sábado, 20 de abril de 2013

" A Consciência Sem Fronteiras "

" A mente , tal qual a conhecemos , se resolve em uma série de estados de consciência cuja duração , intensidade , complexidade e demais atributos são variáveis , baseando-se todos , em última análise , na sensação ( que é Maya ) . A sensação implica necessariamente limitação . " ( Helena P. Blavatsky )
Uma das atividades que iniciamos durante os encontros do Grupo de Estudos de Psicologia Transpessoal é a análise de textos ou livros dedicados a este tema . A primeira destas análises envolveu a leitura do livro " A consciência sem fronteiras " , de Ken Wilber , do qual faço uma breve análise a seguir .
O maior mérito do livro , no meu entender , foi a forma de apresentação que o autor elaborou para os tópicos apresentados nos capítulos que tratam sobre os diversos níveis de consciência que fazem parte da nossa estrutura psíquica .
Para tal , fez uma introdução das bases filosóficas que , no seu entender , embasavam o que chamou de " limites " . Esses limites foram apresentados como o principal agente causador do sofrimento e das limitações pessoais ao desenvolvimento integral do Ser ( Self ) .
Através de exemplos e metáforas concisas , o autor consegue levar o leitor à percepção da impropriedade das concepções , principalmente ocidentais , relativas ao tempo e ao espaço lineares e como esta visão possibilita uma cisão entre os vários níveis de consciência , criando os limites .
Nos capítulos destinados ao que eu , particularmente , chamaria de anatomia da psique , o autor apresenta , de forma clara e amplamente acessível , as idiossincrasias essenciais de cada estado de consciência . Aborda isso de forma dialética , isto é , apresenta sempre o aspecto " positivo " e o " negativo " , p. ex. , a persona e a sombra , a dicotomia entre mente e corpo no ego fortalecido , etc . . . 
O autor deixa transparecer , no final do livro , sua orientação tipicamente oriental . Na realidade , durante todo o livro , ele prepara o leitor para um beco aparentemente sem saída , pois incita ao mesmo que persevere em práticas que unifiquem os aspectos dicotômicos de seu ser psicológico , mas , no final , sentencia que , na realidade , após todo este esforço , nada há que precise ser feito . Para ele , o fato de , em algum momento , percebermos que não somos o que observamos , já abre as portas da libertação . A partir do momento que desconstruímos nossos limites , derrubamos a parede . E , na verdade , nada há para ser feito , apenas ser uma testemunha das interações entre os opostos dentro de nós . Não existe batalha , não existe vencer , não existe perder , nem mesmo existe aquele que luta . Se lutamos é porque , de alguma forma , ainda estamos presos às aparências de algum nível de nossa psique , a saber : a persona , o ego , o centauro , o transpessoal .
Na unidade não há divisões ( redundância ! ) . Enquanto nos identificarmos com aquele que observa , ou com aquele que é observado , não estaremos unos , não seremos um " holos " . É claro que não existe uma palavrinha mágica para fazer com que nos iluminemos , tipo " abracadabra " . A vida é um processo e , como tal , acredito que há estágios a passar e foi assim que percebi os níveis abordados no livro . Porém , apesar de serem estágios , não possuem uma rigidez cronológica , tipo primeiro passarei pelo nível de persona , depois de ego , etc . . . Se assim fosse , ficaríamos ansiosos por " ultrapassar " os estágios e por conquistar o " prêmio " de chegar ao próximo nível .
Isso só causaria a continuidade da nossa ilusão . Todos os níveis são interpenetrantes e funcionam mais como o que Fritjof Capra chamaria de " teia " , ou rede . A diferença que ocorre , quando se integralizam os opostos , é que conscientizamos todos os níveis e transitamos livremente por todos eles .
Continuamos sofrendo , enquanto sombra ; continuamos orgulhosos , enquanto ego ; e continuamos a sorrir e a festejar a vida ; porém , estes estados assumem sua verdadeira dimensão , seus verdadeiros valores . Eles se tornam passagens em nossas consciências e não fardos aos quais nos agarramos , receosos de perdê-los , no caso da felicidade ; ou de vivê-los , no caso do sofrimento .
Não sei quanto aos demais participantes desse grupo de estudos , mas quando percebi o que ele quis dizer no livro , fiquei apreensivo . Porquê , mesmo que eu negue tudo e aja como se não precisasse fazer nada , ainda assim estou fazendo alguma coisa ! A palestra sobre Filosofia Oriental do Sr. Julio Jacobi , instrutor de Tai Tchi Tchuan , assistida por nosso grupo de estudos , ilustra muito bem essa filosofia zazen . Quando alguma coisa se manifesta , o oposto também se manifesta instantaneamente - Yin/Yang . Sendo assim , qualquer força produzirá uma força igual em sentido contrário ( Newton ! )
Mas , no final das contas , devemos apenas ser . . .
Ser o quê ?
A partir do momento que você é " alguma coisa " , você é também o oposto dela .
Então , sejamos . . . o tudo e o nada . . . 
Texto : Ronei Baldissera.   

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