sexta-feira, 3 de junho de 2011

" Músicas que tem o poder de curar "


Células tumorais expostas à " Quinta Sinfonia " , de Beethoven , perderam tamanho ou morreram .

Mesmo quem não costuma escutar músicas clássicas já ouviu , numerosas vezes , o primeiro movimento da " Quinta Sinfonia " de Ludwig van Beethoven .
O " pam-pam-pam-pam " que abre uma das mais famosas composições da História .
Descobriu-se , agora , que ela seria capaz de matar células tumorais - em testes de laboratório . Uma pesquisa do Programa de Oncobiologia da UFRJ expôs uma cultura de células MCF-7 , ligadas ao câncer de mama , a meia hora da obra . Uma em cada cinco delas morreu , numa experiência que abre uma nova frente contra a doença , por meio de timbres e frequências .
A estratégia , que parece estranha à primeira vista , busca encontrar formas mais eficientes e menos tóxicas de combater o câncer : em vez de radioterapia , um dia seria possível pensar no uso de frequências sonoras . O estudo inovou ao usar a musicoterapia fora do tratamento de distúrbios emocionais .
- Esta terapia costuma ser adotada em doenças ligadas a problemas psicológicos , situações que envolvam um componente emocional . Mostramos que , além disso , a música produz um efeito direto sobre as células do nosso organismo - ressalta Márcia Capella , do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho , coordenadora do estudo .
Como as MCF-7 duplicam-se a cada 30 horas , Márcia esperou dois dias entre a sessão musical e o teste dos seus efeitos . Neste prazo , 20% da amostragem morreu . Entre as células sobriviventes , muitas perderam tamanho e granulosidade .
O resultado da pesquisa é enigmático até mesmo para Márcia . A composição " Atmosphéres " , do húngaro Gyorgy Ligeti , provocou efeitos semelhantes àqueles registrados com Beethoven . Mas a " Sonata para 2 pianos em ré maior " , de Wolfgang Amadeus Mozart , uma das mais populares em musicoterapia , não teve efeito .
- Foi estranho , porque esta sonata provoca algo conhecido como o " efeito Mozart " , um aumento temporário do raciocínio espaço-temporal - pondera a pesquisadora . - Mas ficamos felizes com o resultado . Acreditávamos que as sinfonias provocariam apenas alterações metabólicas , não a morte de células cancerígenas .
" Atmosphéres " , diferentemente da " Quinta Sinfonia " , é uma composição contemporânea , caracterizada pela ausência de uma linha melódica . Por que , então , duas músicas tão diferentes provocaram o mesmo efeito ?
Aliada a uma equipe que inclui um professor da Escola de Música Villa-Lobos , Márcia procura agora esta resposta , dividindo as músicas em partes . Pode ser que o efeito tenha vindo não do conjunto da obra , mas especificamente de um ritmo , um timbre ou intensidade .
Quando conseguir identificar o que matou as células , o passo seguinte será a construção de uma sequência sonora especial para o tratamento de tumores . O caminho até esta melodia passará por outros gêneros musicais . A partir do mês que vem , os pesquisadores testarão o efeito do samba e do funk sobre as células tumorais .
- Ainda não sabemos que música e qual compositor vamos usar . A quantidade de combinações sonoras que podemos estudar é imensa - diz a pesquisadora .
Outra via de pesquisa é investigar se as sintonias provocaram outro tipo de efeito no organismo . Por enquanto , apenas células renais e tumorais foram expostas à música . Só no segundo grupo foi registrada alguma alteração .
A pesquisa também possibilitou uma conclusão alheia às culturas de células . Como ficou provado que o efeito das músicas extrapola o componente emocional , é possível que haja uma diferença entre ouví-la com som ambiente ou fone de ouvido .
- Os resultados parciais sugerem que , com o fone de ouvido , estamos nos beneficiando dos efeitos emocionais e desprezando as consequências diretas , como estas observadas com o experimento - revela Márcia .
Texto : O Globo - Renato Grandelle
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