terça-feira, 18 de junho de 2013

" A Observação "

 Nesta tradução os versos da Mandukya Upanishad estão indicados por MANTRA I , MANTRA II , etc . Os versos do comentário de Gaudapada estão indicados por SLOKA 1.1 , etc , onde o primeiro número indica a parte e o segundo número indica o verso .
O Mantra da Mandukyopanishad :
Não é dar-se conta do interno .
Nem dar-se conta do externo .
Nem um estado intermediário entre os dois ;
Nem uma massa indiferenciada de consciência .
Nem consciente nem inconsciente ,
Não é visível nem utilizável .
Incompreensível , indiferenciável , impensável , indescritível ;
É apenas a firme convicção do Ser ( ekatma-pratyaya-saram ) .
Negação de todos os fenômenos , pacifico ,
Bem-aventurança completa , sem dualidade .
Isto é o que se indica por O Quarto ( Turiya ) .
O Atman , aquilo que deve ser realizado .
( versão direta do sânscrito por S'arana Gata )

TRATADO I
A REALIDADE SEGUNDO OS TEXTOS VÉDICOS
( AAGAMA PRAKARANA )
Capitulo I

A Doutrina dos Quatro Quartos [ padas ]
MANTRA I - Hari Om ! Om , a palavra , é tudo isto ; eis aqui uma explicação clara . O que existiu , o que existe e o que existirá , tudo é realmente Om ; ainda mais : o que está além da tríplice concepção do tempo é também Om .
MANTRA II - Tudo isto é realmente Brahman . Este Atman é Brahman e este Atman tem quatro quartos .
MANTRA III - O primeiro quarto é Vaisvanara , cujo campo é o estado de vigília . É consciente dos objetos exteriores ; tem sete membros e dezenove bocas e experimenta os objetos grosseiros .
MANTRA IV - O segundo quarto é Taijasa , cujo campo é o sono com sonhos . É consciente dos objetos internos . Possui sete membros e dezenove bocas e experimenta os objetos sutis 
MANTRA V - Eis aqui agora o estado de sono profundo durante o qual o que dorme não deseja nenhum objeto , nem vê nada durante seu sonho . Este é Prajna , o terceiro quarto , cujo campo é o sonho profundo . Nele todas as experiências se unem e se confundem em uma massa de consciência indiferenciada ; a qual é plenitude de felicidade e a via que conduz ao conhecimento dos estados anteriores .
MANTRA VI - Este é o Senhor Supremo , o Conhecedor da totalidade , o ordenador interior , a fonte de tudo o que existe . Dele emana tudo e nele termina por resolver-se tudo . ( Aqui começa a Karika de Gaudapada , que retorna aos seis mantras precedentes da Upanishad e os explica ) .
SLOKA 1.1 - Visva experimenta os objetos exteriores . Taijasa tem consciência dos objetos internos ( sutis ) e Prajna é uma massa de consciência indiferenciada . Mas é uma única e mesma entidade a que é conhecida nos três estados .
SLOKA 1.2 - Visva é o percebedor no olho direito ; Taijasa é o percebedor no interior da mente ; Prajna é o que assenta o Akasha no coração . Mas é um único e mesmo Atman o que é percebido como triplo num único e mesmo corpo .
SLOKA 1.3 - Visva experimenta o grosseiro ; Taijasa o sutil e Prajna , a bem-aventurança . Saiba que estes são os três gêneros de experiência . 
SLOKA 1.4 - Visva encontra sua satisfação no grosseiro ; Taijasa , no sutil e Prajna , na bem-aventurança . Saiba que estes são os três gêneros de satisfação .
SLOKA 1.5 - Aquele que conhece ao mesmo tempo o sujeito e os objetos de experiência que foram descritos como associados a cada um dos três estados , não se vê afetado por aqueles objetos que experimenta .
SLOKA 1.6 - Sem dúvida , a mudança da causa ao efeito não pode ser atribuído mais que a entidades que têm uma experiência positiva . É Prana que manifesta todas as coisas e é Purusha quem , sob formas múltiplas e distintas cria as individualidades conscientes .
SLOKA 1.7 - Alguns que refletem sobre o desdobramento da criação veem a manifestação do poder sobre humano de Deus e outros olham a criação como possuidora da natureza do sonho e da ilusão .
SLOKA 1.8 - Aqueles que afirmam a existência de objetos manifestados , atribuem esta manifestação à vontade divina , e aqueles que vêem o tempo como real , declaram que é o próprio tempo que manifesta todos os seres .
SLOKA 1.9 - Alguns pensam que a manifestação tem por fim permitir a Deus obter gozo da criação , enquanto que outros atribuem isto a um simples jogo do Senhor ; mas a manifestação é da verdadeira natureza do ser resplandecente ( Atman ) , pois que outro desejo poderia surgir em quem todos os desejos estão perpetuamente em vias de se cumprir ?
MANTRA VII - Turiya não é o que é consciente do mundo interno , nem o que é consciente do mundo externo ; nem o que é consciente dos mundos , nem o que é uma massa indiferenciada de consciência , nem o que é simples cognição , nem o que é inanimado .
Turiya não é percebido , nem relacionável com algo , nem cognoscível ; ele é inimaginável , impensável , indescritível ; ele é essencialmente da natureza da consciência pura que constitui , apenas ela , o ser ; ele é negação de toda aparência , paz eterna , felicidade absoluta , sem dualidade . Isto é o que se indica por Turiya ; isto , em verdade , é o Atman e aquilo que deve ser realizado .
SLOKA 1.10 - Naquele que é indicado como o Senhor imutável e Supremo terminam todos os sofrimentos .
Entre todas as entidades . Aquilo é Uno e Sem Segundo ; Aquilo é designado como Turiya Resplandecente e Omnipresente .


 Capitulo II

A NATUREZA REAL DE TURIYA

SLOKA 1.11 - Visva e Taijasa estão condicionados pela causa ( Karana ) e pelo efeito ( Karya ) , mas Prajna só está condicionado pela causa . Nem causa , nem efeito existem em Turiya .
SLOKA - 1.12 - Prajna não conhece nada do ser nem do não-ser ; da verdade nem do erro ; mas Turiya existe sempre . Este é o espectador eterno e universal .
SLOKA 1.13 - A não cognição da dualidade é comum a Prajna e Turiya ; mas Prajna está associado ao sonho profundo sob forma de causa e este sono profundo não se encontra em Turiya .
SLOKA 1.14 - Os dois primeiros ( Visva e Taijasa ) estão associados às condições de sono profundo e com sonhos ; Prajna é a condição de sono profundo sem sonhos ; mas aqueles que conhecem a verdade não vêem em Turiya nem sono nem sonhos .
SLOKA 1.15 - O sonho com sonhos ( Svapna ) , é cognição errônea da realidade ; a torpeza ( Nidrã ) .
É o estado em que se ignora que existe a realidade . Quando desaparece o conhecimento errôneo que recobre os dois estados , Turiya é realizado .
SLOKA 1.16 - Quando o Jiva ( individual ) que dorme , quer dizer , que ignora a realidade , sob a influência de Maya , a qual nenhuma origem pode ser assinalada , sai de seu sonho profundo , realiza em si mesmo a não-dualidade , isenta de sono com sonhos e que também carece de começo .
SLOKA 1.17 - Se a multiplicidade percebida fosse real , então poderia desaparecer ; mas a dualidade é pura ilusão , dado que a não-dualidade , e apenas ela , é suprema realidade .
SLOKA 1.18 - Se alguém houver imaginado as ideias de multiplicidade , é certo que estas ideias podem desaparecer ; a ideia de dualidade se admite tacitamente a fim de facilitar o ensinamento , mas deixa de existir quando a Suprema Verdade é conhecida .

Capítulo III

O Sentido de OM-KAARA

MANTRA VIII- O Atman , que foi descrito como possuidor de quatro quartos , é idêntico a OM do ponto de vista das sílabas ( Aksara ) . A palavra OM , composta de partes , é agora considerada do ponto de vista dos sons ( das letras : maatraa) . Porque os quartos são idênticos às letras e estas aos quartos . As letras são : A . U e M .
MANTRA IX - Vaisvanara , que tem por campo o estado de vigília , é também A , a primeira letra de OM . Seja porque possui a faculdade de penetrar em tudo , ou porque é o primeiro . Qualquer um que conhece esta identidade , vê todos os seus desejos cumpridos e obtém a primazia .
SLOKA 1.19 - Quando se tenta descrever a identidade de Visva e do som A , se toma como apoio principal o fato de que ambos ocupam o primeiro lugar ( da série ) ; há outra razão em favor desta identidade : cada um penetra na totalidade .
MANTRA X - Taijasa tem por campo o estado onírico e é o U , a segunda letra de OM , em razão de sua posição intermediária . O que conhece esta identidade adquire um conhecimento superior ; todos lhes testemunham as mesmas considerações e em sua descendência , ninguém nascerá que não seja um conhecedor de Brahman .
SLOKA 1.20 - A razão que permite considerar Taijasa como com a mesma natureza que U , é sua característica comum de superioridade . Outra razão mostra também a identidade : ambos ocupam o lugar intermediário .
MANTRA XI - Prajna tem por campo o sono profundo e é o M , a terceira letra de OM e é por sua vez a medida na qual tudo se resolve . Quem conhece esta identidade é capaz de toda medida ( quer dizer , é capaz de apreender a natureza real do universo ) . E ademais , contem tudo em si mesmo .
SLOKA 1.21 - A identidade de Prajna é M se fundamenta na razão indiscutível de que ambos têm por característica comum ser a medida ( da totalidade ) . Há outra razão : os dois terminam por fundir-se em Prajna e em M .
MANTRA XII - O que está desprovido de partes e de sons , o que é inapreensível pelos sentidos , o que é extinção de toda a aparência , o que é felicidade total , o que é OM sem segundo , o que é o quarto quartel , o que é Turiya , é realmente idêntico ao Atman . Qualquer um que conheça esta identidade , submerge o ser individual no ser universal .
SLOKA 1.22 - Aquele que sem vacilar conhece as características comuns aos três estados , é venerado e adorado por todos os seres e posto entre os grandes sábios .
SLOKA 1.23 - Os sons A , U e M , ajudam respectivamente aos seus adoradores a alcançar Visva , Taijasa e Prajna , mas no som silencioso não há nada que alcançar .

Capitulo IV

A Absorção em OM

SLOKA 1.24 - O sentido de OM-Kara deve ser conhecido quarto por quarto ; os quartos são idênticos aos sons . Uma vez que se tenha compreendido o sentido real de OM-Kara , se deve não pensar em outra coisa .
SLOKA 1.25 - A mente deve fazer-se uma só com OM , porque OM é Brahman para sempre isento de medo ; o ser que está sempre absorvido em OM ; está livre de todo sentido de temor .
SLOKA 1.26 - Seguramente é OM o Brahman não supremo , mas se admite que também é o Brahman Supremo ; OM é sem começo ( quer dizer , sem causa ) sem segundo ; fora dele nada existe ; não está unido a nenhum efeito ; está ao abrigo de toda mudança .
SLOKA 1.27 - OM é , na verdade , o começo , o meio e o fim de todas as coisas ; conhece OM , como tal , em seu lugar ; alcança esta suprema realidade .
SLOKA 1.28 - Saiba que a palavra OM é Ishvara , sempre presente em cada mente individual ; e que aquele que está dotado de discriminação , uma vez realizada a omnipresença da palavra , vence para sempre o sofrimento .
SLOKA 1.29 - Aquele que conheceu a palavra OM , a palavra silenciosa , a palavra cujo som é incomensurável ; a palavra que é paz eterna , negação de toda dualidade ; aquele , com exclusão de qualquer outro , é um verdadeiro sábio .

TRATADO II
DO CARÁTER ILUSÓRIO DA DUALIDADE
( VAITATHYA PRAKARANA )

Capitulo I

SLOKA 2.1 - A irrealidade de todos os objetos vistos na condição de sonho está atestada pelos sábios . Estes objetos se encontram situados no interior do sonhador , e portanto , inscritos num espaço restringido .
SLOKA 2.2 - Por falta de tempo , não é possível que o sonhador visite os lugares em que sonha .
Ao despertar , não se encontra na cena sonhada .
SLOKA 2.3 - Se apoiam , na razão as escrituras quando declaram a não existência real dos objetos percebidos durante o sonho , e reconhecem o caráter ilusório das experiências oníricas .
SLOKA 2.4 - Os múltiplos objetos que vê o sonhador os percebe como existentes ainda que sejam ilusórios .
Também são ilusórios os objetos vistos no estado de vigília . A única diferença entre ambas as classes de objetos é o espaço restringido em que se inscrevem os objetos sonhados .
SLOKA 2.5 - Os sábios assinalam a identidade dos estados de vigília e sonho , em razão da similitude dos objetos percebidos nos dois estados .
SLOKA 2.6 - O que não existe no começo e no fim , tampouco existe atualmente . Os objetos vigílicos são semelhantes aos ilusórios que vemos durante o sonho e não obstante , os consideramos como reais .
SLOKA 2.7 - Se diz que os objetos de experiência vigilica têm utilidade prática , mais isso é coisa que contradiz o sonho . Se deve admitir sem vacilar que tanto os objetos do sonho como os de vigília são ilusórios , porque têm começo e fim .
SLOKA 2.8 - Os objetos percebidos em sonhos e não habituais no estado de vigília , devem sua existência às condições particulares em que o preceptor exerce sua atividade mental . Em associação com as condições de sonho , o sonhador experimenta tais objetos .
SLOKA 2.9 - O que no sonho é imaginado como interior pela mente , é ilusório e o que a mente crê perceber como exterior , parece real , mas tanto o imaginado como o percebido é reconhecido como irreal .
SLOKA 2.10 - O que no estado de vigília é imaginado como interno pela mente é ilusório e o que esta experimenta como externo , parece real . Do ponto de vista da razão , tanto o imaginado como o percebido deve ser tido por irreal .
SLOKA 2.11 - Se os objetos conhecidos nas duas condições de vigília e de sono são ilusórios , quem é o que conhece tais objetos ? Quem os imagina ?
SLOKA 2.12 - Pelo poder de sua própria Maya , o Atmam , que brilha com luz própria , imagina nele mesmo e por ele mesmo , todos os objetos . Ele é o único conhecedor dos objetos . Esta é a decisão da Vedanta .

Capitulo II

Todos os Objetos são Imaginários   

SLOKA 2.13 - Quando dirige a mente ao exterior , o Senhor ( Prabhu ) , o Atmam , imagina a multiplicidade de objetos , os quais permanece na mente . Quando dirige a mente ao interior , o Atmam imagina em si mesmo a multiplicidade de ideias .
SLOKA 2.14 - Os objetos podem ser : a) conhecidos como internos durante o tempo que dura o pensamento correspondente , e b) percebidos como externos pelos sentidos , limitados entre dois pontos da duração . Os objetos de ambas as classes são imaginários e só esta razão da limitação temporal permite diferencia-los .
SLOKA 2.15 - Os objetos conhecidos no interior da mente e que se designam como não manifestados , e os objetos que são percebidos no exterior em forma manifestada , são todos imaginários ; a única diferença provem dos órgãos sensoriais através dos quais estes últimos são conhecidos .
SLOKA 2.16 - O Jiva é imaginado e em seguida todas as entidades objetivas e subjetivas que são percebidas por cada Jiva . Segundo é o conhecimento , assim é a recordação correspondente .
SLOKA 2.17 - Igual a corda , cuja natureza real é desconhecida , e é imaginada na sombra como uma serpente , grinalda , etc , assim o Atmam é imaginado sob múltiplas formas .
SLOKA 2.18 - Quando se revela a verdadeira natureza da corda , as ilusões super-imposta à corda se desvanecem ; simultaneamente se esclarece a certeza de que o que há é uma corda . Tal é a natureza da convicção com respeito ao Atmam .

Capitulo III

As Formas Imaginarias do Atmam

SLOKA 2.19 - O Atmam é imaginado como Prana e outros objetos em quantidade inumerável . Este fato é devido à Maya , pela qual é enganado o resplandecente Atmam .
SLOKA 2.20 - Os que apenas conhecem o Prana , chamam Atmam de Prana ; os que apenas conhecem os Bhuta , lhe chamam Bhuta ; os que apenas conhecem as Guna , lhe chamam Guna ; os que apenas conhecem os Tattva , lhe chamam Tattva .
SLOKA 2.21 - Os que apenas conhecem os Pada , lhe chamam Pada ; os que estão familiarizados com os objetos , com os Loka  com os Deva , chamam ao Atmam segundo os objetos , os Loka , os Deva .
SLOKA 2.22 - Os que conhecem os Veda , o chamam Veda ; os que estão acostumados aos sacrifícios , o chamam sacrifício ( Yajna ) ; os que estão familiarizados com as noções de sujeito que desfruta e objeto de desfrute , chamam ao Atmam , segundo o caso , como o desfrutador , ou o objeto de desfrute .
SLOKA 2.23 - Os conhecedores do sutil , designam ao Atmam como o sutil ; os conhecedores do grosseiro , o chamam de grosseiro ; os que estão familiarizados om a ideia de uma pessoa , lhe dão o nome de uma pessoa e os que não crêem em nada que tenha forma , o chamam a vacuidade .
SLOKA 2.24 - Os conhecedores do tempo , o chamam o tempo ; os conhecedores do Akasha , o chamam o Akasha ; os versados na dialética , o chamam a dialética e os conhecedores das esferas , o chamam as esferas .
SLOKA 2.25 - Os conhecedores de Manas , o chamam Manas ; os conhecedores de Buddhi , o chamam Buddhi ; os conhecedores de Chita , o chamam Chita e os conhecedores do Dharma e do Adharma , o chamam Dharma e Adharma .
SLOKA 2.26 - Alguns pretendem que a realidade consta de vinte e cinco categorias , e outros de vinte e seis ; outros , ainda , a concebem como composta por trinta e uma categorias ; há também quem afirme que as categorias são inumeráveis .
SLOKA 2.27 - Os que apenas conhecem comprazer a outro , chamam isso a realidade ; os que conhecem os Ashrama , o chamam de Ashrama ; os gramáticos , o chamam o masculino e o feminino e o neutro ; outros o conhecem como transcendente ( Para ) , ou imanente ( Apara ) .
SLOKA 2.28 - Os conhecedores da criação o chamam a criação ; os conhecedores da dissolução , chama a realidade de dissolução ; os que crêem na conservação , a chamam a conservação , falando com propriedade , todas estas ideias , sem exceção , são imaginadas no Atmam .
SLOKA 2.29 - O investigador apenas conhece a ideia que lhe é apresentada por seu Guru , pois o Atmam assume a forma do que é conhecido ; assim protege ao investigador , o qual , penetrado desta ideia , a realiza ao final como essência única , quer dizer , como Atmam .
SLOKA 2.30 - Ainda que o Atmam não seja distinto das imaginações , parece ser distinto ; o que possui verdadeiramente tal conhecimento , interpreta a significação dos Vedas sem sombra de dúvida .
SLOKA 2.31 - Como os sonhos e a ilusão , - como um castelo que se vê surgir das nuvens - , assim é este universo aos olhos de um sábio instruído no Vedanta .
SLOKA 2.32 - Aqui não há dissolução , nem morte , nem escravo do mundo , nem aspirante à sabedoria , nem buscador de libertação , nem liberto , eis aqui a verdade absoluta .

Capitulo IV

A Realização da Não-Dualidade 

SLOKA 2.33 - O Atmam é imaginado simultaneamente como objetos irreais de percepção e como não-dualidade ; os objetos são imaginados na não-dualidade , em consequência a não-dualidade é , apenas ela , a suprema felicidade .
SLOKA 2.34 - A multiplicidade só existe como idêntica ao Atmam e não pode pretender independência ; não é distinta , nem não-distinta de Brahman . Tal é a declaração dos sábios .
SLOKA 2.35 - Os sábios , livres de apego , de medo e de cólera , e versados na significação dos Veda , realizam plenamente este Atmam como desprovido de todas as imaginações , livre da ilusão da multiplicidade e sem segundo .
SLOKA 2.36 - Posto que já sabes o que é o Atmam , concentra-te na não-dualidade e depois de havê-la realizado , comporta-te neste mundo como se fosse um objeto inanimado .
SLOKA 2.37 - O sábio deve manter-se apartado dos hinos às divindades , das cerimônias e dos ritos ; devera tomar como suporte seu corpo perecedouro e o Atmam indestrutível , e contar apenas com a sorte para subsistir .
SLOKA 2.38 - Depois de haver conhecido a verdade interior e exterior , o sábio se fundiu com a realidade , da qual obtém sua sorte e da que não se separa jamais .

TRATADO III
A NÃO-DUALIDADE
( ADVAITA PRAKARANA )
Introdução 

SLOKA 3.1 - O Jiva supõe que Brahman se manifestou , e pensa que se se entrega à devoção se unirá a Brahman ; de um tal Jiva se pode dizer que é vitima da ignorância , porque imagina que antes da criação tudo era não nascido .
SLOKA 3.2 - Em consequência , vou descrever agora a Brahman isento das limitações , não nascido , idêntico sempre a si mesmo . Se deve compreender que Aquilo não nasceu jamais , ainda que Aquilo pareça manifestar-se em todas as partes .

Capitulo I

Teoria da Divisão 
( AVACCHEDA-VADA )

SLOKA 3.3 - A Sruti declara que o Atmam , semelhante ao Akasha , se manifesta como Jiva e que estes , os Jiva , são comparáveis ao Akashaencerrado em vasilhas . Assim como as vasilhas são subsidiárias do Akasha , assim os corpos parecem proceder do Atmam . Este é o exemplo que se evoca para explicar a manifestação como emanada de Brahman .
SLOKA 3.4 - Quando a vasilha se rompe , o Akasha ali contido se funde com o Atmam ilimitado ; igualmente , os Jiva se fundem com o Atmam quando os condicionantes transitórios ( o corpo , a mente , etc ) são destruídos .
SLOKA 3.5 - Uma porção do Akasha encerrado em uma vasilha pode ter mistura de pó e de vapor , enquanto que as porções de Akasha encerradas em outras vasilhas estão livres de tal mescla .
Igualmente , o bem-estar ou sofrimento de um Jiva , não afeta aos outros Jiva .
SLOKA 3.6 - Ainda que as formas , as funções e os nomes sejam múltiplos , não se produz nenhuma diferença no Akasha ; a esta mesma conclusão se chega a respeito dos Jiva .
SLOKA 3.7 - A porção de Akasha limitada pela vasilha não é efeito nem parte do Akasha ; da mesma forma , o Jiva não é efeito nem parte do Atman . 
SLOKA 3.8 - Em sua ingenuidade a criança pode crer que as nuvens são manchas do ar ( Akasha ) ; em sua ignorância , o homem considera possível que o Atman seja manchado .
SLOKA 3.9 - No que concerne ao nascimento e a morte , a passagem de um estado a outro , e sua existência em múltiplos corpos , o Atman não é diferente do Akasha limitado em uma vasilha .
SLOKA 3.10 - Todos os corpos são como que produzidos num sonho pela ilusão do Atman ; nenhum argumento serviria para demonstrar-se sua realidade .
SLOKA 3.11 - O supremo Jiva , é o ser das cinco envolturas , comparável ao Akasha ilimitado , tal como foi explicado .

Capitulo II

Identidade do Jiva e do Atman 

SLOKA 3.12 - A descrição por meio de pares opostos ( ou complementares ) , como o do Akasha que penetra o mundo e o Akasha que penetra em todos os organismos , se aplica ao supremo Brahman ; de fato , Brahman é descrito como residente por vezes no interior de cada identidade e interpenetrando o universo .
SLOKA 3.13 - A identidade do Jiva e do Atman , com a característica comum de ser sem segundo , é glorificada e a multiplicidade condenada pelas escrituras ; em consequência , apenas a não-dualidade deve ser tida como razoável e verdadeira .
SLOKA 3.14 - As distinções entre o Jiva e o Atman que faz a Upanishad quando trata da origem da criação , apenas deve entender-se como figurada ; esta parte dos Veda descreve exclusivamente um fato temporal e sua distinção em tal declaração não tem nenhum sentido se for interpretada como real .
SLOKA 3.15 - As ilustrações da criação com os exemplos da terra , do ferro , das estrelas e outros análogos , tem por fim explicar a identidade do Jiva e Brahman , já que a multiplicidade não existe de modo algum .
SLOKA 3.16 - Há três estados de existência ( Asrama ) , que correspondem respectivamente aos três graus de compreensão , inferior , médio e superior ; apenas por compaixão pelos que ainda não entenderam a não-dualidade , ensina a Sruti a devoção .
SLOKA 3.17 - Os dualistas se apegam obstinadamente a suas conclusões e se contradizem entre eles , enquanto que os Advaitas não entram em conflito com ninguém .
SLOKA 3.18 - Posto que a não-dualidade é a realidade ultima , se conclui que a dualidade é a modificação ( Bheda ) da não-dualidade ; como os dualistas concebem a dualidade no absoluto e no relativo , a posição não-dualista não se opõe à dualista .

Capitulo III

A NATUREZA REAL DE ATMAN

SLOKA 3.19 - Apenas pela virtude de Maya , com exclusão de qualquer outra razão , o não-nascido ( Brahman sem segundo ) , parece sofrer modificações , pois se estas modificações fossem reais , o imortal ( Brahman ) seria mortal .
SLOKA 3.20 - Ninguém pode pretender que o Atman , jamais nascido , é afetado pela mudança e que sendo sem mudança e imortal pode participar da natureza do que é mortal .
SLOKA 3.21 - O imortal não pode ser mortal , nem o mortal pode ser imortal ; porque coisa alguma pode modificar sua natureza essencial .
SLOKA 3.22 - Se o imortal pode mudar em mortal , como alguém pode sustentar que ao mesmo tempo conserva sua natureza imortal ?
SLOKA 3.23 - A entrada na existência pode ser real ou ilusória ; a Sruti menciona as duas concepções ; mas a que é ao mesmo tempo sustentada pela Sruti e corroborada pela razão é a única correta .
SLOKA 3.24 - Por algumas passagens da escritura , tais como ; no Atman não há pluralidade , somente Maya criou Indra . . . , sabemos que apenas por Maya cremos ver multiplicidade no Atman não-nascido .
SLOKA 3.25 - Ademais , pela negação da criação ( Sambhuti ) , o passar ao nascimento se encontra refutado ; pois a causalidade é negada em declarações como esta : quem poderia fazer ao Atman decidir tomar nascimento ?
SLOKA 3.26 - Em razão da natureza incompreensível do Atman , a expressão da Sruti ; não é isto nem Aquilo , nega todas as ideias para descrever o Atman , mas afirma sua existência como não-nascido .
SLOKA 3.27 - Apenas por virtude de Maya e não do ponto de vista da realidade , parece tomar nascimento o que existe eternamente ; qualquer um que imagine que tal nascimento é real , afirma como um fato indiscutível que o que já é pode nascer .
SLOKA 3.28 - O irreal não pode nascer , nem desde o ponto de vista da realidade , nem por Maya ; os filhos de uma fêmea infecunda não pode nascer nem de fato , nem por ilusão .

Capitulo IV

COMO É POSSÍVEL CHEGAR À REALIDADE ?

SLOKA 3.29 - No estado de sonho , a mente trabalha através de Maya para apresentar a aparência de dualidade ; no estado de vigília , a mente trabalha , também , através de Maya para apresentar a aparência de dualidade .
SLOKA 3.30 - No sonho , a mente , que em realidade é sem segundo , aparece , sem dúvida , como múltipla ; no estado de vigília , a mente , que é sem segundo , também aparece , sem dúvida , como múltipla .
SLOKA 3.31 - Toda a multiplicidade , - compreendendo o que se move e o que não se move - , que a mente percebe , é a mente e apenas a mente , porque ninguém jamais teve a experiência de multiplicidade quando a mente cessa .
SLOKA 3.32 - Quando a verdade sobre o Atman é conhecida , a mente cessa de imaginar e deixa de ser a mente , porque falta de objetos de conhecimento , se livra de toda cognição .
SLOKA 3.33 - O conhecimento ( Jnana ) que é inato e isento da necessidade de imaginar nada , é sempre inseparável do cognoscível , Brahman , sem mudança e sem nascimento , é o único objeto de conhecimento ; o não-nascido , que conhece o não-nascido .
SLOKA 3.34 - Se deve conhecer o comportamento que adota a mente uma vez que já está disciplinada , quer dizer , isenta de imaginar e dotada de discriminação ; a condição da mente no sono profundo é de um gênero muito distinto e não pode ser comparada .
SLOKA 3.35 - As atividades da mente ficam em suspenso durante o sono profundo , mas não quando se pratica a disciplina vedântica . A mente de um Jnani é idêntica ao Brahman isento de medo , ao Brahman cuja luz omnipresente e sem eclipse é a pura consciência .
SLOKA 3.36 - Este Brahman sem nascimento , está isento de sono e sonhos , não tem nome nem forma e é sempre resplandecente e omnipresente , nenhuma obrigação , de que natureza seja , poderia ser-lhe prescrita .
SLOKA 3.37 - Este Atman reside mais além de toda expressão verbal , de toda operação mental ; é total serenidade , luz eterna livre de atividade e de temor , mas acessível à mente concentrada .
SLOKA 3.38 - Neste Brahman que está mais além de toda operação mental , não se encontram as noções de aceitar ou de abandonar ; o conhecimento do Jnani que se tenha estabelecido no Atman , acede ao estado de imortalidade e estabilidade , ao abrigo de toda mudança .
Anexo 
Explicações Sobre o Jnana Yoga 
SLOKA 3.39 - Este Yoga que não entra em contato com nenhum objeto , permanece proibido para a maior parte dos Yoguis , porque estes se assustam ao ver o medo ali onde precisamente o medo desaparece .
SLOKA 3.40 - Os Yoguis não seguem o Jnana Yoga se entregam a exercer o domínio sobre sua mente para alcançar o estado isento de medo , para exterminar o sofrimento e para adquirir o conhecimento do ser e a serenidade eterna .
SLOKA 3.41 - A mente somente poderia ser dominada por um esforço incessante , tal como o que seria necessário para esvaziar um oceano , gota a gota , com a ajuda de um filete de erva .
SLOKA 3.42 - Quando a mente se distrai pelo desejo ou desfrute , ou quando encontra sua satisfação no estado de Laya , deverá ser conduzida sob o jugo pelo emprego de meios apropriados ; o estado de esquecimento é tão nocivo quanto o de desejo .
SLOKA 3.43 - O aspirante deverá afastar sua mente do desfrute de prazeres , com a recordação constante de que todo prazer vai acompanhado de sofrimento ; deverá recordar-se sempre que tudo é não-nascido ( Brahman ) ; desta maneira é que o nascido , a dualidade , deixará de ser percebida .
SLOKA 3.44 - Se a mente cai na inatividade e vai para o estado de Laya , desperta-a ; se se distrai , conduzi-a ao estado de serenidade ; se oscila entre ambos os estados , sabe que contem de maneira virtual os desejos e se acede ao estado de equilíbrio , guarda-te de turba-la .
SLOKA 3.45 - Não permitas a tua mente gozar da felicidade que provem do Samadhi ; pela prática da discriminação livra-a do apego a essa felicidade ; e se a mente , uma vez alcançado o estado de fixidez , tenta voltar ao mundo exterior , aplica-te a submergi-la em Brahman .
SLOKA 3.46 - Quando a mente já não resvala na inatividade do estado Laya , nem as distraem os desejos ; quer dizer , quando está em paz e não dá nascimento às aparências , ela é realmente Brahman .
SLOKA 3.47 - A Felicidade Suprema está fundada na realização do ser e é serenidade total , idêntica à liberação e , portanto , indescritível e não-nascida . Tem sido descrita como o omnisciente Brahman , porque existe una com o ser sem nascimento , o qual é o ultimo objeto de conhecimento .
SLOKA 3.48 - Nenhum Jiva nasceu jamais , porque nenhuma causa existe que possa produzir o Jiva ; aqui está a suprema verdade ; nada , nem ninguém , jamais nasceu .

TRATADO IV
A EXTINÇÃO DO TIÇÃO ARDENTE 
( ALÂTA-SANTI-PRAKARANA )
Introdução 

SLOKA 4.1 - Com veneração me inclino diante do melhor dos homens ( Dvipadam-Vara ) , que por meio do conhecimento , - o qual é comparável ao Akasha e não difere em nada do objeto de conhecimento ( os Dharma ) - realizou a natureza dos Dharma ( os Jiva ) , que são comparáveis também ao Akasha ( Akadakalpa ) .
SLOKA 4.2 - Saúdo ao Yoga denominado Asparsa , que a Sruti ensina ; este Yoga acrescenta a ventura de todos , engendra a prosperidade de todos e está isento de oposição e de contradição .

Capitulo I

ESTUDO SOBRE A CAUSALIDADE

SLOKA 4.3 - Disputando entre eles , admitem alguns que uma entidade existente pode sofrer transformação , enquanto que outros , confiados de sua inteligência , pretendem que o desenvolvimento da manifestação procede de uma identidade não-existente .
SLOKA 4.4 - O existente não pode passar uma segunda vez pelo nascimento e o não-existente não pode ser engendrado para vir a ser como existente . Assim é como os adversários , por causa de suas controvérsias , tentam demonstrar de fato , a exatidão das concepções Adversas a respeito da não-evolução ( Ajati ) .
SLOKA 4.5 - Nós aderimos à teoria da não-criação ( Ajati ) que os demais proclamam e não dissentimos deles . Agora , escute nossa última verdade , a qual está isenta de toda controvérsia .
SLOKA 4.6 - Os dualistas pretendem que o Atman que é não nascido , sem mudança , sofra uma mudança . E como uma eternidade que é imutável e imortal poderia participar da natureza do mortal ?
SLOKA 4.7 - O Imortal não pode ser mortal , nem o mortal ser imortal , porque uma coisa não pode mudar de natureza .
SLOKA 4.8 - Como um homem que crê que a entidade de natureza imortal pode ser mortal , pode sustentar , ao mesmo tempo que o imortal , depois de passar pelo nascimento , conserva a sua natureza imortal ?
SLOKA 4.9 - Por Prakriti , ou natureza inerente de uma coisa , se deve entender o que uma vez adquirido se converte em parte integrante desta coisa , o que constitui sua qualidade característica , o que desde seu nascimento é sua essência , o que desde sua origem não depende de nenhum fator estranho e o que não cessa jamais de ser idêntico a si mesmo .
SLOKA 4.10 - Todos os Jiva estão , por natureza , isentos de caducidade e de morte , mas pensam , por assim dizer , que estão sujeitos a isso e é precisamente esse pensamento mesmo o que parece apartar-lhes de sua própria natureza .
SLOKA 4.11 - Os dualistas pretendem que a causa se transforma em efeito de si mesma e sustem que a causa nasce como efeito . Como é possível que a causa seja não nascida , se se pretende que nasça como efeito ? E como pode ser eterna se está sujeita à modificação ? 
SLOKA 4.12 - Se é afirmado que a causa , não nascida , não é diferente do efeito , também o efeito deve ser não nascido . Como poderia a causa ser permanente e ao mesmo tempo não diferente do efeito o qual é não-nascido ?
SLOKA 4.13 - Nenhum exemplo justifica a opinião de quem pretende que o efeito nasce da causa não-nascida . Pretender , ademais , que o efeito seja produzido por uma causa que é nascida , equivale a conduzir a uma regressão ao infinito .
SLOKA 4.14 - Aqueles que pretendem que o efeito é a causa da causa , e que a causa é a causa do efeito , não podem sustentar simultaneamente a entidade ( quanto ao começo ) da causa e do efeito .
SLOKA 4.15 - Os que sustem que o efeito é a causa da causa e que a causa é a causa do efeito , descrevem sem duvida o processo evolutivo total como se o nascimento do pai devesse ser imputado aos filhos .
SLOKA 4.16 - Se é feita a tentativa defender o principio de causalidade , se deverá determinar a ordem segundo a qual causa e efeito se sucedem . Mas se é afirmado que ambos aparecem simultaneamente , não se pode dizer que eles estão ligados por uma relação mútua , posto que viriam a ser como os dois chifres de um ruminante .
SLOKA 4.17 - Se a causa é produzida pelo efeito , não se acerta ao estabelece-la , e se a causa não está estabelecida , como poderá dar nascimento ao efeito ?
SLOKA 4.18 - Se a causa é produzida pelo efeito e se , por sua vez , o efeito é produzido pela causa , qual dos dois nasce primeiro , de sorte que o nascimento de um dependa do nascimento do outro ?
SLOKA 4.19 - A incapacidade de dar uma resposta , a ignorância e a impossibilidade de determinar a ordem de sucessão de causa e efeito , conduzem diretamente os sábios a ater-se à teoria da não-evolução absoluta ( Ajati ) .
SLOKA 4.20 - A ilustração da semente e do broto é uma matéria cuja prova ainda foi realizada . O termo médio daquilo cuja exatidão ainda não foi provada , não se pode utilizar para estabelecer uma proposição demonstrativa .
SLOKA 4.21 - A ignorância relativa ao antecedente ou ao subsequente da causa e efeito prova com clareza a ausência de evolução ou de criação . Se o efeito ( o Dharma , isto é , o Jiva ) foi produzido realmente por uma causa , porque não se pode indicar a causa precedente ?
SLOKA 4.22 - Jamais uma coisa , qualquer que seja , não é nascida de si mesma , nem nascida de outra coisa ; jamais uma coisa não foi produzida , quer seja essa coisa existente , não-existente ou , conjuntamente , existente e não-existente .
SLOKA 4.23 - A causa não pode ser produzida por um efeito que é sem começo , nem o efeito poderia nascer de si mesmo ; o que é " sem começo " deve necessariamente estar isento de nascimento .

Capitulo II

TEORIA ADVAITA DO CONHECIMENTO 

SLOKA 4.24 - O conhecimento subjetivo deve ter uma causa objetiva , pois caso contrário , seriam os dois inexistentes . Por essa razão e também porque experimentamos o sofrimento , a existência dos objetos exteriores , que outros pensadores reconhecem , deve ser definitivamente admitida .
SLOKA 4.25 - Do ponto de vista da razão , uma causa deve ser designada à impressão subjetiva , mas do ponto de vista da realidade suprema , ou da verdadeira natureza das coisas , nós percebemos que a pretendida causa da impressão subjetiva , não é , em definitivo , uma causa .
SLOKA 4.26 - A mente não entra em relação com os objetos exteriores , nem as ideias que aparecem como objetos externos são outra coisa que reflexos sobre a mente . Isto é assim , porque os objetos não existem e as ideias que aparecem como objetos externos não são distintas da mente .
SLOKA 4.27 - Em nenhum dos três modos de tempo está a mente submersa na relação causal . Como poderia a mente estar sujeita a ilusão quando tal ilusão carece de causa ?
SLOKA 4.28 - Nem a mente , nem os objetos que percebe a mente nasceram . Quem crê ver tal nascimento poderia descobrir as pegadas deixadas no céu pelas patas dos pássaros .
SLOKA 4.29 - Alguns imaginam que o que é não-nascido , teve nascimento , mas a verdadeira natureza do real é ser sempre não-nascido . Em nenhum caso pode uma coisa ser distinta do que é .
SLOKA 4.30 - Se , como alguns pretendem , fosse admitido que o mundo carece de origem , deixaria de ser perecedouro . A libertação ( Moksa ) não pode ter um começo e durar eternamente .
SLOKA 4.31 - Tudo o que na origem e no fim é não existente , é necessariamente não-existente no meio ; ainda que os objetos que vemos sejam ilusórios , não deixam por isso de ser considerados como reais .
SLOKA 4.32 - Que os objetos da experiência vigílica servem para certos fins é coisa que contradiz o sonho .
Todos eles estão reconhecidos sem dúvida como ilusórios pelos sábios , posto que tem princípios e fim .
SLOKA 4.33 - Todos os objetos conhecidos no curso do sonho são ilusórios porque são percebidos no interior do corpo . Como é possível que aqueles objetos cuja existência percebemos , estejam realmente em Brahman , o qual é indivisível e homogêneo ?
SLOKA 4.34 - Não é possível que um sonhador saia de seu corpo para ir em busca da experiência de objetos oníricos , em razão da incompatibilidade de tempo e espaço que uma tal viajem comporta ; ademais , ao despertar o sonhador não se encontra na cena em que o sonho se desenrola .
SLOKA 4.35 - Ao despertar o sonhador se da conta da irrealidade das conversações que manteve em sonhos com seus amigos , etc . . . ademais , fica privado , no estado de vigília , das riquezas que possuía durante o estado de sonho .
SLOKA 4.36 - O corpo que se move no sonho é irreal , posto que o outro corpo ( o corpo grosseiro ) é diferente do anterior e percebido em seu lugar próprio , igual ocorre com a mente , pois todo objeto de cognição é irreal .
SLOKA 4.37 - Posto que a experiência ( de objetos ) no sonho é similar à experiência de objetos na vigília , se chega a pensar que as experiências vigílicas são causa das experiências oníricas . Por isso , o sonhador toma por reais as experiências vigílicas , que supõe ser a causa do sonho , mas nenhum outro participa desta crença .
SLOKA 4.38 - Todas estas experiências se comprovam como o não-nascido , posto que não se pode estabelecer como um fato a criação ou evolução . Em nenhum caso o irreal pode nascer do real .
SLOKA 4.39 - Profundamente impressionado pela aparente realidade dos objetos irreais que vê no estado de vigília , o próprio preceptor volta a ver os mesmos objetos em sonhos . Contrariamente , no estado de vigília o preceptor não vê novamente os objetos irreais que experimentou no curso do sonho .
SLOKA 4.40 - O irreal não pode ter o irreal por causa , nem o real pode ser produzido pelo irreal . O real não pode ser a causa do real , e o real , - o cúmulo da impossibilidade - , não pode ser a causa do irreal .
SLOKA 4.41 - Da mesma maneira que no estado de vigília , por consequência de um conhecimento errôneo é possível servir-se , como se fossem reais , dos objetos cuja natureza não pode ser descrita , assim , também , no estado de sonho , por consequência de um conhecimento errôneo , se percebem os objetos cuja existência somente é possível nesta condição .
SLOKA 4.42 - Os sábios só admitem a causalidade ante aqueles que espantados com a não-manifestação absoluta , se atêm à realidade aparente dos objetos externos , e por isto , pelas duas razões seguintes , eles percebem tais objetos e têm fé nas práticas religiosas .
SLOKA 4.43 - Aqueles que espantados de ouvir falar da verdade como não-manifestação absoluta e também porque percebem os objetos aparentes , rechaçam a teoria de Ajati , não são apenas afetados pelas funestas consequências que entranha a crença na causalidade ; para eles os maus efeitos são nulos e mais ou menos , insignificante .
SLOKA 4.44 - Da mesma maneira que um elefante que foi sugerido pela arte do mago , é considerado como existente desde o momento em que é percebido e que responde ao comportamento de um verdadeiro elefante , assim também , os objetos são considerados como existentes desde o momento em que são percebidos e que respondem às ações que exercemos sobre eles .

Capitulo III

O TIÇÃO ARDENTE : UM ESTUDO SOBRE A CONSCIÊNCIA .

SLOKA 4.45 - A consciência que parece tomar nascimento , ou mover-se , ou assumir a forma de objetos grosseiros é , em realidade , não-nascida , imutável e isenta de todo caráter grosseiro ; é toda serenidade e não tem segundo .
SLOKA 4.46 - A mente não está jamais sujeita ao nascimento nem à mudança e todos os seres estão isentos de nascimento . Quem quer que conheça esta verdade está livre para sempre da apreensão errônea .
SLOKA 4.47 - Um tição ardente que se move , parece traçar uma linha reta , ou quebrada , etc . . . , à consciência que se superpôs o movimento parece ser ora o preceptor , ora o percebido e assim sucessivamente .
SLOKA 4.48 - O tição ardente que se deixa de agitar está isento de toda aparência e permanece sem mudança ; a consciência que se deixa de agitar ( por atos imaginários ) , está isenta de toda aparência e permanece sem mudança .
SLOKA 4.49 -Quando o tição ardente é agitado , as aparências que se percebem nele não provêm de outra parte e quando está imóvel , as aparências não saem do tição ardente para ir a outra parte ; ademais , quando o tição não é agitado , as aparências não se reabsorvem no tição .
SLOKA 4.50 - As aparências não emanam do tição ardente porque não têm a natureza de uma substância ; isto mesmo ocorre na consciência , em um e outro caso , em razão da similaridade das aparências .
SLOKA 4.51 - Quando a consciência se associa à noção de atividade , como no sonho e na vigília , as aparências que são percebidas nela não provêm de outra parte ; quando a consciência está inativa , como no sono profundo , as aparências não saem da consciência inativa para ir a outra parte .
SLOKA 4.52 - Ademais , as aparências não entram na consciência nem saem dela , porque não têm a natureza de uma substância ; as aparências residem sempre mais além de nossa compreensão , posto que não estão sujeitas à relação de causa e efeito .
SLOKA 4.53 - Uma substância pode ser a causa de outra substância ; o que não é substância pode ser a causa de outra coisa que tampouco seja substância ; quanto aos seres animados ( Jiva ) , não podem ser algo comparável a uma substância nem nada distinto de uma substância .
SLOKA 4.54 - As aparências não são causadas pela mente , nem a mente é um produto das aparências , por isso , os homens de discriminação se aderem ao principio de não-evolução e negam a causalidade .
SLOKA 4.55 - Enquanto um homem persiste em crer na causalidade , vê exercer-se o jogo da causa e efeito , mas quando se desfaz o apego à causalidade , causa e efeito deixam de existir .
SLOKA 4.56 - Enquanto subsiste a fé na causalidade , a roda de nascimento e morte continua sem fim , mas quando esta fé é destruída pelo conhecimento , nascimento e morte cessam de existir .
SLOKA 4.57 - Apenas em razão da experiência ilusória , a qual é devida à ignorância , se vê nascer tudo isto , em consequência nada é permanente . Mas posto que tudo não faz mais que um com a última realidade , tudo é não-nascido , se segue que o que se chama destruição não existe .
SLOKA 4.58 - Destes Jiva ou seres viventes , se diz que são nascidos , mas desde o ponto de vista da realidade , tal nascimento não é possível ; o nascimento destes Jiva é semelhante ao de um objeto ilusório , nascimento que também é não existente .
SLOKA 4.59 - A planta ilusória não brota da semente ilusória ; esta planta ilusória não é permanente nem destrutível . Igual ocorre com os Jiva .
SLOKA 4.60 - Os epítetos de permanente ou impermanente não podem aplicar-se aos Jiva não-nascidos , porque não é possível distinguir o que as palavras são impotentes para descrever .
SLOKA 4.61 - Do mesmo modo que no sonho se vê a mente atuar por Maya e produzir assim a aparência da dualidade ; do mesmo modo que no estado de vigília se vê a mente atuar por Maya e produzir assim a aparência da dualidade .
SLOKA 4.62 - Seguramente , a mente que , de fato é sem segundo , aparece como múltipla no curso do sonho ; seguramente , a mente que de fato é sem segundo , aparece como múltipla no estado de vigília .
SLOKA 4.63 - Toda a diversidade dos Jiva nascidos de um ovo , da fermentação , etc . . . que vê sempre o sonhador quando caminha em estado onírico nas dez direções do espaço , carecem de existência independente da mente do sonhador .
SLOKA 4.64 - Os seres que são objetos para a mente do sonhador , não têm existência independente de tal mente ; de igual maneira , se admite que a mente do sonhador só é um objeto de percepção para o sonhador ( logo a mente do sonhador não é distinta do próprio sonhador ) .
SLOKA 4.65 - Toda a diversidade de Jiva , nascidos de um ovo , da fermentação , etc . . . que se vê sempre em vigília , quando o Jiva caminha durante a vigília em uma das dez direções , só é um objeto para a mente do desperto .
SLOKA 4.66 - Todos estes Jiva não são , em nenhuma circunstância , distintos da mente de vigília . De igual maneira se admite que a mente do desperto só é um objeto para a mente do desperto , logo , a mente do desperto não é distinta do desperto .
SLOKA 4.67 - A mente e o Jiva são objetos de percepção mútua e não se pode dizer que existam independentemente um do outro . Os dois estão igualmente desprovidos de sinais ou meios pelos quais se lhes possa distinguir , pois um só pode ser conhecido pelo outro .
SLOKA 4.68 - Da mesmo forma que o Jiva sonhado vem a ser e desaparece , assim todos os Jiva percebidos em vigília aparecem e desaparecem .
SLOKA 4.69 - Da mesma forma que o Jiva do mago vem a ser e se dissipa , assim todos os Jiva percebidos em vigília aparecem e desaparecem .
SLOKA 4.70 - Da mesma forma que o Jiva produzido por artificio vem a ser e se desvanece , assim todos os Jiva percebidos em vigília aparecem e desaparecem .
SLOKA 4.71 - Nenhum gênero de Jiva jamais nasceu , nem houve causa para tal nascimento . A última verdade é que nada absolutamente teve nascimento .

Capitulo IV

TEORIA DA NÃO-EVOLUÇÃO ABSOLUTA ( AJATA-VADA )
Primeira Parte . A Mente Não-Objetivada 

SLOKA 4.72 - Este mundo de dualidade que é percebido e que caracteriza a relação de sujeito e objeto é , em verdade , um produto da mente . Mas desde o ponto de vista da realidade esta mente não entra em contato com nenhum objeto , posto que a mente é da natureza do Atman ; portanto , se declara que a mente é eterna e incondicionada .
SLOKA 4.73 - O que apenas parece existir em virtude das experiências ilusórias , não têm existência , propriamente falando . Igualmente , o que só parece existir em virtude das opiniões professadas por outras escolas , não têm , existência , propriamente falando .
SLOKA 4.74 - Se disse que o Atman é não-nascido ( Aja ) desde o ponto de vista da experiência ilusória , mas em realidade , não é não-nascido . Este Atman não-nascido , só parece ser nascido desde o ponto de vista daqueles que abraçam a crença particular de outras escolas de pensamento .
SLOKA 4.75 - O homem persiste em crer na realidade do irreal , o qual é dualidade , mas a dualidade correspondente a esta crença não existe . Aquele que realiza a ausência de dualidade não renascerá jamais , posto que nenhuma causa subsiste que possa produzir tal nascimento .
SLOKA 4.76 - Quando a mente tiver deixado de encontrar uma causa do gênero que seja , superior , intermediaria , ou inferior , se livra de golpe do nascimento . Como poderia haver efeito sem causa ?
SLOKA 4.77 - A não-evolução , quer dizer , o estado de conhecimento , da mente não-nascida e isenta de toda relação causal , é constante e absoluta . Mas toda outra coisa é também não-nascida , porque a dualidade não é coisa mais que objetivação da mente .
SLOKA 4.78 - Depois de haver realizado a ausência de causalidade como a última verdade e posto que não se encontra outra causa , se acede a este estado de liberação , que é isento de sofrimento , de desejo e de medo .
SLOKA 4.79 - Apenas em razão de seu apego aos objetos irreais persegue a mente tais objetos , mas ela volta a seu estado de pureza quando deixa de sentir apego por esses objetos uma vez descoberta sua irrealidade .
SLOKA 4.80 - Quando a mente se libera do apego aos objetos exteriores e quando novos objetos exteriores já não a podem perturbar , acede ao estado de imutabilidade . Desde então , a mente que foi realizada pelo sábio como Brahman , é indiferenciada , sem nascimento e sem segundo .

Segunda Parte : O Estado de Brahman

SLOKA 4.81 - A realidade que está isenta de nascimento e livre do sono e de sonhos , se revela por si mesma , porque este Dharma , quer dizer , o Atman , é , por sua própria natureza , sempre resplandecente .
SLOKA 4.82 - Se a felicidade , a essência do ser , permanece sempre obnubilada e o sofrimento sai à superfície , é porque a mente só apreende simples objetos , mas o senhor é sempre resplandecente .
SLOKA 4.83 - As mentes pueris recobrem verdadeiramente o Atman , quer dizer , fracassam em sua empresa , porque lhe assinalam atributos tais como existência , não-existência , existência e não-existência , ou não existência absoluta . Mas todos estes atributos proveêm unicamente dos preconceitos particulares relativos à mudanças , à imutabilidade , ao conjunto de mudanças e imutabilidade e à negação absoluta .
SLOKA 4.84 - Eis aqui quatro teorias relativas a natureza do Atman que se oferecem a nossa escolha .
O Atman se oculta ao nosso olhar segundo nosso apego a cada uma delas . Naquele que teve por experiência que o Atman não se vê jamais afetado por estas superposições , a totalidade se revela .
SLOKA 4.85 - O que poderia desejar ainda quem alcançou o estado de Brahmana , esse estado de completa consciência , de não dualidade , esse estado que não tem começo , nem meio , nem fim .
SLOKA 4.86 - Esta realização de Brahman confere aos Brahmana uma humildade absolutamente natural , os sábios declaram , ademais , que esta tranquilidade é expontanea ; se diz que os Brahmana conquistaram o domínio de seus sentidos , de maneira natural . Aquele que por este método realiza Brahman , o qual é serenidade infinita , é a mesma serenidade inalterável .
ANEXO
UM BREVE TRATADO COMPLEMENTAR
Primeira Parte
Outro Processo Vedântico de Realização
SLOKA 4.87 - O Vedanta reconhece o estado ordinário , empírico , de vigília no qual se percebe a dualidade , que consiste em objetos e na ideia de entrar em contato com esses objetos . Se reconhece , ademais , outro estado mais sutil , o de sono com sonhos , comum a todos os seres , no qual se experimenta a dualidade , que consiste unicamente na ideia de entrar em contato com os objetos , ainda que tais objetos não existam .
SLOKA 4.88 - Há ainda outro estado ( reconhecido pelos sábios ) , no qual não há contato com nenhum objeto e que está inteiramente isento da ideia de entrar em contato com os objetos . Este estado se situa mais além do domínio empírico . Os sábios descrevem sempre o temário ; conhecimento , conhecimento de objetos e cognoscível como suprema realidade .
SLOKA 4.89 - Uma vez que o conhecedor , dotado do intelecto mais elevado , adquiriu o conhecimento e alcança , um após o outro , os três objetos cognoscível , acede espontaneamente , nesta mesma vida ao estado de conhecimento em todo instante e respeito a toda coisa .

Segunda Parte
A REALIZAÇÃO DE BRAHMAN
SLOKA 4.90 - Eis aqui os quatro objetos que devem ser distintos antes de tudo , as coisas que devem ser evitadas ( Heya ) , o objeto que deve ser realizado ( Jneya ) , as coisas que devem ser adquiridas e os pensamentos que devem ser excluídos ( Pakyani ) , destes quatro objetos , um deve ser realizado , - a Suprema Realidade - , os três restantes somente tem uma existência imaginaria .
SLOKA 4.91 - Todos os Dharmas são , por sua própria natureza , sem origem e incondicionados como o Akasha ; não há entre eles a mais ligeira diferença de qualquer gênero e em qualquer tempo que seja .
SLOKA 4.92 - Todos os Jiva são , por sua própria natureza , resplandecentes desde sua origem e em sua essência ; sempre imutáveis . Aqueles que uma vez tenham adquirido esta primeira noção , se abstêm de buscar mais longe o conhecimento , são os únicos capazes de realizar a mais alta verdade .
SLOKA 4.93 - Todos os Dharmas ou Jivas são , desde sua origem e por sua própria natureza , serenidade total , não-nascidos e absolutamente livres . Se caracterizam pela identidade , não diferem entre si .
Os Jivas são os Atman não-nascidos e estabelecidos sempre na identidade e na própria pureza .
SLOKA 4.94 - Aquele que se compraz no estado de separação , não poderá jamais realizar a pureza inata do ser ; aqueles que se submergem na noção de separação e que sustentam a separatividade dos Jiva , merecem ser qualificados de intelecto estreito .
SLOKA 4.95 - Apenas terão adquirido a mais alta sabedoria , aqueles que permanecem inquebrantáveis em sua convicção a respeito do ser , ao ser não-nascido e sempre idêntico a si mesmo , mas tal atitude não sabe compreendê-la os comuns dos mortais .
SLOKA 4.96 - Os sábios admitem que o conhecimento ( a Consciência ) , a essência dos Jiva não-nascidos , é também não-nascido e desprovido de toda relação com qualquer objeto . Eles proclamam que este conhecimento é absolutamente incondicionado , posto que não tem relação com nenhum outro objeto .
SLOKA 4.97 - Se o ignorante conserva em si mesmo a mais débil noção de diversidade a respeito do Atman , o caminho para o incondicionado está cortado . É inútil sonhar com destruir o véu que oculta a verdadeira natureza do Atman .
SLOKA 4.98 - Todos os Dharmas , ou Jiva , estão sempre isentos de escravidão ; são puros por natureza própria , sempre resplandecentes e emancipados desde sua origem ; não obstante , os sábios falam dos Jiva como se fossem capazes de conhecer a última verdade .
SLOKA 4.99 - O conhecimento do sábio , o que é luz total , não está em nenhum caso condicionado pelos objetos . Todas as entidades , tal como o conhecimento , posto que não diferem em nada , não são em nenhum caso condicionadas por um objeto . Esta não é a opinião do Buddha .
SLOKA 4.100 - Depois de haver realizado esta condição ( o Conhecimento da Suprema Realidade ) que não se pode usufruir sem o preço de grandes esforços , que é profundo , não-nascido , sempre imutável , luz total e isento de dualidade , nós o saudamos o melhor que pudermos .

SAUDAÇÃO FINAL 

1- Me prosterno diante deste Brahman , destruidor de todo medo naqueles que se socorrem refugiando-se n'Ele .
Este Brahman , que ainda que não-nascido parece associar-se ao nascimento por seu inescrutável e indescritível poder de conhecimento e de atividade .
Este Brahman que , ainda que eternamente em repouso , parece mover-se e que ainda sem segundo , parece assumir multiplicidade de formas , segundo aqueles cuja visão ainda dominada pela percepção de inumeráveis objetos e de seus atributos respectivos .
2- Me prosterno aos pés deste grande instrutor , o mais adorado entre os adoráveis , aquele que por pura compaixão com os seres que se afogam no oceano deste mundo , ( o oceano profundo cheio de temíveis bestas ; os nascimentos e as mortes incessantemente renovadas ) , trouxe , para beneficio de todos os homens , este precioso néctar que os próprios deuses só podem alcançar com grande esforço . Os trouxe dos abismos mais profundos do oceano dos Veda , baralhando-os com a varinha de sua razão iluminada .
3- Com todo o meu ser rendo homenagem aos pés sagrados , estes pés que dissipam o temor aos nascimentos e mortes alternados .
Aos pés de meu grande Instrutor que com a luz de sua razão iluminada , destruiu as espessas trevas da ilusão em que minha mente estava envolta .
Que destruiu para sempre para mim o sortilégio que me fazia aparecer e desaparecer interminavelmente neste terrível oceano em que cada onda é um nascimento e uma morte .
E que enfim , derramando a Sua graça sobre os demais aspirantes que se refugiam à seus pés , lhes conduzirá até o Conhecimento infalível das escrituras , até a inalterável serenidade , até o estado de não-diferenciação absoluta .
OM ! Shanti ! Shanti ! Shanti !
Fonte : http://www.lojajinarajadasa.com/7.1.f.html
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