As aves repousam numa árvore ,
Assim também privei com estranhos ,
Em minha longa viagem
Por muitas terras .
De cada feixe de trigo
Tirei uma espiga .
De cada dia ,
Tirei algum proveito .
Da árvore pejada de frutos ,
Colhi um fruto maduro .
Mais velozes que a lançadeira do tecelão
São os meus dias .
* * *
Como , através de estreita janela ,
Contemplamos uma única folha verde , uma nesga do vasto céu azul ,
Assim também comecei a Te perceber , no começo de todas as coisas ,
E , como a folha se descolorou e murchou ,
E de escura nuvem a nesga de céu se encobriu ,
Assim também Tu esmaeceste e desapareceste ,
Para renascer outra vez ,
Como aquela folha verde e a nesga de céu azul .
Por muitas vidas vi passar o frígido inverno e a verde primavera .
Aprisionado em minha pequena alcova ,
Eu não via a árvore inteira e todo o céu ,
E jurava que não existia a árvore nem o vasto céu
Para mim , era aquela a Verdade .
Com a ação destruidora do tempo ,
Minha janela cresceu .
E contemplei então
Um ramo com muitas folhas
E uma vasta expansão do céu , com muitas nuvens ,
Esqueci a folha verde solitária e aquela nesga da imensidão azul .
Jurava que não existia a árvore , nem o céu imenso
Para mim , era aquela a Verdade .
Cansado da prisão ,
Da estreita cela ,
Revoltei-me contra minha janela ,
Com os dedos a sangrar ,
Arranquei tijolo após tijolo ,
E contemplei então
A árvore inteira , seu tronco majestoso ,
Seus ramos numerosos , suas miríades de folhas ,
E uma imensa parte do céu .
Jurava que não existia outra árvore , nem outra parte do céu
Era aquela a Verdade .
Aquela prisão já me não retém ,
Sai a voar , através da janela ,
Ó amigo ,
Agora contemplo todas as árvores e a vastidão do céu sem limites .
E embora eu viva em cada folha e em cada nesga do vasto céu azul ,
Embora eu viva em cada prisão , a espreitar por estreitas frestas ,
Sou livre .
Não ! Nada mais me prenderá
Esta é a Verdade .
Texto : Krishnamurti
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