sexta-feira, 18 de junho de 2010

" As Injunções "

Em resumo , todas as formas válidas de conhecimento têm uma injunção , uma iluminação e uma confirmação ; e isso é verdade tanto se estamos olhando para as luas de Júpiter , para o teorema de Pitágoras , para o significado de Hamlet ou ... para a natureza do Absoluto .
E enquanto as luas de Júpiter podem ser desvendadas pelo olho da carne ( pelos sentidos ou suas extensões - sensibilia ) , e o teorema de Pitágoras pode ser desvendado pelo olho da mente e suas apreensões interiores ( intelligibilia ) , a natureza do absoluto só pode ser desvendada pelo olho da contemplação e seus referentes diretamente desvendados - sua trancendelia , seus dados espirituais , os fatos reais do universo espiritual .
Mas para ganhar acesso a qualquer um desses modos válidos de saber , devo estar adequado a injunção - devo completar com sucesso a etapa injuntiva . Isso é verdade nas ciências físicas , nas ciências mentais e nas ciências espirituais . Se queremos saber isso , devemos fazer isso . E se o exemplar nas ciências físicas é um telescópio , e nas ciências humanas uma interpretação linguística , nas ciências espirituais o exemplar , o paradigma , a pratica é : meditação ou contemplação . Elas também tem suas injunções , suas iluminações e suas confirmações , todas perfeitamente repetíveis , verificáveis ou refutáveis . - todas constituindo , portanto , um modo perfeitamente válido de aquisição de conhecimento .
Em todos os casos , porém , temos de usar a injunção . Temos de adotar a prática exemplaria , e isso certamente é verdade também para com as ciências espirituais . Se não adotarmos a prática injuntiva , não teremos um paradigma genuíno , e nunca vamos chegar a ver os dados do universo espiritual . Na verdade , não seremos diferentes dos sacerdotes que se recusaram a seguir a injunção de Galileu e dar uma espiada pelo telescópio .
E é aqui que começa o beco sem saída .

O Olho da Comtemplação

Nas páginas seguintes , vou apresentar meu argumento de que não se pode resolver o problema do absoluto/relativo utilizando o olho da carne , ou o olho da mente . Esse mais profundo de todos os problemas e mistérios submete sua resolução diretamente apenas ao olho da contemplação . E , como tanto Kant quanto Nagarjuna demonstraram com veemência , se tentarmos colocar essa solução em termos intelectuais ou racionais , vamos gerar apenas antinômios , paradoxos , contradição .
Em outras palavras , não se pode resolver o problema do absoluto/relativo empiricamente usando o olho da carne e sua sensibilia : nem se pode resolve-lo racionalmente , usando o olho da mente e sua inteligibilia . A solução , em vez disso , implica a apreensão direta da trancendelia , que é desvendada apenas pelo olho da contemplação , e é completamente verificável nessa esfera , usando o que na verdade , são procedimentos bastantes públicos - isto é , públicos para todos os que completaram a injunção e desvendaram a iluminação .
E o mesmo acontece , de novo , com o destino e o livre-arbítrio , o uno e o múltiplo , número e fenômeno , mente e cérebro . Eye to Eye argumenta que apenas nos estágios mais altos do desenvolvimento da consciência - parte essencial do desenvolvimento meditativo ou contemplativo - soluções para esses dilemas ficam òbvias . Mas isso é uma descoberta empírica , nem uma dedução racional ; é uma apreensão contemplativa .
As típicas respostas ocidentais à questão de qual é a relação entre mente e corpo - ou entre mente e cérebro - , incluem a tese da identidade ( são dois aspectos da mesma coisa ) , o dualismo ( são duas coisas diferentes ) , o interacionismo ( são diferentes mas mutuamente causais ) , o paralelismo ( duas coisas diferentes que nunca se comunicam ) , epifenomenalismo ( uma é subproduto da outra ) . E a despeito do que seus adeptos afirmam , nenhuma dessas posições conseguiu levar a melhor , simplesmente porque todas elas , todas , estão cheias de imperfeições de algum tipo .
A razão pela qual todas elas são inadequadas , segundo uma filosofia mais integral , seria que o problema mente/corpo não pode ser resolvido satisfatoriamente com o olho da carne nem com o olho da mente , já que esses são exatamente os dois modos que precisam ser integrados , algo que nenhuma delas poderia fazer por si mesma .
Desse modo , a única resposta aceitável à questão de qual é a relação entre a mente e o corpo é explicar com cuidado as injunções contemplativas em si - as práticas ou paradigmas ou exemplares contemplativos - e convidar os questionadores a experimentar a prática , e ver por si mesmos . Se você quer conhecer isto , precisa fazer isso . Ainda que nem o empirista nem o racionalista considerem essa resposta satisfatória - eles gostariam de usar somente seus próprios paradigmas e exemplares - ainda assim essa é a única resposta e o único curso de ação tecnicamente aceitáveis .
Tanto o racionalista quanto o empirista nos pressionam : eles querem que apresentemos nossas conclusões contemplativas e deixemos que eles a examinem contra suas próprias injunções . Isto é , eles querem nossas palavras despidas e divorciadas de suas próprias injunções reais e específicas . Eles querem tentar seguir nossas palavras sem a dor de seguir nossos exemplares . Assim , devemos lembra-los de que ; palavras sem injunções não tem sentido . Palavras sem injunções não tem nenhum meio de verificação . Palavras sem injunções são a substância da demagogia , do dogma e das fraudes . Nossas palavras e nossas conclusões realmente podem ser cuidadosamente justificadas - verificadas ou rejeitadas - , mas apenas se as injunções forem empregadas .
Desse modo , então , quando os empiristas e os racionalistas exigem nossas conclusões sem as injunções , é fatal que recebam uma resposta sem sentido - e eles nos culpam por essa falta de sentido ! Nossos dados não podem ser engendrados pelos seus paradigmas e exemplares particulares , e eles então ficam quebrando a cabeça . Eles não farão isso , e portanto não saberão isso . Ficam girando na órbita de sua cegueira auto-imposta , e chamam essa cegueira de realidade .
Texto : Ken Wilber
( do livro : Olho do Espírito - pag. 84 , 85 , 86 )
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