê-lo e libertá-lo das experiências desarrazoadas e até más , existe nesse momento que precede a volta noturna do sono , particularmente para aqueles que sonham mais ou menos habitualmente . Os que sonham raramente nada têm a deplorar ; é uma vantagem , porque o fim do sono mais elevado é obter justamente o repouso total , num estado desembaraçado de qualquer pensamento ou sonho .
O estudante se prepara , pois , para dormir e dirige seus pensamentos para o futuro , procurando , a proncípio , imprimir fortemente em sua consciência a sugestão de que seus próximos sonhos se racionalizem e depois imaginando-se a si mesmo nas experiências nitidamente definidas no curso destes sonhos . O estudante deve desejar fortemente introduzir neles uma ordem racional e uma unidade lógica . Deve aspirar a ficar suficientemente consciente no curso desses sonhos para bem compreender que sonha , mas não tanto , e conserva a consciência do mundo físico que acaba de abandonar . A mente deve entregar-se inteira à sugestão e banir qualquer outra idéia . O estudante terá êxito nisso se tomar nota dos sonhos mais vivazes e lúcidos que lhe deixaram uma impressão bem registrada .
Se desejar lembrar-se de mais de um sonho , é preciso tomar o maior cuidado de não levantar-se bruscamente . A passagem à atividade desperta deve fazer-se de maneira calma , a mais progressiva e espontânea possível . O estudante deve dirigir sua atenção ao interior imediatamente após o despertar , afastando com energia qualquer outro pensamento que venha turbar sua concentração sobre o instante final do sonho . O sucesso virá mais rapidamente se estiver profundamente convencido da verdade do mentalismo . Porque se puder conservar , no plano de fundo da mente , durante suas atividades despertas , a convicção de que todas as experiências são construídas por essa mente , tomará inevitavelmente a mesma atitude , cedo ou tarde , durante suas atividades de sonho . Quando esta convicção se tornar natural e habitual , estender-se-á mais facilmente a essas atividades . É igualmente útil para o estudante afastar-se , em qualquer momento do dia , de seu ponto de vista ordinário e tomar posição de uma testemunha desinteressada . Deve por-se a refletir que o que está fazendo será semelhante a um sonho , um ou dois momentos mais tarde , porque será então somente passado , do qual só o pensamento poderá doravante retirar . Deslocando-se de um lugar para outro , deve igualmente meditar que o lugar abandonado se tornou também um objeto da memória , que nunca foi senão uma forma-pensamento contida na consciência .
Durante muito tempo , não será bem sucedido em seu esforço , isto é , passará ao estado de sonho incontrolado ou de inconsciência total que caracteriza ordinareamente o sono do homem . É preciso , pois , repetir este exercício para que traga seus frutos . Um dia produzir-se-á o fato estranho que lhe ensinará haver aberto uma nova porta na vida noturna . Esta porta não se entreabrirá senão ligeiramente no começo , mas depois , com o tempo e perseverança , abrir-se-á mais e mais . O sono tornar-se-á desde então um estado paradoxal em que a vida do sonho não mais desapontará o estudante , porque não cessará de saber que assiste a um sonho efetivamente . Terá o sentimento estranho de estar acordado no meio do sonho que entretanto conservará as mesmas características . Um tal homem não sonha mais , no sentido ordinário da palavra , e não perde mais sua noite a erguer essas construções fantásticas e ociosas que enchem a maioria das imaginações noturnas . O sono se transforma numa vida coerente e lógica , em que todas as faculdades de vontade , de julgamento , de crítica , de memória etc . , funcionam tão eficazmente como no estado de vigília . Esta vida de sonho se torna um prolongamento natural da atividade do dia , conquanto se exerça em limites muito mais vastos . Este exercício deve ser uma tentativa para realizar seus mais elevados ideais . A conduta em sonho deve , pois , ser submetida a um autocontrole muito mais rigoroso e ser inspirada por uma moralidade bem superior à da vida corrente .
Perigos poderiam advir em caso contrário . É necessário ser vigilante .
No sonho , a mente cria uma causalidade , uma matéria , um espaço e um tempo novos . Se o estudante consegue estabelecer seu controle sobre esta faculdade , dispõe de um poder quase mágico para fazer nascer e conduzir os acontecimentos do sonho , à vontade . Poderá não somente visitar lugares afastados e entreter-se com pessoas longínquas , anulando assim a matéria , mas imaginar episódios e acontecimentos que se produzem logo que o desejar . O sentimento de possuir ao mesmo tempo uma liberdade total e a capacidade de modelar a existência é naturalmente exaltante . O estudante se lembrará , entretanto , de que se trata de uma aventura na fantasia , de uma viagem ao País das Maravilhas , que acabará na hora exata do despertar .
Essa experiência é suscetível de tomar um novo desenvolvimento com o tempo . O estudante pode constatar que se se põe a pensar em alguma coisa ou em alguém com uma atenção concentrada durante a experiência do sonho , um gênero de clarividência se manifesta . Um poder particular pode mesmo prender-se à sua existência noturna , visto que pode descobrir que certos acontecimentos , contatos e conversações do dia seguinte serão anunciados pelo sonho .
Qualquer pessoa que não atingiu este completo domínio , pode executar um exercício análogo se desejar ardentemente comunicar-se com o espírito de uma pessoa querida desaparecida . Basta-lhe concentrar-se no momento exato de adormecer tendo em sua mente a imagem mental dessa pessoa e formulando o desejo de obter um contato mental , no decorrer da noite que começa . Embora os planos espaço-tempo sejam tão diferentes que o véu da Natureza fica ordinariamente opaco , a concentração pode , entretanto , obter uma resposta . A mente do pensador reproduz este fato em benefício da consciência do sonho . É então possível que o espírito se manifeste desta maneira indireta , embora esta manifestação não possa exceder de alguns minutos e renovar-se frequentemente . Aconselhamos com cuidado não fazer essa prática , que não contribuiria para o desenvolvimento do estudante e poderia mesmo retardá-lo se recorresse amiúde ao esforço indicado . Falamos disso aqui somente no caso de o estudante não puder sobrepujar a saudade e o luto , e não querer recorrer a outros métodos . Mas se não há um pedido de comunicação , pode perfeitamente dirigir seu amor a esse espírito toda vez que o desejar , no fim de qualquer de suas meditações .
Estabelecer um controle sobre a vida do sonho pode , pois , conduzir a importantes resultados . O valor prático do sucesso está na transformação de sono em horas de consciência durante as quais um trabalho mental útil pode ser feito . O valor metafísico vem de que este êxito traz uma nítida confirmação da doutrina mental relativamente à natureza do mundo exterior e da pessoa que o experimenta . Seu valor místico consiste em poder dividir em dois a consciência , entre um observador imparcial , que se mantém imóvel , e a personalidade que faz a experiência das mudanças . Porque , com efeito , o fim da meditação principal não é viver num mundo de fantasia nem mesmo saber que se sonha , mas efetivamente , operar uma introversão que permite abandonar o ponto de vista pessoal .
Se os motivos são puros e os fins exaltados , o estudante experimentará , de espaço em espaço , durante sua vida desperta , estados análogos ao do devaneio sem tema . Seu rosto e o seu corpo aparecem então com intensidade ante os olhos do espírito . Parece que o olha do exterior . Se puder manter esta imagem bastante tempo , o estágio seguinte será alcançado depressa . Ele consiste numa sensação nítida de estar separado do corpo , de achar-se atrás e acima de si mesmo como um espírito desencarnado . Não empregamos aqui uma metáfora espacial , mas fazemos uma descrição literal . O estudante não deve espantar-se com essa experiência . É muito efêmera e não pode causar nenhum mal . Muito ao contrário , descobrirá , no momento certo , que uma outra presença nasceu no interior da sua órbita mental , uma presença calma e etérea . Deve procurar manter-se , por assim dizer , nessa atmosfera divina desde que a sente em torno de si .
O espantoso mecanismo da mente do sonho atingiu então a fruição das suas altas possibilidades . Não é , naturalmente , um resultado muito frequente . Tripura , um antigo manuscrito sânscrito , diz a este respeito : " A consciência ininterrupta , mesmo durante o sonho é a marca da classe mais elevada dos sábios " . Mas ninguém tem necessidade de ser um sábio para fazer experiência desta vida superior do sonho . Todo aquele que deu alguns passos na via ultramística , pode ( não necessariamente ) participar dela parcialmente , de vez em quando . É igualmente verdade para aqueles que , como Descartes , avançaram nesta via sem o saber , por concentrações de pensamentos sobre assuntos não materialistas . O cético pode proclamar todas estas experiências impossíveis . Elas o são , com efeito , para aqueles que não crêem nelas e identificam o espírito com o cérebro .
Pode declarar também que elas têm um caráter de alucinação , e que são o resultado manifesto da auto-sugestão ou de uma atividade natural da imaginação . Nós lhe responderemos : " Vós não estais muito longe da verdade . Se soubésseis qual o papel considerável que desempenham a sugestão e a imaginação na vossa vida desperta , não julgaríesis milagroso que elas intervenham na vossa vida de sono . Se soubésseis que quase todas as vossas experiências terrestres são , em certo sentido , alucinações , não negaríeis ao homem o poder de controlar essas alucinações particulares e fragmentárias que vós chamais de sonhos . Quando tiverdes compreendido o que a imaginação é , na realidade , tereis quebrado a casca que encerra o maior dos vossos tesouros e que é a Mente ; então , e somente então , podereis ter a ousadia de marcar limites às possibilidades maravilhosas do homem " .
Texto : Paul Brunton ( do livro A Sabedoria do Eu Superior Pag. 302 a 329 )
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" A IOGA DA MENTE DISCERNENTE "

Meditação no Sono

Quando despertamos de um sono sem sonho , nos inteiramos conscientemente , num relance de vista , de tudo o que nos cerca
A consciência do nosso campo exterior , nesse mesmo momento - e somente nesse instante - vem de chofre , antes de mais nada . Só em seguida é que tomamos consciência de nós mesmos , como pessoas particulares , como " eus " físicos . Esta impessoalidade inicial parece psicologicamente à que pertence ao estado do eu testemunha .
Onde nos encontramos então nesse momento ? Não estamos no nosso " eu " pessoal - que entretanto está aí . Libertamo-nos simplesmente de sua ditadura habitual . De fato , esquecemo-nos de nós mesmos . Abandonar nosso eu superficial não é portanto aniquilar-se .
Não o deixamos senão para encontrá-lo na individualidade superior .
Ele não desaparece ; recai no lugar que lhe é dado no grande perímetro do outro . Está sempre presente , sempre vivo nesta experiência , mas reconhece-se , desde então , como uma gota minúscula num oceano infinito . Obtemos assim uma indicação do que é a consciência do observador oculto , não somente durante o estado de vigília e o sonho , mas também durante o sono profundo . A idéia de que este sono é absolutamente destituído de consciência é uma outra destas ilusões , que se impõem à mente humana porque elas repousam sobre aparências . Um disco , girando a toda velocidade , parece absolutamente imóvel . É do mesmo modo que a mente parece , para o ego desperto , mergulhado na consciência . No fundo , ela possui um gênero de consciência que a pessoa não tem o poder de imaginar nem , ordinariamente , de penetrar . É por isso que a filosofia não cessa de reclamar que abandonemos o ponto de vista pessoal porque o seu horizonte extremamente limitado não permite perceber a rota que conduz à verdade .
No fim brusco do sonho , como no momento em que o estado de vigília começa , produz-se num breve instante , um estado transitório em que a mente não tem consciência de si mesma . É então completamente livre de idéias ; todas as sensações cessaram , todas as imaginações se esvaneceram . Este intermediário , em que o homem entra no sono ou dele sai , constitui um ponto capital . Se os pensamentos desapareceram , não acontece o mesmo à consciência . Ela é consciente mas de nenhuma coisa individual . A personalidade não pode manifestar-se e a mudança se opera magicamente , fora dela .
Este período de sonolência é verdadeiramente maravilhoso e se acha na linha de demarcação entre a consciência desperta e a inconsciência do sono , demarcação que se acha situada num plano diferente dos dois .
Pantajali , autor do manual sânscrito sobre o ioga mais divulgado , registra o sono , a justo título , entre os cinco obstáculos que o aluno da ioga deve sobrepujar . Na sua significação técnica elementar , esta injunção se aplica aos noviços , e lhes pede que conservem a mente alerta durante a meditação , única possibilidade de manter a intensidade da concentração . Mas , na sua significação mais avançada , aplica-se àqueles que se acham na via última e se lhes prescreve exercerem um controle sobre a vida adormecida tanto quanto sobre a vida desperta . Ninguém pode adormecer sem retirar a sua atenção das sensações , imagens e pensamentos que batem à porta da consciência . O sono é somente o ponto culminante deste processo . A atenção cai em suspensão , por assim dizer . É igualmente impossível cair na contemplação ióguica mais profunda sem retirar a atenção a estes objetos . Somente que neste momento ela não desaparece ; fica , ao contrário , mais aguda e vigilante que nunca . Aqueles que não receberam a iniciação do último grau , interpretam , falsamente , às vezes , este parágrafo de Pantajali . O erro conduz certos iogues chineses a beber chá , abundantemente , à meia-noite , e alguns iogues hindus a passar a noite de pé ou num colchão de espigas a fim de fugir ao sono natural . A filosofia não se incomoda com esses processos errôneos ; desdenha-os , dizendo que o estado de vigília reclamado é de um gênero inteiramente diferente e superior .
Este exercício , como o precedente , deve ser praticado à noite , pouco antes de dormir . É fato que o homem perde , em começo , a consciência de seus pés , depois da parte inferior do corpo , e não conserva senão a da cabeça . É o momento crucial em que desaparece o mundo que , ordinariamente , penetra pelos cinco sentidos . É , passado esse instante , que resvala para o sono . Esta pausa é de uma fração de segundo , e é o que se trata de reter por meio da vigilância . A atenção deve ser dirigida de maneira tão precisa que a cama , o quarto e o próprio corpo se obscurecem a ponto de desaparecer . O estudante deve procurar sobrepujar a pequena vertigem com que se entra no solo . Ele não pode impedir este momento por que a Natureza deve seguir o seu curso normal , mas pode impedir que fique sem saber o que lhe acontece à passagem deste novo estado .
Deve tentar conservar a sua consciência enquanto seu corpo e sua faculdade de pensar estão em repouso . É preciso que se observe com cuidado e esteja de guarda contra a chegada do sono nesta aprazível região fronteiriça que atravessa . Perguntar-se-á , sem dúvida , se pode existir alguma coisa entre esses dois estados . A experiência nos dá a melhor resposta . Se é o momento crucial em que o homem perde até o seu pequeno germe de consciência para dormir , como se dá com a maioria dos seus semelhantes , é também o momento crítico em que , graças à prática avançada da ioga , pode entrar na própria Luz . Aqueles que fizeram o sacríficio de praticar estes exercícios estão nas melhores condições que qualquer outra pessoa de falar das possibilidades que encerram e dizer se compensam ou não .
Mas esta pausa entre os dois estados , que se chama tecnicamente o " ponto neutro " , é tão breve quanto um relâmpago . Se se consegue apanhá-la , poder-se-á passar desse estágio ao da mente pura - no plano de fundo de todo pensamento consciente - e conservá-lo como uma luminosidade durante toda a noite . Se se consegue , pelo treino e força de vontade , a fixar e a prolongar este instante em que não se está nem adormecido nem acordado , atinge-se um gênero de completa auto-absorção . O quarto estado se atinge inconscientemente , isto é , quando não se tem consciência de nele penetrar . Assim é que num momento nos achamos , ainda no estado desperto , e um momento depois nos encontramos no estado transcendental . O processo de transição se efetua numa região situada fora da consciência . Descobre-se então um mundo novo . A consciência momentânea se tornou uma pegada que nos conduz ao eu oculto , donde vem a nossa origem .
Se o estudante , por uma razão qualquer , não pode praticar este exercício à noite , poderá fazê-lo do mesmo modo pela manhã . As possibilidades são , infelizmente , muito inferiores . É preciso descobrir a pausa entre o fim do sono e o despertar da consciência ordinária . Para isso , que feche os olhos e concentre interiormente a atenção dirigindo os seus primeiros pensamentos ao silêncio beatífico , deixando o mundo de lado durante alguns minutos . Estes minutos devem ser preenchidos por uma solicitação firme à consciência pura . Não se deixe escapar este instante de silêncio do pensamento , esta parada da atividade da pessoa ao sair do sono . Cada manhã traz uma oportunidade que o estudante deve aproveitar . Perceberá relâmpagos desta consciência transcendental durante as suas ocupações do dia .
A natureza da mente sendo a própria consciência , quem quer que haja alcançado este estágio transcendente nunca mais poderá voltar à inconsciência completa . Pode adormecer naturalmente , mas o seu sono ficará consciente . A perda do sono ordinário não trará más consequências , porque o corpo gozará do repouso habitual , a mente estará liberta da procissão das idéias vagabundas que podem atormentá-la e ela própria repousará também , enquanto que os sentimentos ficarão adormecidos em uma paz intensa . Um tal estado não pode ser compreendido pela humanidade no seu estágio de evolução atual , e não pode ser verificado senão pela experiência pessoal .
O estudante médio deverá exercitar-se durante bastante tempo e só depois poderá alcançar este estágio em que não estará nem completamente desperto nem adormecido de todo . Os que conseguem chegar aí mais facilmente são os que assimilam bem a doutrina do mentalismo e a aplicaram na vida desperta . Em todo caso , se alguém deseja tirar proveito máximo deste exercício ultra-místico , tem necessidade de entrar , de maneira progressiva , e sem apressar-se , no misterioso corredor que conduz da vigília até o sono , e dele sair do mesmo modo . Todo aquele que o conseguir constatará que a beatitude sublime da consciência transcendental se manifesta por intermitências mesmo no meio das suas atividades mais febris do dia , e durante todo o sono da noite . O que se mantém assim como substrato da vigília e que não é anulado pelo sono , é a realidade a descobrir . É um estado que é , porém que não é isto ou aquilo em particular . Nesta situação do sono consciente experimenta-se uma quietação misterioso e inexprimível , assim como um silêncio delicioso .
O fato curioso , no que concerne ao observador oculto , é que está muito desperto enquanto nos achamos fortemente adormecidos , e permanece perfeitamente consciente quando estamos completamente inconscientes . É o " Eu " sempre alerta e , portanto , o verdadeiro .
A consciência assim obtida é universalizada e unificada , e não se preocupa com as relações entre o eu e o não-eu . Neste sentido , conserva-se semelhante ao sono ordinário da humanidade . Plana em uma espécie de autocontemplação atenta , sem nunca relaxar em sua tarefa sobre si mesma e , por consequência , sem nunca cair no esquecimento do sono habitual . Penetrando assim na consciência do observador oculto , o homem virá , enfim , a compreender a verdadeira significação das palavras de S. Paulo : " Então , conhecerei tanto como sou conhecido " . Se nós o chamamos o quarto estado da consciência , é somente para diferenciá-la intelectualmente dos estados de vigília , de sonho e de sono . Seria metafisicamente mais verdadeiro dizer que não é um estado , mas a própria essência da consciência e , consequentemente , a essência dos três outros estados . É liberto do tempo , do espaço , da matéria , da causalidade ; é impessoal e livre . É o Pensamento percebendo claramente o seu Eu universal e absoluto , liberto de todas as divisões , afastado de todas as limitações , desembaraçado de todas as suas projeções . Não é , pois , a consciência no sentido que damos a esta palavra , mas a sua raiz misteriosa . Seu caráter impessoal e não diferenciado a torna quase incompreensível e indefinível à consciência ligada à carne . É assim que o sono , tão destituido de luz e de significação durante o estágio psicológico atual da humanidade , é pleno deles para o homem evoluído .
Texto : Paul Brunton ( do livro A sabedoria do Eu Superior Pag . 302 a 329 )
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" A IOGA DA MENTE DISCERNENTE "

Medetição na via da Serpente

Um trecho de música se compõe não somente de notas que se sucedem mas também de uma série de silêncios que intervém entre as notas . Entretanto , temos antes de tudo consciência dos sons e não dos silêncios . Do mesmo modo que estes silêncios formam um plano de fundo oculto para os sons , a mente é o plano secreto de todas as nossas idéias . Na vida ordinária não damos atenção ao próprio processo de pensar mas , somente aos objetos que o desencadeiam . Nosso estudo da consciência física revelou-nos seu caráter alternativo e descontínuo . Assinalamos que a incrível rapidez de seu movimento vibratório dissimula esse caráter sob o véu de uma unidade ilusória e que , de fato , existe um intervalo infinitesimal entre cada lampejo de pensamento e o que se lhe segue . Este intervalo não é outra coisa que o grande silêncio da mente-em-si . Se houvesse sempre um lapso de tempo apreciável entre duas idéias , encontrá-lo-iamos preenchido pela consciência de sua fonte que é a mente . Cada um tomaria então consciência de sua natureza divina .
Infelizmente , embora os pensamentos sejam descontínuos o " eu " pessoal os domina todos e se conduz como uma lagarta que , na folha em que está , não larga o ponto em que se agarra senão depois de se haver assegurado de um outro , igualmente seguro , em outra folha .
O verdadeiro intervalo entre dois pensamentos é , pois , coberto pelo pensamento pessoal que cria desta maneira uma cortina contínua de ilusão que mascara a realidade da mente pura donde emanam todos esses pensamentos , assim como a própria realidade .
Como este intervalo entre a queda de uma idéia e o aparecimento de outra não existe para sua consciência ordinária , o estudante deverá criar um para a prática de um exercício preciso , ao qual se dá o nome tradicional de " Via da serpente " . Este exercício consiste em fazer resvalar a atenção sobre a realidade à maneira de uma serpente , dando o bote e aproveitando os intervalos entre as idéias .
A tarefa a realizar é submeter os pensamentos a um exame atento e remontar à sua origem comum , tarefa comparavel a retirar um espinho da carne como outro espinho . A partir do momento em que os pensamentos ensaiam encontrar sua fonte , tomam eles quase sempre por uma via inteiramente nova e esta os conduz , em maior profundidade à sua verdadeira substância . Evidentemente , é um modo de se desidentificar das idéias individuais , de maneira que nada encontrem para fixar-se .
Pensamos , entretanto , que seria erro suprimir todos os pensamentos e despojamo-nos de todo o entendimento , como o fazem os iogues comuns . É preferível reconhecer a relação existente entre o pensador e o ato de pensar . A ioga filosófica não pode ser inteiramente assimilada se não se dirige à inteligência para as relações entre o mundo e os pensamentos , entre os pensamentos e o princípio pensante e , finalmente , para este próprio princípio . Dois poderosos pensamentos fazem obstáculos : o primeiro é o pensamento - mundial ; o segundo , o pensamento - eu . Os dois são estreitamente ligados . Embora possam ser temporariamente , não podemos libertar-nos deles de maneira permanente senão pela compreensão .
O iogue comum trata o primeiro fechando seus sentidos a tudo o que está fora , e furtando-se assim à sua existência . O iogue filósofo procede diferentemente . Deve ter a noção de que a forma espaço-tempo do Mundo , que inclui os próprios sentidos , é antes de tudo o produto de sua faculdade de criar imagens , e o mundo inteiro não é senão uma grande forma-pensamento na qual a consciência está mergulhada . Deve , pois , reconhecer e aceitar que sua existência é puramente mental e separar assim a consciência do próprio pensamento , não rejeitando-o mas absorvendo-o . Toma assim , em si mesmo , a idéia mundial e eleva-se acima dela . É o mesmo genero de esforço inteligente que lhe é reclamado ao pensamento - " eu " .
Esta é a causa da maioria dos pecados , é claro , pois , que oporá resistência , visto que seu reino pela criação de ilusões estará em perigo .
O estudante deve rejeitar cada pensamento particular e separado , à medida que penetre em seu campo de consciência , como faz o iogue ordinário , mas afirmar também a consciência do que é composto . É preciso não somente compreender a importante verdade mística de que o pensamento , como atividade , não é senão um hábito , mas também que a mente , que o torna possível , está constantemente presente . A consciência do estudante deve fixar-se no intervalo que separa um pensamento do outro ; se esta fugitiva fração de segundo for apanhada , como é necessário , e depois alongada no decorrer do treino , tempo virá em que a mente descerá nele cada vez mais profundamente . Quando tiver a chance de obter um clarão sobre a significação do Pensamento não diferenciado , deve esforçar-se enérgica e resolutamente a não mais deixá-lo escapar . Isso produzir-se-á certamente , se não se conservar suficientemente vigilante porque transtornou toda a tradição da existência pessoal . Esse clarão ou lampejo que aparece quando a mente resolve finalmente seu próprio mistério e percebe num " relâmpago " a solução de sua própria significação , deve ser apanhado antes de esvanecer-se , exatamente como o lampejo da intuição . A penetração se manifesta tão rapidamente e tão espontaneamente , que é preciso tratá-la como se se tratasse de um poderoso rei que vem em visita a um de seus humildes vassalos e que , se fosse mal acolhido ou não quisessem reconhecê-lo , ir-se-ia embora ofendindo . O estudante deve defender sem desfalecimento a cidadela de sua consciência contra os assaltos que não podem faltar , contra a legião de lembranças , de antecipações , raciocínios , distrações e emoções que farão tudo o que podem para por abaixo as portas ou escalar as muralhas . Se não tiverem êxito pela força , recorrerão à astúcia . Isso quer dizer que tomarão o Pensamento puro como objeto de sua atividade e , antes de se haver apercebido , o estudante se achará fora , e os assaltantes , dentro ! A tarefa reclama vigilância constante , uma lembrança contínua da missão a cumprir .
Os pensamentos , - não os referentes a objetos exteriores , por que o aluno , há muito tempo , libertou-se de sua tirania - mas os relativos ao Pensamento puro , apresentar-se-ão , com insistência , no esforço desesperado de impedi-lo de se concentrar mais intensamente sobre este Pensamento puro , e ele deverá afastá-los sem piedade .
A finalidade é isolar a mente das imagens e dos pensamentos que dela decorrem sem trégua , e atingir um estágio de consciência perceptível em que não existe mais nenhum objeto de consciência . Em consequência da velocidade inconcebível com a qual o pensamento - mundial produz imagens sensoriais , este resultado não pode ser alcançado de uma maneira puramente intelectual . Não se pode aí chegar sem algum gênero de ioga , mas quando os pensamentos são dirigidos para procurar com resolução e compreensão à sua própria " substância " , e penetram em uma forma de ioga que alcança resultados muito mais rapidamente que quase todos os outros . A consciência deve ser tomada entre duas idéias alternantes , desvencilhadas de todos os pensamentos , e simultaneamente mantida em atividade extrema sobre seu próprio caráter . O estudante deve cavar até o mais profundo nos pensamentos . Deve alcançar o puro elemento do Pensamento não diferenciado que existe além deles . A mais alta meditação começa quando o pensamento não mais se preocupa com suas emanações nem está virado para o exterior , quando procura penetrar em sua própria natureza a fim de chegar a reconhecer-se ; portanto , a ser o que é . O Pensamento é este elemento último e oculto cuja atividade constitui o que chamamos consciência , cuja manifestação é experimentada por nós sob a forma de pensamentos e cuja existência contém a própria existência da idéia-mundial , ao passo que um pensamento é alguma coisa que a mente cria ou possui em si mesma , e percebe em si mesma . Os estágios de progressão nesta meditação : 1º , a consciência dirigida para o exterior se dissolve até que este mundo se torne simplesmente uma sombra e depois se esvaneça completamente ; 2º , o sentido da personalidade se apaga então e desaparece ; 3º , o estágio mais elevado se alcança quando nada mais resta que uma existência sem forma , sem nome , sem limite e sem tempo .
Sente-se então uma tal sensação de leveza que se crê tão vazio como o espaço e tão pouco pesado como o ar . Não se tem mais consciência de estar ou não no corpo porque não temos absolutamente a consciência do corpo . O fato extraordinário é que , embora não se tenha mais a sensação da existência física , o sentido da existência mesma se conserva vivo e intenso . O pensamento mundial e o seu pensador individual agora se fundiram e unificaram . Neste estado de exaltação , a dualidade entre o mundo e o homem que faz a experiência se anula subitamente . Não há mais que uma só existência na consciência . Finalmente , na paz reveladora de todo o ser a contemplação se torna tão intensa , que todos os pensamentos se fundem por si mesmos , em seu princípio primeiro e nenhum esforço mais é necessário para restringi-los . Quando a meditação atinge esta profundidade , o estudante parecerá transformado num vasto oceano de substância espiritual , num vazio imenso em que o eu pessoal se esvanece com a sua história passada e a sua atividade presente como se nunca tivesse existido e o universo inteiro não fosse nem mesmo uma lembrança . Não resta mais que a Mente-ilimitada , impertubável , imutável . Ela sai do eu pessoal e entra num estado de vazio interior absoluto . Não há mais nada a conhecer por que nada mais há que se possa nomear . Não é a aniquilação tão esperada pelos materialistas , porque , com efeito , existe sempre uma consciência de um novo gênero . Não é a fusão , tão rebuscada pelos absolutistas porque , efetivamente , existe ainda um individualidade de uma forma superior . Tornamo nos tão próximos de Deus quanto um mortal deste planeta pode tornar-se . É a maneira última de ser . Entretanto , não se vê , não se ouve , não se prova se toca nada nesta experiência , que é supra-sensorial .
O estudante acha então a solução da sua longa pesquisa sob a forma não de uma simples especulação mental , mas de uma experiência verificável ; mas está também sem pensamento , com a consciência planando acima do cérebro , com os lábios cerrados a cada tentativa de comunicar o que é incomunicável . É uma sabedoria que treme à beira da palavra que ficará para sempre inexpressa . É um estado de quietação magnífica , não de êxtase emotivo , pois , nenhuma excitação egoista pode entrar neste santuário divino . A sombra de nenhuma coisa exterior pode atravessar seu humbral . Nenhum raciocínio pode ser concebido neste silêncio sublime . O pensador torna-se então o que vê . Ele existe só , mas não é mais o que era no mundo exterior ; efetuou o seu retorno à unidade original do ser , ao Vazio sublime e ilimitado .
É aí , nesta vasta concepção do Pensamento sem pensamentos , do milagre do ser universal , possuindo um caráter de santificação desconhecido à vista estreita dos materialistas religiosos . Sua aparência de nada altera apenas aqueles que não compreendem e não podem compreender .
Lá , onde o pensamento cessa , a vontade desaparece , a imaginação deixa de ser ativa , a personalidade se torna absolutamente passiva , onde os sentidos se aquietam como um pássaro adormecido , à que o homem adquire uma segunda visão . Percebe não somente o que é , mas também o que é desde sempre . O que os outros ignoram como existente , o " nada " imaterial da Mente universal , eis o que se oferece sem véu à sua visão . Não é um estado de não-existência ; é uma atualidade perfeitamente vivaz , sem o que não poderia jamais realizar-se . Mas a sua existência não é do gênero que a inteligência limitada o homem pode entender . Não pode ser apanhada por cada indivíduo senão num relampejar direto de penetração , cujo conteúdo não é separado da própria penetração . Não pode ser alcançada por uma conclusão obtida por uma sucessão de pensamentos , nem por uma visão clarividente que fica nos limites da forma.
A Mente deve ser assim adorada em silêncio , pensada em forma negativa e realizada no Vazio . Todas as outras adorações dão ora uma imaginação na consciência , ora uma sensação do corpo , isto é , fornecem um símbolo do Real sem chegar entretanto ao Real .
Atingimos assim o limite daquilo que pode ser explicado com palavras deste aspecto da realidade última . A verdade sobre ela é silenciosa , não pode escrever-se . O leitor e o autor devem agora entrar num silêncio etéreo e estranho , se quiserem ainda progredir .
O silêncio é a melhor adoração mística e perceptiva . O estudante deve compreender que o Real está onde não parece existir senão um Silêncio estático ; onde a sua percepção individual não registra mais nem forma nem entidade , o Eu Superior é . Se conseguir aproximar dele o seu eu minúsculo por um instante e pensar nesse elemento infinito , no qual vive , será submergido no sentimento do milagre e do mistério que cercam os movimentos quotidianos dos mortais .
Não poderá então nem cantar louvores com aqueles que crêem , nem discutir sobre sua existência com aqueles que não crêem . É obrigado a ficar tal como o surpreende o pensamento - os lábios cerrados , o coração palpitante , adorando , o corpo cheio de paz , os sentimentos amortecidos e completamente silencioso . É a contemplação mais elevada na qual o Eu que luta , repousa enfim no Eu Sou eternamente em paz .
Texto : Paul Brunton ( do livro A Sabedoria do Eu Superior pag . 302 a 329 )
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