segunda-feira, 30 de março de 2009

Anseio por um Fogo Vivo

Quantas vezes , em horas de quietude ,
Anseio por uma vida de luz e de paz ,
Uma vida de harmonia , segurança , felicidade !
Quantas vezes estrevejo , ao longe ,
Um reino de beatitude e de amor ,
A acenar-me suavemente ! ...
E , nesses momentos de quietude dinâmica ,
Eu me sinto assaz forte
Para superar todos os óbices
E romper caminho através dos impossíveis .
Mas ... após dias , semanas e meses ,
Desfalecem-me as forças ...
Tudo em derredor é deserto árido ...
Fastidiosa monotonia ...
Cinzento areal ...
Triste mediocridade ...
E tão fácil começar ,
Tão dificil continuar ,
Dificilimo terminar ...
E , perdendo de vista os longínquos páramos ,
Eu me conformo novamente
Com a velha e cômoda rotina
Da vida horizontal de sempre ...
Se todos assim vivem e vegetam ,
Por que deveria eu ser exceção ?
Não é isto tentação do meu lúcifer de dentro ?
Querer ser herói e super-homem ? ...
E o meu velho egoísmo acomodatício
Doura de virtude a minha covardia ...
Minha alma , porém , insatisfeita ,
Continua a clamar pela luz ,
Continua a ansiar pela paz impertubável ...
Mas essa luz e essa paz são filhas do sofrimento .
E eu ainda não sofri bastante ...
Todas as minhas teses e teorias
Por mais verdadeiras e boas ,
São como fogo pintado , artisticamente pintado
Na tela do meu ego ...
Fogo fictício , sem luz nem calor ...
Importa que sobre mim desabem
Dilúvios de dores ,
Infernos de sofrimentos ,
Oceanos de decepções ,
Para que a fria inércia do meu fogo fictício
Se converta na ardente dinâmica de um fogo real !
Por isto , Senhor , não te peço que me poupes
Dores e decepções ,
Rogo-te apenas as ponhas a serviço
Da minha cristificação ,
Para que eu me realize plenamente
Em Cristo ! ...
Que eu seja crucificado , morto e seputado ,
Entre o Getsêmane e o Gólgota ,
E ressuscite para uma vida nova ,
Vida liberta dessas pequenas e grandes misérias
Que ainda me prendem a uma zona que não é minha ...
Vida liberta , finalmente ,
Desses ídolos e fetiches
Do meu velho ego ...

Texto: Huberto Rohden
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