terça-feira, 29 de outubro de 2013

" A BUSCA POEMA "

Longamente peregrinei , por este mundo de coisas efêmeras .
Dele conheci os passageiros deleites , como o belo arco-íris , que muito cedo em nada se desfaz , assim , desde as origens do mundo .
Vi todas as coisas passarem - belas , festivas , deleitáveis .
Na busca do Eterno perdi-me entre as coisas finitas ; de todas provei , em busca da Verdade .

No perpassar das idades , conheci as delícias do mundo efêmero - 
A terna mãe com seus filhos , o arrogante e o livre , o mendigo que erra pela face da terra ,
O conforto dos ricos , a mulher tentadora , o belo e o feio , o autoritário , o poderoso ,
O homem importante , o benfeitor , o protetor , o oprimido e o opressor , o libertador e o tirano O homem de muitas posses , o renunciante - o sannyasi , o homem prático e o sonhador ,
O arrogante sacerdote de suntuosas vestes e o humilde devoto , 
O poeta , o artista , o criador .

Prostrei-me diante de todos os altares do mundo ,
Todas as religiões me conheceram , cerimônias inúmeras pratiquei ,
Regalei-me das pompas do mundo , combatente fui , de batalhas ganhas e perdidas ,
Desprezei e fui desprezado , conheci as tristezas e agonias de inúmeras desdidas , 
Nadei em prazeres e na opulência .

Nos secretos recantos de meu coração exultei , conheci nascimentos e mortes sem conta ,
Todas essas efêmeras esferas percorri , entre êxtases passageiros , crendo-as eternas ,
No entanto , jamais encontrei o eterno Reino da Felicidade .

Outrora 
Eu Te buscava , ó Verdade imperecível , ó felicidade eterna , culminância de toda Sabedoria !
No topo da montanha , no céu constelado , nas sombras do terno luar , nos templos do homem , Nos livros dos doutos , na tenra folha primaveril , nas águas irrequietas , no rosto do homem ,
No regato cantarolante , na tristeza , na dor , na alegria e no êxtase - mas não Te encontrei .

Assim como o montanhista ascende aos altos picos , largando a cada passo seus múltiplos fardos , assim também me alcei às alturas , abandonando as coisas transitórias .

Como o sannyasi de áureas vestes , a buscar felicidade , com sua taça de mendicante ,
assim também renunciei .

Como o jardineiro que mata as ervas daninhas de seu jardim , assim também aniquilei o ego .
Como os ventos , sou livre e sem entraves .

Forte e diligente como o vento que penetra os ocultos recantos do vale .
Rebusquei os recessos de minha alma , purificando-me de todas as coisas , passadas e presentes .

Qual o silêncio que , de súbito , se estende sobre o mundo rumoroso , assim também , subitamente , Te encontrei no fundo do coração de todas as coisas e do meu próprio .

Sobre a trilha da montanha , sentado numa pedra , a meu lado e dentro de mim Te encontrei 
E , em Ti e em mim contidas , todas as coisas .
Feliz o homem que encontra a Ti e a mim em todas as coisas .
Na luz do sol poente , a filtrar-se entre as delicadas rendas de uma árvore primaveril , eu Te contemplei .
Na ave que passa rápida e desaparece no negror da montanha , Te contemplei .

Tua glória despertou a glória que em mim dormia .
Tendo encontrado , ó mundo , a Verdade , a Felicidade eterna , dela desejo dar .
Vem meditemos juntos , juntos poderemos e sejamos felizes , raciocinemos juntos e façamos surgir a Felicidade .

Tendo provado e conhecido a pleno as tristezas e dores , os êxtases e alegrias deste mundo efêmero , compreendo tua aflição .
A glória de uma borboleta só dura um dia , assim também , ó mundo , são teus deleites e prazeres .

Como as tristezas da criança , assim , ó mundo , são tuas tristezas e dores ,
Teus prazeres , que levam a muitas tristezas , tuas desditas , que levam a maiores desditas ,
Incessante luta e fúteis vitórias .

Como o delicado botão , após padecer longo inverno , desabrocha e de fragrância o ar embalsama , para murchar antes de cair o sol , assim são tuas lutas , teus grandes feitos , e tua morte - 
- Uma roda de dor e de prazer , de nascimento e morte .

Assim como andei perdido entre as coisas transitórias , em busca daquela eterna Felicidade ,
Assim também tu , ó mundo , estás perdido na esfera do efêmero .
Desperta e reúne tuas forças , olha em torno e medita .

Aquela Felicidade imarcescível , felicidade que é a única Verdade , que é o fim de toda busca , de toda indagação e dúvida , que liberta do nascimento e da morte , felicidade que é a única lei , o único refúgio , a fonte de todas as coisas , que dá perene conforto , essa real Felicidade , que é Iluminação , em ti habita .

Tendo-me fortalecido , desejo dar desta felicidade .
Tendo alcançado o desapego afetuoso , desejo dar desta felicidade .
Tendo alcançado a tranquilidade apaixonada , desejo dar desta felicidade .
Tendo vencido a vida e a morte , desejo dar desta felicidade .

Larga , ó mundo , tuas vaidades e segue-me , pois sei o caminho que leva ao alto da montanha , sei o caminho que leva ao fim desta agitação e tormento .

Só existe uma Verdade , 
Uma Lei ,
Um Refúgio ,
Um Guia 
Para aquela eterna Felicidade .

Desperta , ergue-te ,
Medita e reúne tuas forças .
Texto : Krishnamurti 
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