domingo, 26 de dezembro de 2010

" Os Convidados ao Banquete " ( Lc 14 , 15 - 22 )

Parábola do grande banquete . Ouvindo isto um dos convivas , disse-lhe : " Feliz de quem se banquetear no reino de Deus ! "
Tornou -lhe Jesus : " Um homem preparou um grande banquete e convidou muita gente . Chegada a hora do banquete , enviou seu servo a dizer aos convidados : Vinde , está pronto ! Mas , todos a uma começaram a escusar-se . Disse-lhe o primeiro : Comprei uma quinta , e preciso ir vê -la ; rogo -te me tenhas por escusado .
Outro disse : Comprei cinco juntas de bois , e vou experimentá - los ; rogo - te me tenhas por escusado . Um terceiro disse : Casei - me , e por isso não posso ir .
Voltou o servo e referiu isto a seu senhor . Indignou - se o dono da casa , e ordenou a seu servo : Sai depressa pelas ruas e becos da cidade , e conduze - me aqui os pobres , os aleijados , os cegos e os coxos .
Senhor - notificou o servo - , está cumprida a tua ordem , e ainda há lugar .


A futilidade das desculpas dos profanos em face das coisas divinas


A parábola dos Convidados ao Banquete forma a segunda parte da parábola da " Festa Nupicial " que um pai fez a seu filho .
O divino Esposo , o Cristo Cósmico , realizou as suas núpicias místicas com a natureza humana de Jesus de Nazaré . Na pessoa de Jesus encontrou o Cristo uma esposa inteiramente fiel , de maneira que nele a humanidade individual está perfeitamente remida . Mas em outras pessoas da natureza humana não encontrou o Cristo a mesma fidelidade . As excusas e pretextos que os convidados às núpicias crísticas alegam mostram os motivos por que estes convidados ao banquete espiritual não atenderam ao convite : estas pessoas humanas têm outros amores e outros amantes ; não têm fidelidade ao Cristo Esposo .
As excusas ou pretextos desses infiéis continuam a ser os mesmos através dos séculos e milênios : propriedade material , prazeres sensuais e divertimentos sociais - esse panteão dos ídolos humanos impede a aceitação do convite ao banquete nupicial do Cristo .
A parábola do banquete régio e dos seus convidados focaliza magistralmente a mentalidade de todos os profanos de todos os tempos e países , mostrando as excusas e os pretextos fúteis com que os mundanos se recusam a aceitar o convite para entrarem no Reino de Deus aqui na terra .
O primeiro convidado pede que seja excusado de comparecer ao banquete porque comprou uma quinta e precisa ir vê - la .
Não será uma excusa mentirosa ? Ninguém compra um sítio às cegas , sem o ter visto antes de o comprar .
O sengundo pede seja excusado porque comprou cinco juntas de bois e vai experimentá - los.
Também esta excusa é mentirosa ; ninguém compra cinco juntas de bois sem os experimentar antes de os comprar .
O terceiro nem sequer pede excusas , mas responde bruscamente que não pode comparecer porque se casou .
Este , pelo menos , não mentiu ; não julga necessário pedir excusas por não aceitar o convite ; casou - se , tem baile em casa , vai viajar em lua - de - mel - e como poderia ainda interessar-se por coisas espirituais ?
Negócios agropecuários , prazeres carnais e divertimentos sociais - estas três coisas enchem de ídolos o panteão dos profanos , que não podem interessar-se por um ideal superior . Falta-lhes o sabor pelas realidades espirituais do Eu divino ; as facticidades e futilidades do ego humano enchem toda a vida deles .
Em face dessa negação da parte dos ricos e gozadores , são convidados os pobres e sofredores de toda espécie - e estes aceitam de boa vontade o convite e comparecem ao banquete do Reino de Deus .
É experiência milenar que o homem satisfeito consigo mesmo não pode compreender as coisas espirituais ; sofre do mal profundo de uma infeliz satisfação consigo mesmo . Para ter fome e sede do mundo superior , deve ele entrar na zona de uma feliz insatisfação consigo mesmo ; deve sentir uma inquietude metafísica ; deve sangrar duma dolorosa ego-vacuidade e suspirar por uma cosmo-plenitude .
Só depois daquela infeliz satisfação e após esta feliz insatisfação pode o homem entrar , finalmente , na nova e desconhecida dimensão de uma feliz satisfação .
Somente a ego-vacuidade preludia a cosmo-plenitude . O Reino de Deus não é para os egos-plenos , mas somente para os egos-vácuos ; só estes serão plenificados pela Teo-plenitude .
" Bem - aventurados os que têm fome e sede da verdade , porque eles serão saciados . "
" Bem - aventurados os pobres pelo espírito , porque deles é o Reino dos Céus . "


* * *

" Conduze aqui os pobres , os aleijados , os coxos , os cegos " .
Aos olhos dos profanos , os homens espirituais são cegos , coxos , aleijados , pobres , o rebotalho da sociedade . Quem não corre atrás de bens materiais , prazeres carnais e divertimentos sociais é considerado um tolo , digno de compaixão . E foram precisamente estes que aceitaram de boa vontade o convite ao banquete régio .
No seu livro Tao Te Ching , diz o grande pensador chinês Lao-Tse , retratando a mentalidade dos profanos do seu tempo , e de todos os tempos :

" Quem é iluminado por dentro ,
Parece escuro aos olhos do mundo .
Quem progride interiormente ,
Parece ser um retrógrado .
Quem é auto-realizado ,
Parece um homem imprestável .
Quem segue a luz interna ,
Parece uma negação para o mundo .
Quem se conserva puro ,
Parece um bobo e simplório .
Quem é paciente e tolerante ,
Parece um sujeito sem caráter .
Quem vive de acordo com o seu Eu espiritual ,
Passa por um homem enigmático " .
Texto : Huberto Rohden
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